Guilherme Scarpellini
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Enquanto a primeira pessoa — mulher e preta! — era vacinada contra Covid-19 em solo brasileiro, uma sensação de estranheza pairou no ar. Desconfiança sobre a eficácia do imunizante? Insegurança quanto aos próximos passos da vacinação? Medo de virarmos um país de jacarés, maricas e comunistas? Nada disso, era só alívio mesmo: Bolsonaro, enfim, se calou.
Foram 24 horas sem dizer besteira. Nem um tuitezinho sequer sobre o evento mais revolucionário desde que o Brasil retornou à Idade Média, em 1° de janeiro de 2019. Mas o que importa é que ciência prevaleceu: habemus vaccinum!
Outras questões, no entanto, permanecem fora do alcance dos cientistas. Quem mandou matar Marielle Franco? E por quê? Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da primeira-dama? Até hoje não se sabe. E agora outra pulga faz aglomeração atrás da orelha do brasileiro: por onde andou Bolsonaro quando a vacinação começou?
A solução para o mistério pode vir de um assessor do Planalto. Ele jura ter visto o chefe conversando com as emas, pensando que eram avestruzes, enquanto a primeira dose do imunizante era aplicada. “Ele só queria um conselho”, disse o palaciano. “Afinal de contas, não sabia onde enfiar a cara”.
Ao passo em que um amigo, que mora no interior de São Paulo, garante que Bolsonaro foi visto por aquelas bandas, sozinho. Ele afogava as mágoas dentro de uma lata de guaraná, enquanto, de uma televisãozinha em cima da geladeira do Boteco do Juca, assistia a João Dória apresentar o seu CoronaVac Show.
Há quem tenha visto ainda um jetski pirata navegando nas águas do Paranoá, no exato momento da vacinação. Mas outro assessor próximo ao presidente — que não é o Queiroz, mas é tão querido quanto — diz ter provas suficientes para demonstrar que o chefe não saiu do quarto do filho mais novo, o Jairzinho, com quem passou o domingão jogando PlayStation.
Quando, em verdade, eu também tenho lá o meu palpite. Enquanto o Brasil dava o primeiro passo para vencer a pandemia, Bolsonaro deve ter aceitado o conselho de Ruy Castro (Folha de São Paulo, 10/01/2021). Trancou-se no banheiro, e procedeu com o tratamento precoce contra si mesmo: um miligrama de cianeto deve ter bastado. Pois ele morreu politicamente.