Guilherme Scarpellini
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Todo mundo teve aquele amigo na infância que era o dono da bola. Aborrecido, resmungão, perna de pau, oras bolas, mas era o dono da bola.
Sua presença era tão indispensável quanto o par de chinelos que formava as traves do gol. Por isso mesmo, o tratávamos a pão de ló, ou melhor, a Cheetos, Fandangos e tapinha nas costas. Afinal de contas, era um bom amigo o dono da bola — pelo menos, até começar a partida.
Dado início ao quebra-canelas, o perneta era logo posto de lado. Pedia a bola, mas não a recebia. Marcava o adversário, mas o deixavam livre feito um banco de praça em dia de chuva.
Corria para um lado e, depois, para o outro. Até que, além do ar dos pulmões, a paciência lhe faltava. Ficava vermelho de raiva, ensaiava um choro e ia embora — claro, levando a bola.
Por essas coincidências da vida, o ruim de bola era pior ainda no videogame. Pior mesmo é que ele era também o dono do videogame.
Quando juntávamos a turma, a regra era clara, Arnaldo: perdeu, passou o controle. E o dono da bola, que era o dono do videogame, chupava o dedo enquanto dois colegas empatavam uma partida.
O pobre coitado xingava, enfurecia, e uma lágrima rolava-lhe na face. De súbito, desligava o videogame, e tínhamos de ir embora.
Donald Trump não é o dono da bola, nem do videogame. É pior: um bebê chorão dono da terra plana. Agora vai perdendo as eleições e esperneia no chão da Casa Branca.
Faz pirraça, agarra um pé de mesa e diz que daqui ninguém me tira! A menos que resolvam essa encrenca no par ou ímpar. Mas já mandou avisar: só depois da recontagem das mãos do adversário. E tem mais:
— Buáaa!!!