Tais Civitarese
Todo mundo que eu conheço tem um coração partido. Ninguém passou ileso.
Às vezes, a situação é tão séria que a ferida se faz ver no semblante. Está sempre carrancudo. Noutras, o peso das partes quebradas emudece e embarga as palavras.
Há quem tenha a dor muito viva e só saiba falar de si.
E tem aqueles que a tamponam com um mundo todo enfeitado e fingem não ver que ela está lá. Ou a cobrem com uma lista infinita de compromissos a cumprir.
Uns se isolam. Alguns enlouquecem.
O que sei é que esse fio que nos liga pode ser detectado em qualquer um. Basta conversar. E não se trata necessariamente de uma comunidade por decepções de amor. O coração pode se quebrar por tantos motivos. Sonhos não realizados. A morte prematura de alguém. Um grande susto que se viveu. O medo excessivo.
Ultimamente, vinha sentindo uma raiva muito estranha. Raiva de quem julgo estar errado. Imediatamente, lhes sentenciava uma condenação mental direto para o último dos infernos.
Aí, me lembrei de uma palavra que tenho escrita num quadro. Quadro esse com o qual me acostumei e, por isso, parei de enxergar. Nele, está escrito “compaixão”.
Há quanto tempo não a exerço.
Creio que não há outro meio de sobreviver sem sofrer muito. Se formos muito duros com os outros, seremos duros também com a gente mesmo.
Dureza demais não dá trégua. E quem, nesse momento, não precisa de um respiro?
Se entendemos que todo mundo está machucado, fica mais fácil tolerarmos uns aos outros.
Dentro de nossas carnes tem sangue. Não duvidemos disso. Ao invés de sangrarmos mais, que sejamos hospitaleiros.