O barco que acompanhei a renovação navega nas águas de Cumuruxatiba. Num trabalho artesanal de dois meses de seu construtor. Um esforço coletivo de empurra e recoloca os troncos para irem deslizando até seu destino. Tira, põe, cava; ele rolou até o Atlântico.
A união da comunidade de pescadores para a execução da tarefa é admirável. O senso do coletivo não opera somente nesses momentos – de alegrias. Soube do cooperativismo deles para salvar os móveis e eletrodomésticos quando um dos rios da região invadiu uma casa, em chuvas torrenciais passadas. Também é observada a mesma junção em muitas outras situações e comemorações.
O barco foi para o mar da águas e eu vim para o mar de montanhas, para as festas de final de ano. Ele foi de encontro ao seu destino quando faltavam dois dias para o meu retorno a Minas. Digo que a primeira vez que passei pelo local onde o trabalho fora realizado, senti uma estranheza em ver o “buraco” da falta dele.
Sua reforma foi executada na beira da praia e debaixo das amendoeiras, generosas árvores que oferecem suas sombras para os moradores e turista. Também nesse espaço há um acesso ao mar. Era a minha passagem e visão de vinte e oito dias. Nas duas primeiras semanas passava curiosa. Na terceira já comecei a interrogar como descrito na crônica Os Barcos e o Mar em Cumuruxatiba. O vigésimo nono dia foi de alegria ao ver o trabalho concluído, estranhamento pela falta do barco compondo a paisagem, e à visão de uma janela para uma nova vida: o barco no mar… sucesso!
Essa jornada de trabalho e movimento coletivo aponta para a esperança de um mundo mais humano. Expressão que quando ouço ou a emprego, traduzo em afeto, coletividade, disponibilidade, partilha e respeito. Escutei pessoas que vivem em Cumuruxatiba dizendo retribuir para comunidade e meio ambiente o mesmo bem que eles lhes trouxeram. Desejo que permaneçam com seus valores mesmo com o turismo avançando na região.
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