A parte positiva do medo

Tais Civitarese

O medo é um sentimento rechaçado nos dias de hoje. É praticamente um sinônimo de fraqueza, covardia, hesitação. O que se exalta em nossos tempos é a coragem, a fibra, a ousadia. Gostamos dos sinais de força e até deliramos quando evoluem para o riso ou o deboche.

No entanto, o medo tem um outro lado. Um lado relacionado ao respeito. De vez em quando, ter medo é não subestimar o acaso. É uma forma de demonstrar humildade diante da vida. De saber que algo pode dar errado. E que pode, sim, acontecer conosco. 

No início, foi “bonito” dizer que tudo não passava de exagero. Que a pandemia era um circo, uma armação da mídia. Aí, vieram as rasteiras da realidade. E quem tem um pouco mais de percepção, caiu em si a tempo.

Ainda há muita gente destemida hoje em dia. Que acha que nada vai acontecer.  Que duvida do vírus, da máscara, da vacina. Que se faz de valente, até que alguém próximo ou ele mesmo acabe em maus lençóis (timbrados) na UTI. Nesses casos, o aprendizado chega da pior maneira. Não é necessário dizer que não vale a pena.

Não custa ser medroso. Ter medo não é ficar imóvel. É agir com consciência. Com respeito por aquela parte da realidade que não controlamos, sob a qual não temos nenhuma ascendência. É dar o benefício da dúvida. Não dar chance para o azar. Há momentos em que é preciso se valer do medo como um recurso de proteção. Usá-lo a nosso favor em direção à precaução e à preservação da vida.

Nos tempos de hoje, poucas medidas já servem. Usar a máscara, evitar aglomeração, tomar vacina quando chegar a sua vez. Incentivar a vacinação de quem está à frente na fila.

Não custa ser precavido. Ainda que todos que você conheça tenham tido a doença e somente sintomas leves. Ainda que você não acredite em lockdown, em intubação, ou até na própria medicina.  Não custa duvidar de suas próprias ideias – ao menos uma vez na vida – admitindo-se que, eventualmente, pode-se sim estar errado. Não custa aceitar uma possibilidade para além daquela que enxergamos. E se esta tiver potencial de colocar a vida em risco – a qual, no caso, é uma só – custa ainda menos.

De vez em quando, ter medo é ser humilde. É demonstrar respeito pelo incerto. Fica o exemplo de um valentão que de nada nos valeu, deu mau exemplo e atrasou tanto a compra das vacinas. A única força ali manifesta foi a da intransigência e a da ignorância. Medo nem sempre é ruim. Força nem sempre é bom.

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