Há algumas dores que se guarda debaixo do cobertor. Quando estamos fortes, deixamos que apareçam e doam o que têm para doer. Quando ainda não temos condições de suportá-las, elas vão ficando lá. Ajuntadas, amontoadas, espremidas entre um pé sonolento e a beirada do lençol. Às vezes, se acumulam, fazem volume e não dá mais para escondê-las. Às vezes, não. Podem ser adiadas, postergadas para um momento melhor. Mas sempre estão ali, à espreita, sob o cobertor.
Há um escorpião dentro da caixa e nós sabemos. Teimamos em ir lá e colocar a mão. Ele vai nos machucar. Porém, não resistimos. Pode ser que eu tenha o soro. Pode ser que não. A mão inflama, incha, necrosa e cai à minha frente. E penso nos motivos que me levaram a mexer ali.
Tem uns buracos em que não hesitamos em pular. Sabemos que quebraremos os ossos. E pulamos mesmo assim. Porque é da nossa natureza testar as fronteiras do viver. Às vezes, sentir dor é melhor do que nada sentir.
Não penso dessa forma. Mas meu cérebro, sim. E ele me leva por esses caminhos vez ou outra, sem eu saber. Tento enganá-lo e de nada adianta. Peço sossego, um café, um colchão. Ele insiste no movimento, fala sem eu querer, pensa à revelia de mim.
Só queria o meu livro. Aquele romance, que estou quase acabando de ler. Mas quem é que nasceu para ser sossegado? Quem é que nasceu para ler? Se há tanto, tanta gente, tanta energia, tanta pulsação.
E digo que trocaria tudo, tudo mesmo, pelo tempo que pausa na dança das páginas. E tudo o que eu sentisse ali seriam apenas emoções líricas. E todas aquelas, minhas, ficariam congeladas por mais tempo, na caixa, na sombra, no fundo daquele buraco, sem que eu tivesse que ir até lá resgatá-las e me apropriar delas, como parece ser um inevitável destino.
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…
Como é bom ir se transformando na gente. Assumir a própria esquisitice. Sair do armário…