Desespero ou falta de esperança

Eduardo de Ávila

Nem o isolamento social tem me feito tanto mal quanto os rumos que o país caminha, interna e externamente. Nem temos 150 anos da proclamação da República (1889), e convivemos com regime democrático em apenas cerca de um terço desse período. Duas décadas entre os anos 40 e 60, depois já nos primeiros tempos de 90 até a efetiva concretização do golpe (2016) capitaneado por Temer, Aécio e outros comparsas desse retrocesso.

O resultado desse delírio dos falsos democratas foi o afunilamento e radicalização das últimas eleições, vencida pelo histerismo de quem tem um único e orquestrado argumento. Roubalheira do PT. Aproveito para registrar pela enésima vez, não sou petista (tenho muita dificuldade com seus militantes), também não sou comunista e nada daquilo que os SA – Sem Argumento – adoram utilizar para fugir do debate. Sou democrata e respeito as leis e a constituição que rasgam a todo o momento.

Fato que a mim é incontestável, o Brasil vem sendo o único país no mundo que a convivência com a pandemia virou debate político e ideológico. E na contramão. Os conservadores, a maioria deles sem argumento e muito menos sem o poder econômico que imaginam ter, seguem um beócio que se elegeu presidente. Ele fala em ditadura, golpe e matança desde os tempos de capitão, ocasião em que foi afastado do Exército ainda nos anos 80.

Desgraçadamente, agora eleito PR, concita e inflama seus seguidores a tomar rumos contrários à ciência, à matemática, à leitura e interpretação de textos (a maioria deles nem sabe o que é isso), transformando o momento numa derrocada do Brasil e dos brasileiros. Se internamente estamos em conflito, no âmbito externo o país e seus cidadãos se transformam em ameaça a humanidade. Tivesse esse “capetão demônio”, a exemplo de quase todos os chefes de Estado, agido com a cautela conveniente, estaríamos agora – provavelmente – saindo da quarentena.

Mas o infeliz e seus infelizes seguidores optaram e insistem na radicalização de temas científicos em debates idiotas, como se o mundo conspirasse contra o filhote do Trump. Resultado disso é a completa animosidade entre pessoas e a insegurança quanto ao nosso futuro.

Não bastassem as vidas, em primeiro lugar, depois tentar recuperar a economia, seus filhotes e ministros atentam contra países parceiros do comércio exterior. Resultado disso, que já vem sendo observado, é o maior prejuízo de nossas divisas e preconceito contra nosso povo fora do espaço territorial brasileiro.

É o preço desse histerismo, tão preocupante quanto à pandemia – nada de gripezinha ou resfriadinho e muito menos combatido com cloroquina – que vai nos jogar num abismo que levará décadas para ser recuperado. Insanos que não têm noção do prejuízo causado ao Brasil, a nós que ainda estamos vivos e às futuras gerações. O estrago já está feito.

Confesso que às vezes sinto que meus pais e nossos antepassados que já nos deixaram estão muito melhores aos que resistiram ao tempo e a essas atrocidades. Migliaccio foi forte, teve a coragem que a minha covardia não permite. Tunai, Affonso Arinos, Azulay, Fonseca, Moraes, Nirlando, Blanc e tantos outros estão preservados dessa vergonha e muito mais felizes que nós que temos de assistir e tolerar tantas aberrações.

Tenho refletido muito, pensamentos de resistência vão dando lugar a uma vergonhosa acomodação. Às vezes imagino, se sobreviver a esse genocídio – patrocinado pelo governo federal – em viver num lugar fora da área urbana. Longe do que mais gostei até hoje, conviver com pessoas. Não longe de Belo Horizonte, mas num cantinho, alienado e sem saber quem é vereador ou presidente da República.

A única coisa que me tiraria desse refúgio, quero virar Ermitão (eremita), seria para vir à Belo Horizonte – uma ou duas vezes por semana – para ver o meu time do coração jogar. Três coisas ainda quero manter proximidade. Pessoas que sempre me foram queridas, seria a segunda delas.

Até a próxima terça-feira, se assim o coronavírus e o bozovírus permitirem.

*imagens extraídas das redes sociais.

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  • O desespero a gente aguenta.O que me apavora é essa esperança. _ perdão Millôr_. 35 anos depois, o Eremildo continua um idiota e o Ermitão será sempre um sábio.

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