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Os Pássaros Voam em Minha Casa: souvenir de viagens

Sandra Belchiolina
sandra@arteyvida.com.br

Creio que os pássaros voam na minha casa e na minha vida. Desde criança eu os acompanho e tive o privilégio de tê-los cantando na minha janela. 

Desde sempre fui uma viajante sem pretensões de carregar compras em viagens. Descobri, com o tempo, que abria exceções para alguns minúsculos souvenires. Esses me convidavam a trazê-los para minha casa. Entendi, depois de muitas viagens, que eram os passarinhos que se faziam presentes.

Recentemente declarei que já tinha uma coleção, na verdade pequena, mas percebo que é neles que coloco os olhos para virem para o meu ninho.

Os primeiros a aparecerem foram um casal de Seriemas, os maiores, do artista plástico de Prado/MG, Valdir Gomes Ribeiro (fui de carro, por isso o tamanhão). Ele é um dos mais antigos entalhadores em madeira da região. Em suas mãos muitas toras viraram bichos.

Depois veio meu mimo especial, um passarinho que é a metade do meu dedão, contudo, de cristal de Burano. Visitando a fábrica em Veneza e encantada com tantas belezas e cores, me permiti trazer um na bagagem ao que não pesava. Nessa época o turista de classe econômica possuía o direito a duas bagagens de 32 kg sem pagar nenhum acréscimo por elas em viagens para Europa.

Logo depois veio um casal de corujas. Elas são talhadas numa espécie de caroço de azeitona grande e são de Besalú, Espanha. Essa cidadezinha medieval é uma lindeza. Eu acompanhava um grupo de ceramistas na região da Barcelona, Catalunha e Costa Brava e respirávamos arte. Nesse dia, fomos a Girona, onde há uma judiaria, uma das mais conservadas da Europa, Besalú e Filgueres, a terra de Salvador Dalí. A memória desse local fantástico veio comigo, e por meio delas sempre relembro os momentos. O museu de Dali é precioso como toda riqueza da região.

As corujinhas me capturaram no momento em que o grupo tirava foto aqui e acolá. Eu estava encantada com a movimentação naquele espaço da Idade Média. As vi com um artesão no meio da calçada e a empatia foi mútua. Até escutei: me leve! Estão por aqui há 23 anos, digo, uma está, pois a outra dei de presente a uma amiga budista que coleciona corujas. Isso há uns três anos. Ao recebê-la, ela me disse: “acho que já moramos em Besalú.” Gostei da ideia.

A Ema de Goiás é uma ave recorrente na região, tanto que o estado tem o Parque Nacional das Emas. A minha eminha me acompanha desde Goiás Velho, cidade colonial e terra de Cora Coralina. Vale muito conhecer. Falo um pouco mais dela na crônica Turismo, Escritores e suas Casas.

O pato do lago Titicaca, da Ilha de Uros no Peru. Nele está talhada a história do povo que ali habita. Tenho na memória a senhora índia dizendo: “compra-me el pato, cuenta la historia de mi gente.”.

Tenho dois pinguins do Chile. Um da região das Cataratas de Petrohue, Puerto Varas, ao sul do país. O outro veio porque é esculpido na pedra chilena: piedras azules

O tradicional Galo de Barcelos de Português não podia faltar¹. Ele chegou junto com o Cuco Alemão, da cidade de Trier. Lá se encontra a famosa Porta Nigra, que foi construída durante o reinado de Marcus Aurelius (161-180). Foi um roteiro lindo que fizemos (estava com um grupo muito especial). Incluiu Paris, Interior da França para visitarem os Petit Chateux que foram da família dos turistas, Bélgica, Holanda, Alemanha (com cruzeiro no Rio Reno), Portugal. A viagem mereceu dois pássaros para o meu ninho.

Tenho o cisne de Gramado-Rio Grande do Sul, onde a visita à fábrica de cristal é imprescindível. Lugar que se pode ver como as pedras vão criando formas. Habita por aqui um pato de Canela. Esse me encantou porque seu corpo é consistente e feito de raízes. Foi adquirido por sua singularidade e paixão à primeira vista. Trouxe de uma loja que fica ao lado da Igreja de Pedra de Canela.

Fui ao Equador e de lá me acompanharam os exóticos pelicano e o patola-de-pés-azuis. Planejo ir a Galápagos para conhecê-los pessoalmente. Nessa viagem fiquei somente no continente.

E pombinhas? Tem também! Não pode faltar, pois estão presentes mundo afora…

A minha me conquistou no centro de artesanato do lado do Mercado Del Puerto em Montevideo, Uruguai.

As últimas viagens foram sob e dentro do mar, acho que por isso não trouxe nenhum novo amiguinho. Os peixes não me convence muito, o coração já é dos pássaros. Contudo, mergulhei com um peixão do meu tamanho. Foi lá nas profundezas do mar de San Andrés – Colômbia. A minha vontade era acompanhá-lo naquela imensidão silenciosa. Mergulhei, também, no mar da Ilha de Bonnaire, Caribe Sul. Foi tão maravilhoso que nem pensei em souvenir. A experiência de entrar num mar preservado, ver as cores dos peixes e plantas foi fantástica. A memória ficou na cabeça. É outro mundo a ser visitado.

Quem será o próximo morador da casa?

Para saber mais, acesse:

¹https://pt.wikipedia.org/wiki/Lenda_do_Galo_de_Barcelos#:~:text=A%20lenda%20do%20Galo%20de,Pa%C3%A7o%20dos%20Condes%20de%20Barcelos.

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Sandra Belchiolina

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