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Surpresas no elevador

Reprodução/GettyImages
Guilherme Scarpellini
scarpellini.gui@gmail.com

Pessoas entram e saem dos elevadores, mas não vão embora. No meu prédio, há uma senhora muito jeitosa, cabelos arrumados e os olhos roubados pela tela do celular. Usa roupas requintadas e abusa de uma colônia que cheira a flores do campo. E não percebe que, mesmo depois de trancar-se no apartamento e afundar-se no sofá, quando troca o celular pela Netflix, ela ainda permanece zanzando no elevador, para cima e para baixo, até ser neutralizada pela doce fragrância das jaulas.

Isto é, até chegar o garotão do terceiro andar. Duas bitelas de braços esganadas pela camiseta colada ao corpo e o rosto desfazendo-se em suor: ele acabou de usar a academia do prédio. Entra no elevador exalando hormônios, chulé e desodorante vencido, mas não vai embora. Ora no terceiro andar, ora do décimo terceiro andar, o cheiro de pano de pia molhado passeia num bate e volta vertical, surpreendendo narizes incautos e assaltando narinas inocentes.

A coisa só melhora — piora! — quando entra um homem solteiro no elevador. No meu prédio eles são aos montes. Escutam música sertaneja, falam alto ao telefone e, claro, saem à noite, como gatos vadios. Mas não saem do elevador, que se torna uma bomba itinerante, cujas emanações radioativas de perfumes baratos e desodorantes de spray levam miséria e desolação a todos os andares do prédio.

Devo alertar que o ambiente atinge patamares realmente elevados de insalubridade quando entra uma criança no elevador. Assim como na piscina do clube, em que, movidas pela certeza da impunidade, abrem a torneira sem racionamento, no seio das quatro paredes metálicas não é diferente. Pensam que jamais serão descobertas e, por vezes, confidenciam os seus segredos flatulentos. Mal sabem elas que há sempre alguém esperando um elevador chegar. Às vezes, eles chegam trazendo surpresas.

Guilherme Scarpellini

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