Fim de ano é sempre tempo de reflexão. Aproveito esse momento para separar os positivos para um lado e os negativos para o outro. Colocar tudo na balança e fazer o saldo. Realinhar as velas do barco. Tem gente que diz ser bobagem, mas continuo achando a prática deste exercício fundamental. Ainda mais neste 2020 que tanto nos ameaçou, tanto expôs as nossas fragilidades, tanto nos privou de um futuro.
Desde março deste ano, tivemos que abortar nossos projetos de curto, médio e longo prazo. Num horizonte permanentemente indefinido, ficamos à deriva, tivemos que aprender a observar todas as ondas para decidir quando mergulhar, quando boiar, onde ancorar. Tivemos que estudar os diversos picos e platôs para conseguir nos localizar, escolher por onde caminhar, como nos defender e quando avançar.
Esse momento me fez lembrar de uma paciente que acompanhei há alguns anos. Ela chegou na primeira sessão chorando muito, muito fragilizada, falando de como doía o seu processo de divórcio, como não conseguia entender o porquê de estar passando por aquilo tudo, que se sentia deprimida e fraca por causa da separação. Questionava-se sobre o que seria dos filhos e de si mesma. Eu lhe interrogo quando havia ocorrido o rompimento e, para minha surpresa, ela me responde:
– Há 20 anos.
Fingindo naturalidade e fazendo “cara de psicólogo”, acolhi toda aquela dor e tivemos a chance de fazer um bonito processo psicoterapêutico, encarando a urgência de se iniciar o desenvolvimento do luto pelo casamento. Mas escutar o “há 20 anos” dela, me fez pensar o quanto de vida estava perdida naquele apego de mais de duas décadas a uma relação que já havia terminado.
A intensidade emocional daquela reação me dizia que a perda ainda se fazia subjetivamente presente e recente. Ela estava aprisionada. Trabalhamos muito o apego dela pela dor. Tem gente que prefere andar pelo caminho do sofrimento simplesmente pelo fato dele ser o mais conhecido. Mas existem inúmeras outras trilhas possíveis.
Sempre lembro dessa sessão quando estou em sofrimento. Ele precisa ser vivido, mas também precisa ser elaborado e ser “passado”, porque a presença constante inviabiliza o futuro. É sempre bom ter a consciência de que cada minuto da vida que a gente vive é um minuto da vida que a gente renuncia. Seja porque os ponteiros do relógio não voltam, seja porque sempre escolhemos. Até quando não escolhemos, fazemos uma escolha.
Então, com Covid ou sem Covid, por hora, basta saber que o tempo que a gente tem é o tempo do agora.
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