Um homem, às margens do rio, discursa para a multidão sobre a importância de manter as águas livres da poluição, em “Frenesi” (1972). De repente, o corpo de uma mulher aparece boiando, arrastado pela correnteza. Ela está nua e tem uma gravata enrolada no pescoço. Alguém alerta os outros. E, no meio do alvoroço, de terno e chapéu, um gordinho observa. Em silêncio.
Antes disso, esse tipo misterioso — elegante, mas muito mal-encarado — já havia sido visto parado, em frente ao escritório de Marion Crane (Janet Leigh), esperando não se sabe o quê. Foi em uma tarde de “Psicose” (1960), e deu para vê-lo da janela.
Ainda mais cedo, esse tal gordinho suspeito despachava uma carta no posto de correspondências, em algum lugar de “Suspeita” (1941). E, depois, se mandou para longe dali.
Primeiro, tentou tomar um ônibus em “Intriga Internacional” (1959). Mas deu de cara com a porta, e o motorista arrancou, deixando-o para trás. Deu dó de ver a cara do sujeito — não fosse ela um tanto suspeita.
Depois, tomou um trem, em Pacto Sinistro (1951). Ele parecia ter pressa e carregava um enorme estojo de instrumento musical, talvez um violoncelo. Mas quem garante que não havia um corpo esquartejado ali dentro? Um casal velhinhos que jogou cartas com ele durante a viagem de trem, em “A Sombra de Uma Dúvida” (1943), não notou nada suspeito.
Embora o fotógrafo bisbilhoteiro L. B. Jeff (James Stewart) esteja desconfiado de que um vizinho esquartejou a própria mulher. Foi quando ele espiou através da “Janela Indiscreta” (1954) que quase caiu para trás — se já não estivesse sentado em uma cadeira de rodas. Pois lá estava ele, bem no apartamento da frente, o gordinho estranho.
Mas os binóculos de Jeff não falham, e deu para identificar o sujeito: era Alfred Joseph Hitchcock. E essas são algumas vezes em que o diretor aparece nos seus próprios filmes. Nada de misterioso. Apenas um gordinho muito exibido.
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