Em criança, lembro-me de ficar impressionado com o que fazia um coleguinha de escola. O menino juntava as mãos, como uma concha colada à boca, e produzia um silvo muito curioso: “ah-eh-ah-eh-oh…”. Aquilo me intrigou ao longo dos anos. Primeiramente, porque eu não conseguia fazer. Depois, aquele era um som legal demais da conta.
Mais tarde, na adolescência, eu reencontraria aquele distinto assovio. Por algum motivo, ele aparecia nos três filmes de faroeste espaguete que eu mais gostava: “Por Um Punhado de Dólares (1964)”, “Por Uns Dólares a Mais (1965)” e “Três Homens em Conflito (1966)”, de Sergio Leone.
Além do som do menino da escola, a trilha sonora desses faroestes era composta por dedilhados de guitarra e percussões em ritmo de cavalgada. A balada do velho oeste, árida como o próprio clima desértico, me fascinava. E o coração palpitava, como o lombo de um cavalo galopante.
Nos créditos, aqueles temas marcantes eram atribuídos a um sujeito de nome de receita italiana: um sei lá o quê “Macarrone”.
Como respingos de molho de tomate na camisa, as músicas do tal “Macarrone” impregnaram. Afinal de contas, o “Macarrone” apareceria também nos créditos de todos os outros clássicos que caíam em minhas mãos: “Os Abutres Têm Fome” (1970), “O Enigma de Outro Mundo” (1982) e Cinema Paradiso (1988).
Foi assim que eu o conheci, o grande maestro Ennio Morricone, que morreu nesta semana aos 91 anos.
Apesar de nos despedirmos de um gênio, ele jamais nos deixará. Está cravado em mais de 500 trilhas sonoras tão importantes como o queijo ralado em cima do prato de macarrão. Desde o sopro da gaita de Charles Bronson, em “Era uma Vez no Oeste (1968)”, passando pela flauta lúgubre de “Era uma vez na América” (1984) até o coro de violinos sangrentos de “Os Oito Odiados (2015)”. É tudo dele.
Mas agora o cinema está em silêncio: “Ennio Morricone está morto”, como diz o obituário escrito de próprio punho, que ele deixou para a família. Mas dizem que as lendas não morrem — deixam legados. De todo modo, vai aqui o meu adeus ao grande maestro. Ou, como o chamavam na Itália, o meu adeus ao “Il Maestro”.
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