“Eu autorizo!” É o que eu diria para a página de “termos e condições” de um novo aplicativo ou site, que insiste em perguntar se “eu autorizo que usem a minha localização, rastreiem minha conduta, tenham acesso irrestrito a minha conta bancária para analisar minha movimentação.” Sem ler ou nem mesmo passar os olhos, diria com uma pressa de quem anseia pela descoberta: sim, eu autorizo!
Mas ao brado retumbante ouvido às Margens do Lago Paranoá, de um povo covarde, banhados pelo sol da desigualdade em raios pela-hora-da-morte no céu da pátria nesse instante, em uma sexta-feira em plena-pandemia, não, eu não autorizo!
Seria uma paranoia minha? Deixar que grandes empresas de tecnologia lidem com os meus dados, mas não querer que meus vizinhos me digam o que fazer, ou – pior – deem a uma representação daquilo que não se deve ser o poder de fazer o que quiser comigo?
As perdas das liberdades individuais impostas pelo vírus tiraram o ímpeto que necessita a luta pelas liberdades individuais impostas por outras coisas. Tanto que, hoje, a filha foge à luta. E fugirá amanhã, pois já está combinado com aqueles que temem a própria morte: mês que vem, sem falta, abriremos uma poupança para o coiote.
Quando o Lago Paranoá secar, nos encontraremos no deserto.
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