Daniela Piroli Cabral
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“A caminhada faz você redescobrir com felicidade o elementar da condição humana.” (LeBreton).
Quem me conhece sabe o quanto gosto de caminhar. Já até escrevi sobre “A liberdade de não ter”, falando da minha opção de viver sem carro e experimentar as cenas da cidade a pé. Neste mês, completo 3 anos sem ter automóvel próprio e me considero totalmente adaptada a este estilo de vida. Digo estilo de vida porque é isso que andar a pé tem se tornado.
Mas hoje não vou falar das minhas andanças urbanas, quero contar sobre meu hobby (que está quase virando uma “nova” carreira) que são as caminhadas na natureza, o famoso “trekking” ou “hikking”, para ser mais precisa.
Muita gente não sabe, mas os termos “trekking” e “hikking” são estrangeirismos importados para dizer das modalidades de caminhada na natureza que, apesar de serem usados como sinônimos, se diferem um pouco.
Na prática, hikking é uma caminhada considerada “bate e volta”, de no máximo um dia, que não inclui pernoite nem exige uma mochila cargueira, apenas uma pequena bolsa de “ataque”, com água, lanches e algum outro item. Já o trekking é uma caminhada de duração maior, que inclui pernoite em barracas ou abrigos e exige o transporte de equipamentos para tal finalidade – barraca, fogareiro, mochila, entre outros.
Desde 2016 tenho praticado tanto hikking quanto trekking de forma regular. Já pisei em vários terrenos: terra batida, cascalho, pedras, areia, água. Descobri a diferença entre andar sobre as dunas “velhas”, compactas, duras, estáveis, e sobre as dunas “novas”, recém-formadas pela ação do vento constante. As dunas novas são “fofas” e quando pisadas engolem nossos tornozelos e joelhos. Atravessei rios e mares. Descobri as bolhas nos pés e os hematomas nas unhas dos háluxes.
Ao ar livre respiro melhor, incorporo a natureza, deixo-me ser envolvida pelas paisagens, amplio os meus sentidos e a percepção. Meus olhos são capazes de distinguir os matizes do verde na mata, os tons do azul do céu, compreendo os formatos, as cores e as densidades das nuvens. O meu olfato sente e a minha memória resgata o cheiro do mato, da terra, das flores, do eucalipto, do “barbeiro”.
O show de texturas e cores dos troncos, dos líquens, dos musgos, dos fungos e bichos incitam a necessidade do toque, a delicadeza do tato. Permito-me ser banhada pelos raios do sol na pele.
Os sons da natureza são outros: o quebrar das folhas secas ao serem pisadas, o ruído do vento, o canto dos pássaros, o barulho natural das quedas d’água que ecoam ao longe e que aos poucos se aproximam e vão me mostrando que estou no rumo certo.
Caminhar na natureza é uma forma nova de me relacionar com o mundo. É também se permitir perder um pouco de si, abrir mão das seguranças, relógio, calendário. É poder viver, mesmo que por breves instantes, o ritmo próprio dos ciclos do natural e do seu próprio corpo. A respiração ofegante me permite experimentar uma nova consciência corporal, que é uma forma de autoconhecimento.
Tomar o rumo do desconhecido é renunciar às certezas, se descobrir parte. Ser simples, essência.
Todo dia que eu caminho, me sinto em paz. Todo dia que eu caminho, sou senhora de mim e soberana sobre o passar do tempo. Todo dia que eu caminho é um dia que eu vivo.