Durante o período principal da minha infância, morei em um apartamento do primeiro andar. Lá, tinha uma varanda. No seu canteiro, minha mãe plantava flores: azaléias, buganvílias, beijinhos, manacás. Nas jardineiras laterais, mais altas, gerânios e espadas de São Jorge.
Era o lugar onde minha irmã e eu brincávamos. Balançávamos na rede, soltávamos bolhas de sabão, fazíamos pinturas, modelávamos argila. Era onde se passavam nossas festas de aniversário e onde tínhamos acesso à chuva e ao céu.
Ao lado do nosso prédio, havia uma casa. E essa casa era cheia de gatos. Muitas vezes, ao irmos lá fora para brincar, víamos um ou mais vultos acinzentados saltarem de volta para o telhado. Para nós, deixavam seu legado: montes de fezes pelo jardim. Aquilo trazia o maior desgosto. Mamãe ficava uma fúria!
Papai mandou construir um muro mais alto entre a casa e a varanda. De nada adiantou. Os gatos agora usavam as jardineiras laterais. Mamãe mandou colocar cacos de vidro no beiral. Não adiantou também. Foram então conversar com o vizinho. Pouco interessado, ele “não podia fazer nada”. Revoltada com suas lindas plantas devassadas pelos animais, mamãe disse em voz alta: “Um dia, vou matar esses gatos!”.
Semanas depois, apareceu um gato morto no telhado. E mamãe recebeu uma intimação. Deveria ir à polícia prestar esclarecimentos. Alguém da casa ao lado tinha ouvido sua ameaça e ela se tornou a principal suspeita.
No dia do depoimento, lembro que ela usou uma camisa branca. E demorou muito a voltar. Por fim, foi liberada. Não havia provas. Ela se dizia inocente.
Até hoje não sei exatamente o que houve…
Ela conta que o delegado compreendeu seu lado. Que disse: “Ameaçar não é fazer. Todo dia digo que vou matar minha sogra e ela está aí, vivinha até hoje.” . Apesar da piada de mau gosto, de rompante em rompante, salvaram-se todos. Menos o finado gato e as plantas de mamãe, que continuaram servindo como um banheiro florido até nos mudarmos de lá.
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