Tais Civitarese
Primeiro, somos criados para concordar. Acatar as ordens dos pais, obedecer, seguir regras.
Mais tarde, começamos a ter ideias próprias. E qual o prazer em dizê-las! Romper paradigmas, argumentar, questionar a realidade como ela se apresenta e transformá-la.
Por fim, chega o momento em que se aprende a calar. Não por concordar, temer ou não ter opção. Mas simplesmente porque se conclui que, nessa hora, não adianta dizer nada. Há forças muito maiores que a razão. Algumas são bonitas, como o amor. Outras são sombrias, enraizadas lá nas profundezas do ser. Contra essas, não há luta possível que não o silêncio e o tempo.
O silêncio evita o desnecessário desgaste e o tempo deixa a natureza se desenrolar. Às vezes, há algo em jogo mais valioso do que a nossa opinião.
Minha amiga contou que caminhou por uma trilha durante a época das queimadas. Encontrou tudo coberto de cinzas, carbonizado, sem vida. Retornou ao lugar meses depois e viu uma outra paisagem. O verde brotejava em cada raminho de galho. A renovação da vida se fazia ver por todo canto.
A cor da esperança é mesmo simbólica. Quando fresca, chega a ser neon. A vida continua, independentemente de nós. Do que pensamos, do que ocultamos. Tudo nos espera ao fim de algum transcorrer de dias. Pode ser longo, pode ser breve. Tudo se revela. Ninguém doma a natureza por muito tempo.
Quando não há o que dizer, há o que viver e esperar.
Trabalho difícil esse de calar o que grita escandalosamente em nós. Sufocar aquilo que transparece claro como água ao se deitar no travesseiro. Mas é assim. Percepção nem sempre muda a realidade.
O tempo e a natureza, sim.