Como entender o caminho do mar? Essa foi minha pergunta quando passei pela canoa de pescador que a foto mostra. Também, qual a diferença do caminho da “montanha” para o caminho do mar? E que caminho é esse?
Minhas experiências passam pelos caminhos: do pântano, onde está localizada minha cidade natal – atualmente pouco restou dele. Posteriormente, caminhei pelas montanhas de Minas, Bahia, Pará, Rio grande do Sul e do Norte, São Paulo, Perú, Colômbia, Chile, Itália, Espanha, França, Portugal, EUA. Enfim, muitas terras.
Vivenciando essas direções e agora diante das águas, questionei-me sobre as diferenças dos caminhos do mar e da terra. Dois nomes ecoaram em minha cabeça e podem iniciar um diálogo sobre a diversidade existente entre terra e mar e sua completude.
O primeiro: Milton Nascimento, o homem introspectivo que cantou sua terra e seus sentimentos sobre ela – Minas Gerais do ferro, do ouro, das pedras, dos minerais. E, Dorival Caymmi, o do mar, que observou sua querida Bahia e seu povo, em especial o jangadeiro, o pescador, as águas-marinhas, cantou personagens reais em suas músicas.
Colocarei os dois numa prosa de vida e olhares diversos para os elementos água e terra. Inicio com conexão Minas – Bahia com a música de Milton:
Ponta de areia, ponto final/ Da Bahia à Minas, estrada natural/ Que ligava Minas ao porto, ao mar/ Caminho do ferro mandaram arrancar…[1]
Caymmi, no balanço das ondas, canta: “Minha jangada vai sair pro mar/ Vou trabalhar, meu bem querer/ Se Deus quiser quando eu voltar do mar/ Um peixe bom eu vou trazer/ Meus companheiro também vão voltar/ E a deus do céu vamos agradecer…”[2]
Ser da terra: “Solto a voz nas estradas / já não quero parar/ Meu caminho é de pedra/ Sonho feito de brisa/ Vento vem terminar…”[3]
Ser do mar: “Vento que dá na vela/ Vento que vira o barco/ Barco que leva a gente/ Gente que leva o peixe/ Peixe que dá dinheiro, Curimã…”[4]
“Senhora que/ das águas,/ tome conta de meu filho/ que eu também já fui do mar;/ hoje té/ véio acabado,/ nem no remo sei pegá…./ tome conta de meu filho/ que eu também já fui do mar; … [5]
Nascimento: “Falar da cor dos temporais/ Do céu azul, das flores de abril/ Pensar além do bem e do mal/ Lembrar de coisas que ninguém viu/ O mundo lá sempre a rodar/ E em cima dele tudo vale/ quem sabe isso quer dizer amor/ Estrada de fazer o sonho acontecer…’ [6]
Caymmi observando na sua Itapoã, então uma vila de pescador, hoje, bairro urbanizado de Salvador: “O mar quando quebra na praia/ É bonito, é bonito/ O mar…pescador quando sai/ Nunca sabe se volta, nem sabe se fica/ Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos/ Nas ondas do mar…”[7]
O mar, “lá fora” como dizem, é uma imensidão conhecida /desconhecida que o pescador espia.
Eu já tive a experiência de mergulhar a 22 metros de profundidade e digo que é de uma paz e emoção que não estou encontrando palavras para definir. Por fim, daqui da Costa das Baleias ainda sonho mergulhar com uma delas numa integração terra/mar.
“Quem vem pra beira do mar, ai/ Nunca mais quer voltar, ai/ Quem vem pra beira do mar, ai/ Nunca mais quer voltar/ Andei por andar, andei/ E todo caminho deu no mar/ Andei pelo mar, andei/ Nas águas de Dona Janaína/ A onda do mar leva/ A onda do mar traz/ Quem vem pra beira da praia, meu bem/ Não volta nunca mais” [8]
Fica a dica: escutar as músicas que seguem.
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1 – Nascimento, M. música Ponta de Areia:
https://www.youtube.com/watch?v=15g6YWqG3vc
2 – Caymmi, D Suíte do Pescador:
https://www.youtube.com/watch?v=3zd0MJrSQxQ
3-Nascimento, M. música Travessia
https://www.youtube.com/watch?v=tBa2Z28oPRU
4- Caymmi,D. música: O Vento.
https://www.youtube.com/watch?v=S3U0sHegYgU
5- Idem. Música: Promessa de pescador
https://www.youtube.com/watch?v=VAux5ieVmaY
6– Nascimento,M. música Quem sabe isso quer dizer amor
https://www.youtube.com/watch?v=oX2tbUm5Iig
7 – Caymmi, D. música: O mar
https://www.youtube.com/watch?v=QiyUa8jKxiM
8 – Idem. Música: Quem vem para beira do mar
https://www.youtube.com/watch?v=vCHxPBSBong
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