Vamos lá, verdade seja dita: é insuportável ficar combatendo fake news. Os jornalistas/checadores que me perdoem, mas se eu tivesse que ficar convencendo alguém na lábia, ia ser obrigada a partir para a violência.
Especialmente com relação àquelas pessoas que acham que “a verdade nos foi negada durante muito tempo, e agora temos o poder de saber de tudo.” Saber de tudo o quê, amado? A psicologia deve explicar esse complexo de perseguição, porque se eles não conseguem, ninguém consegue. (Psicologia, toda semana eu peço uma explicação para vocês. Por favor, nos salve.) Mas depois a gente fala disso. Vamos agora a um diálogo.
Em minha defesa, eu já tinha pedido, implorado, ajoelhado e rogado: por favor, não me envie mais mensagens encaminhadas, por favor, por favor, por favor. Mas minhas súplicas de nada valiam, eram como palavras mudas aos ouvidos ávidos pela descoberta e liberdade. Eis a conversa que se sucedeu:
– Você sabia que o Governo está pagando uma quantia aos hospitais que disserem que as pessoas estão morrendo de coronavírus? Um absurdo! Outra dia, um vizinho meu caiu, foi para o hospital e disseram que ele morreu de coronavírus.
– Isso não é verdade.
– Não é verdade!? Como assim não é verdade!? Você acha que o coronavírus não é uma ação política!?
– Quem, qual estado, qual governo, qual diretor de hospital, em sã consciência, aumentaria o número de casos de uma crise sanitária?
– Para causar pânico! Comunista!
– Ok, sendo assim tudo bem.
– Olha aqui essa notícia! É do Ministério da Saúde! “Estados e municípios receberão o dobro da diária em UTI para COVID-19.”
– O investimento em infraestrutura hospitalar é de obrigação constitucional da federação. Eles estão construindo hospitais, comprando coisas, mas essas coisas não vão sair andando depois, serão utilizadas em outros luga…
– Espera! Vou achar outra notícia para te provar! Eu vou te provar que você não pode confiar em qualquer coisa que lê!
– Tudo bem.
– Não, espera, eu mesmo achei uma coisa aqui… É #FAKE que Ministério da Saúde repassa R$ 12 mil a hospitais por cada morte por COVID-19. Mas, Victória, você tem que entender…
Viu, caro leitor? Não era como se a pessoa quisesse dialogar (e eu também não queria, para falar a verdade, só queria dormir) mas, essas certezas vazias ofendem aqueles que não podem se defender. Isso me faz pensar nas famílias, naqueles que se foram, nós profissionais da saúde; brasileiros e brasileiras que tentam, pelo menos tentam.
E é por por eles, pelos inumeráveis, os inesquecíveis, os de sobrenome Silva, Santos, Oliveira, Souza, Ferreira, pelo Benjamim. Por eles e contando, eu ouso levantar minha voz. Nego, passo raiva, discordo, por eles. Então, antes de cogitar passar uma mensagem potencialmente falsa para frente, não precisa pensar no trabalhão que dá para desmentir; nem em quantas pessoas e órgãos estarão envolvidos. Não precisa pensar em quantas pessoas você estará enganando; nem na sua responsabilidade social; muito menos em que tipo de indivíduo isso te torna. Pense, apenas, naqueles que não podem ser enlutados. Isso deveria bastar.
*
– Agência Lupa – Folha de São Paulo.
– Google.
– Pública.
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Gostei do assunto de sua divulgação, gostaria de ver se é pertinente para meu site.
Sds.