Na semana passada, uma live da publicitária e blogueira de raiz Cris Guerra – como ela se define – chegou até mim por meio de vários grupos de mulheres e pensei de imediato: “bombou”. O vídeo veio inicialmente pelo whatsapp de amigas e colegas de trabalho que compartilhavam a “denúncia”. Seu conteúdo é uma crítica a Fábio Porchat – Porta dos Fundos.
O personagem do humorista ironiza e infantiliza sua própria mãe. Então, assisti ao vídeo de nome Responsável, que em apenas três minutos causou tal murmurinho. A cena em que se desenrola a história, é composta por mais duas mulheres que acentuam a inabilidade da senhora/mãe de 57 anos com foco a sua navegação pela internet.
Daí a observação de Cris sobre o preconceito de que os idosos não são pessoas capazes e socialmente adequadas no mundo “moderninho do filho”. Ela apresenta para seus seguidores (passei a ser também) o termo pouco conhecido do “Etarismo” e seus sinônimos: edadismo ou ageismo e vai relatando e clareando o seu incômodo.
O conceito se refere à prática e atitudes negativas com relação à pessoa por conta da idade. Essa queixa, preconceito, bairrismo, discriminação, negação é antiga, em especial na sociedade brasileira. O que Cris traz de diferente é a nomeação disso e a apresentação as palavras que definem essa discriminação.
Guerra considera que a repercussão de sua live era inesperada e que a explicação disso vem da identificação das mulheres com a cena. Fato é que entre elas há um mal-estar gerado quando chegam à idade pré e/ou pós-menopausa e suas relações afetivas e profissionais mudam. Existe uma visão reducionista da mulher que as considera somente para a função materna e um ser reprodutivo, e quando isso se encerra é considerada inapta para outras.
Em pleno século XXI, ainda existe esse imperativo e haja consciência para que sua dignidade e vida “saudável” – mental e corporalmente se mantenha. A gestação e função materna são escolhas da mulher na atualidade e nem vou perder tempo escrevendo sobre essa “inlógica”, esses pensamentos antigos de épocas em que a mulher não tinha o domínio do seu próprio corpo. Quem está nela que atualize!
Também há queixas de mulheres com relação aos homens, aqueles que inicialmente, antes de conhecê-las, insistem em saber a idade. Já escutei na clínica e de amigas a interrogação: “ele vai se relacionar comigo ou com minha idade?”. Há diferenças entre homens, mas aqueles que entre as perguntas iniciais aparece a idade, desconfie! Profissionalmente, idem interrogam: “não tenho doença, sou capaz para o cargo, tenho experiência e aí vem minha idade e…”
Para o mercado e os produtores de consumo sugiro dar uma conferida na estatística sobre o poder aquisitivo de mulheres “maduras”.
Voltando ao Porchat, querido humorista, como você irá sair dessa? Pela porta dos fundos?
Num texto, a gente divaga e sonha. Assim vou utilizar desse recurso que me cabe agora. Vejo você revertendo à situação. Todo filho tem lá suas questões com a mãe e muitos adoram ironizá-las e ridicularizá-las, principalmente quando são adolescentes. Pois aqui vamos lembrar que adolescente é aquele que não elaborou questões psíquicas e mantém-se em comportamentos inadequados e infantilizados – podendo ser jovens, adultos e até idosos.
Assim, no vídeo de reparo (sonhando) – você traz uma Mulher (com M maiúsculo mesmo) mãe (minúsculo, o filho já é grande e pode buscar seu crescimento sozinho), ela é independente, bem resolvida com seus afetos e profissionalmente. E, faça algo com o raio do celular que o filho/personagem utiliza para sátira. Nada como um bom humor para curar as feridas.
Cris Guerra teve a sensibilidade de levantar essa questão tão latente entre as mulheres.
Escolhi a foto ilustrativa por sentir-me “foda, porra” – peguei emprestada a expressão da “foda” blogueira de raiz, nela estou entre outra “foda” – Leila Ferreira (2016). Somos três mulheres, over 50 e que poderíamos ser a mãe mencionada no humor do grupo Porta dos Fundos. Só que não! O desejo de criar e produzir vida afora ainda está latente em nós. Peço licença às duas companheiras, por esse viés e por citá-las.
#atualizaporchat #atualizaportadosfundos. Nada de serem adolescentes críticos da mamãezinha! E sem saída pela porta dos fundos!
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