Clotilde foi buscar sua saia na costureira. Tinha deixado lá para fazer bainha e costurar um zíper despregado. A entrega estava marcada para aquele dia. Quando chegou, Dona Carmela foi taxativa: ficou em quarenta reais.
Clotilde teve um sobressalto. “Quarenta? Ela tinha me dito que todo o serviço custaria vinte e cinco”, pensou. Na hora, porém, não emitiu palavra. Entregou-lhe duas amargas notas de vinte e não quis experimentar a saia para conferir o serviço.
Em casa, aquilo incomodou Clotilde. Eram quinze reais de diferença e ela não estava podendo brincar com as contas. “Por que não falei nada?”, perguntou-se, entristecida.
Ficou intimidada com o tom de voz seco e firme da costureira e, principalmente, com suas sobrancelhas pintadas de preto. Aqueles arcos bem aparados surtiram-lhe um efeito paralisante. Desafiavam qualquer cliente a tentar decifrar harmonia em tanta envergadura.
Clotilde resolveu deixar o assunto de lado e terminou o seu dia. Porém, à noite, foi dormir ainda um pouco entalada. Acordou pela manhã sentindo um incômodo na garganta. O tempo tinha esfriado e ela esqueceu uma greta da janela aberta.
À tarde, o mal estar piorou. Percebeu uma sudorese na testa, uma sensação estranha e suspeitou: devo estar com quarenta de febre. Telefonou para sua filha médica que lhe disse:
– Não saia! Estou indo praí!
Quando a filha chegou, examinou a garganta e os gânglios da mãe. Era apenas uma inflamação simples.
– Mãe, vou te passar um remédio. São umas pastilhas para alívio. Devem custar uns quinze reais.
Assim que a filha saiu, ainda baqueada, Clotilde não teve dúvidas. Catou a bolsa do jeito que estava e nem conferiu a porta. A loja de Dona Carmela ficava a alguns quarteirões, ali no bairro.
Respirou fundo e entrou. No balcão, estava uma moça, a sobrinha de sua conhecida costureira.
– Carmela não está?
– Não senhora. Saiu para ir ao banco.
– Ontem estive aqui para buscar uma costura e ela me cobrou o valor errado. Tinha me passado 25, mas na hora, falou 40.
– Ah foi? Não se preocupe. Deixe seu nome e telefone aqui comigo que pedirei para ela te ligar quando voltar. Assim, poderá resolver tudo.
Clotilde assim fez. Saiu de lá para a farmácia e foi comprar suas pastilhas. Não era porque a médica era sua filha não, mas tinha certeza que iria melhorar.
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Dona Clotilde é cada um de nós quando deixamos de exercer nossos direitos por termos nos deixado intimidar pela arrogância alheia. Amei dona Clotilde. Adorei a crônica!