Taís Civitarese
Os olhos de Antônia lacrimejavam. Seus pais a levaram ao médico. “De onde vêm essas lágrimas?”, perguntou a mãe. “É poeira”, avaliou o oftalmo. Era uma grave alergia. Passou soro e colírio anti-alérgico. A mãe usou por quinze dias.
Antônia continuou a chorar. Não era choro. Eram lágrimas que saíam e saíam em silêncio. Saíam de manhã, de tarde e de noite. Saíam sem demonstrar por quê. Os pais se preocupavam.
Resolveram levá-la a outro especialista. A médica nova usava óculos de grau. Examinou os olhos de Antônia com a lâmpada de fenda. E garantiu: “é entupimento do ducto lacrimal”. Por alguma razão, o aquilo impedia a limpeza ocular. Fazia vazar toda a água para fora. Receitou compressa morna e massagem.
Os pais seguiram a recomendação. Em uma semana, não houve melhora. A mãe ganhou vinte fios de cabelos brancos. E se desesperou. Não sabia mais o que fazer!
O pai voltou a fumar escondido. Da onde viria aquilo?
Antônia chorava sem motivo aparente. Chorava comendo, sorrindo e brincando. Chorava sem abrir o berreiro. Era só aquela aguaceira que escorria em contínuo. Dois finos filetes de rio que desciam de sua floresta de cílios. Contornavam as bochechas. E iam parar em todos os lugares. Na roupa, no prato, no travesseiro, nos brinquedos, na blusa do pai.
Um dia, a avó foi visitar. Pegou Antônia no colo, a beijou e abraçou. Contou para ela uma porção de histórias. Comeram cantando o bolo que a mãe tinha feito.
No final do dia, seus olhinhos estavam secos. As lágrimas pararam. Estava feito o diagnóstico. Aquilo nos olhos de Antônia era saudade.
Que lindeza essa história de amor aos avós! Que as lágrimas de todas as Antônias, Antônios e todos os avós sequem bem depressa no calor de tantos braços com saudades de abraçar.