Na última semana, todos nós, desde os amantes do futebol até aqueles que não tem o menor interesse por esse milionário esporte, sentiram a perda do ídolo argentino, Diego Armando Maradona. Mesmo entre aqueles que apreciam o futebol, igualmente os que idolatravam e até quem odiava o dom Dieguito – que marcou gol com a mão numa Copa do Mundo e atribuiu a Deus o feito – se ocuparam aos comentários por dias seguidos.
Maradona, apesar de evocar esse tento irregular a Deus, nunca foi um santo. Também nunca dissimulou isso e tantas outras posições e posturas polêmicas ao longo de seus 60 anos de passagem pela Terra. Amado e odiado, até confesso que não me associei a nenhum dos dois grupos. Com isso, após sua morte, não me ocupei em comentar acerca do assunto.
Porém, hoje, terça-feira, quase uma semana depois, aproveito para um devaneio que tem – isso sim – me ocupado faz já um bom tempo. Como somos ou temos a pretensão de sê-lo – não me excluo dessa lista – julgadores do próximo. Concluí, depois de algumas considerações – ainda que sigilosas entre eu e meu espelho – que quando qualificamos terceiros, na verdade, estamos nos entregando perante nós mesmos a nosso respeito.
Se dissesse sobre isso, seguramente, minha já enxuta lista de convivência seria bastante reduzida. Por isso, opto pelo caráter mais reservado de seguir os dias que me restam nessa existência. Não sou muito afeto em ver telejornais, até porque a vida me ensinou e escancarou como a mídia manipula ao seu interesse comercial as nossas cabeças e opiniões.
Na quarta-feira, que amanheceu com a morte do astro do futebol, vi gente emocionada e até mesmo quem quase comemorasse a partida do controvertido ex-atleta. Ouvi quem cantasse trechos de uma música de arquibancada, que comparara o argentino a Pelé. Acompanhei, sobretudo pelas redes sociais, postagens que confirmam ter sido acertada minha decisão pelo recolhimento.
Sobre o posicionamento político do argentino, nunca escondi que se aproxima do que penso. Entretanto, como pude vê-lo atuar e tive o privilégio de também assistir Pelé nos gramados (vi até Garrincha), afirmo com toda convicção. O brasileiro, de Três Corações, foi muito mais jogador que o mágico Maradona.
Me permito, também, eximir de comentários à respeito do jeito de viver do argentino. Cada um sabe de si e é responsável por suas ações, ele optou por aproveitar e gozar da vida à sua escolha. Quem de nós pode julgar isso? Antes, deveria se olhar no espelho.
Soube, por não ver TV, que a emissora campeã de audiência – consequentemente também líder em manipulação – privilegiou mostrar o Maradona boêmio e que optou por uma vida de aventuras, em detrimento de sua brilhante carreira enquanto jogador de futebol. Se ele não superou Pelé, podemos admitir que se aproximou do nosso 10 das Copas de 58, 62 e 70, que nos fizeram o primeiro país tricampeão de futebol.
Ao contrário de Pelé, entretanto, nunca se aliou a governos impopulares ou apoiou regimes autoritários. E dai? Tanto um quanto o outro merecem consideração, muito mais pelo que representaram dentro dos gramados que por qualquer outro tipo de avaliação. A Pelé o que é de Pelé e a Maradona o que é de Maradona.
Foram, cada um ao seu tempo, idolatrados em seus países pelo futebol que mostraram dentro de campo. Maradona, por ser argentino, era amado pelos seus compatriotas; já Pelé, pelos brasileiros, festejado pelas inúmeras conquistas com a Seleção. Cada qual com seu cada qual, ou seja, cada um no seu quadrado.
Se Pelé foi ídolo do Brasil, Maradona foi da Argentina; natural é que brasileiros e argentinos tenha cada um como o seu melhor do mundo. Ainda que, ao seu tempo, tenham efetivamente sido, caso tivessem atuado no meu time do coração (o pai do Pelé até que chegou a vestir a camisa preta e branca), aqui teriam sido tão somente um entre vários melhores jogadores que fizeram a alegria do Atleticano.
À frente deles, Reinaldo (este sim, “bom de bola e bom de cuca” – posso dizer que foi a junção do pensar político e a arte com a bola), Ronaldinho e outros do mesmo nível.
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Droga causa estees delírios?