Taís Civitarese

Foi meu pai quem me trouxe as primeiras noções sobre a existência de Deus. Nas idas à missa todos os domingos durante a infância e a adolescência, aprendi menos do que com ele em inúmeros diálogos ao longo da vida. 

Nas conversas de carro em viagens para visitar nossos parentes no interior era quando ele nos contava, a mim e a minha irmã, sobre suas experiências de fé e sobre o poder de uma oração.

Cresci com uma noção muito forte de que uma entidade grande e poderosa zelava por mim.

Durante o catecismo, em meu colégio católico, lembro que ficava um pouco perturbada de passar as tardes de sábado na escola vazia. Era tudo tão diferente do ambiente vívido que experimentava ao longo da semana. Lembro que ventava muito e eu sentia muito frio. Um dia, um menino vomitou durante a missa que assistíamos antes da aula e no vômito tinha salsicha. Fiquei anos com uma enorme aflição de comer cachorro-quente recordando-me daquela cena. Mas era uma aflição enraizada num contexto bem mais assustador do que um mal estar do estômago…

 De tudo, uma coisa que eu gostava era de ouvir as parábolas. Elas faziam sentido e esclareciam os mistérios da fé de uma forma lúdica e mais compreensível. Gostava de muitas delas, mas uma sempre foi a pedra no meu sapato: “O Filho Pródigo”. Nunca entendi direito por que o filho bom ficava de lado enquanto aquele que negara o próprio pai e esbanjara sua herança era recebido com uma grande festa ao se arrepender de seus erros. Acho que ainda não sou capaz de compreender um amor desse tamanho. Mas sigo caminhando…

Mesmo enveredando pelos caminhos da ciência, e após o declínio de minha fé no criacionismo tal qual descrito, jamais me desvencilhei de Deus.

Ele sempre esteve aqui (embora briguemos às vezes).

Meu marido não é católico e meus filhos não frequentam a missa como eu frequentei. Talvez jamais façam a primeira comunhão.

Mas, assim como meu pai me ensinou quem era Deus, creio que eu, em curtas e corriqueiras conversas, consegui transmitir a eles uma noção de fé, de esperança, de existência de algo além de nós que julgo um alicerce enorme para a sobrevivência sã nesse planeta.

Hoje, ao perguntar ao meu filho mais novo, de quatro anos, “Quem é Deus?”, ouvi com certa alegria essa resposta: “Deus é o anjinho que cuida da gente.” Por ora (e talvez para sempre), isso basta…

*
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Tais Civitarese

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  • “Deus é o anjinho que cuida da gente” basta sim, com certeza, pra toda a vida. Que esse anjinho cuide de seus meninos todos os dias para todo o sempre!

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