Na última terça-feira, retornei ao trabalho. Tal qual eu fazia quando atendia em pronto-socorro, mas invertidos os papéis, mediram minha temperatura logo à entrada. E só depois nos demos boa tarde.
O hospital estava vazio, calmo. Todos de máscara. Alguns com touca, capote e luvas. Havia dispensadores de álcool em gel para todos os lados. Bem mais do que antes. E algumas mudanças. Uma árvore do jardim que havia caído durante as chuvas mostrava seus novos brotos. Um tapume redirecionava algumas salas de atendimento. Os pacientes, no entanto, continuavam quase os mesmos.
Nas consultas, os mesmos anseios. Os mesmos olhares ansiosos. Poucas palavras sobre a pandemia. O que os preocupa são outras dores. As dores de antes. As dores inscritas em sua história. No atendimento em saúde mental foi onde menos ouvi falar do vírus. Lá, já estão acostumados a muitos desafios. E a alguns riscos piores…
Menos do que o uso da máscara, do que o hábito de higienizar as mãos com frequência, ali vemos incômodos de outra ordem. Um tique que não vai embora. Alucinações. A fronteira entre a loucura do mundo real e a do mundo imaginário muitas vezes tênue. Uma luta de gigantes em que o segundo costuma vencer muitas vezes. Fosse a pandemia ou fosse a guerra. Dá no mesmo. O conflito ali é interno. É diária. É anterior e mais intensa que as notícias no jornal.
Essa pandemia que nos fez apertar “reset” no mundo e buscar um “novo normal” vem me mostrando que isso não existe. Nada nunca foi normal. Tudo sempre foi bizarro, dinâmico e cheio de equívocos. Os únicos “novos normais” possíveis somos nós. Normais por um minuto, para logo depois nos anormalizarmos de novo. E assim seguirmos eternamente nos adaptando às contingências.
Naquele pequeno oásis de cuidados, refleti sobre os sentimentos. Sobre a importância de valorizar o dia. Do cuidar, faça chuva ou faça sol. Frente à explosão, às vezes o que mais machuca é o estrondo interno. E que já existia mesmo antes do fim do mundo…
Para esses males, jamais existirá vacina. Somente um tratamento duro, continuado, persistente e eterno.
Silvia Ribeiro Então é dezembro. Hora de pegar a caderneta e fazer as contas. Será…
Mário Sérgio Todos os preparativos, naquele sábado, pareciam exigir mais concentração de esforço. Afinal, havia…
Rosangela Maluf Gostei sim, quando era ainda criança e a magia das festas natalinas me…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Com a proximidade do Natal e festas de fim de ano, já…
Peter Rossi Me pego, por curiosidade pura, pensando como as cores influenciam a nossa vida.…
Wander Aguiar Finalizando minha aventura pelo Caminho de Santiago, decidi parar em Luxemburgo antes de…