Sandra Belchiolina
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Escrevo da terra “onde o tempo não tem pressa e a preguiça é mais gostosa”. Sim, de Cumuruxatiba, Sul da Bahia! Esse lugar de Jorge Amado, Dorival Caymmi, João Gilberto, Raul Seixas, Bethânia, Caetano Veloso, Olodum, Ivete Sangalo e assim vai… Terra do sol, das belas praias de águas quentes. Aqui, ao Sul do Estado, berçário das baleias. Elas estão em nossa costa e principalmente nos meses de setembro e outubro, aparecem para terem seus filhotes.
É nesse cenário de paz, em isolamento social mas integrada à natureza e com qualidade de vida, que me encontro no momento.
Aqui, onde o Atlântico dá seu espetáculo recriando a cada dia uma praia diferente devido às marés. Nosso ritmo é: maré alta e maré baixa. Ele que lava a areia todos os dias e também nos presenteia com conchinhas e algas marinhas. É um mar de muita diversidade e não é por acaso que as baleias também buscam por essas águas mais quentes e alimento para seus filhotes, pois o plâncton marinho é muito rico também.
Aqui acordo com o barulho do motor dos barcos de pescadores e dos passarinhos. No telhado de minha casa tem uma ninhada, não consegui vê-la, mas aprecio os piados toda manhã. E assim que o sol sai, eles se alvoroçam. É um despertar delicioso. Juntando a isso, da janela do meu quarto, quando levanto ao alvorecer, vejo o sol ainda beijando o mar – dias de luz.
As águas de Curumu – como a vila é carinhosamente chamada, fazem parte da Reserva Extrativista de Corumbau e a pesca por aqui é somente artesanal. Os barquinhos pesqueiros compõem o cenário bucólico. Ora estão no balanço das ondas ora soterrados na areia devido à maré baixa. Há, também, generosas castanheiras que contornam toda orla e fazem um cinturão verde na paisagem contrapondo com falésias e com suas terras multicoloridas. A brisa é sempre presente.
Nas minhas caminhadas pela praia há uma presença constante: os passarinhos que correm com os pezinhos frenéticos e picando a areia em busca de alimento. Será que são os maçaricos? Hoje havia um deles dando seus saltitos somente numa perna, num esforço tremendo para jogar seu frágil corpinho para frente e amparar-se, mas estava adaptado e bem.
Nesta pequena vila consigo atender meus pacientes on-line e manter meus seminários de estudo no Fórum do Campo Lacaniano de Belo Horizonte. O aconchego da família e de amigos distantes se presentifica por esse recurso. Comunicação essa, recomendada para os que têm juízo e gostam da vida.
Quando li hoje numa postagem de Mia Couto: “E, no sossego da paisagem, nenhuma coisa pedia urgência” – o dizer entrou como uma luva em todo meu querer.
De Cumuru fica meu desejo de saúde e paz para meus leitores e os seus. E com certeza, também, para toda humanidade.
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