Pessoas entram e saem dos elevadores, mas não vão embora. No meu prédio, há uma senhora muito jeitosa, cabelos arrumados e os olhos roubados pela tela do celular. Usa roupas requintadas e abusa de uma colônia que cheira a flores do campo. E não percebe que, mesmo depois de trancar-se no apartamento e afundar-se no sofá, quando troca o celular pela Netflix, ela ainda permanece zanzando no elevador, para cima e para baixo, até ser neutralizada pela doce fragrância das jaulas.
Isto é, até chegar o garotão do terceiro andar. Duas bitelas de braços esganadas pela camiseta colada ao corpo e o rosto desfazendo-se em suor: ele acabou de usar a academia do prédio. Entra no elevador exalando hormônios, chulé e desodorante vencido, mas não vai embora. Ora no terceiro andar, ora do décimo terceiro andar, o cheiro de pano de pia molhado passeia num bate e volta vertical, surpreendendo narizes incautos e assaltando narinas inocentes.
A coisa só melhora — piora! — quando entra um homem solteiro no elevador. No meu prédio eles são aos montes. Escutam música sertaneja, falam alto ao telefone e, claro, saem à noite, como gatos vadios. Mas não saem do elevador, que se torna uma bomba itinerante, cujas emanações radioativas de perfumes baratos e desodorantes de spray levam miséria e desolação a todos os andares do prédio.
Devo alertar que o ambiente atinge patamares realmente elevados de insalubridade quando entra uma criança no elevador. Assim como na piscina do clube, em que, movidas pela certeza da impunidade, abrem a torneira sem racionamento, no seio das quatro paredes metálicas não é diferente. Pensam que jamais serão descobertas e, por vezes, confidenciam os seus segredos flatulentos. Mal sabem elas que há sempre alguém esperando um elevador chegar. Às vezes, eles chegam trazendo surpresas.
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