A série austríaca Freud lançada recentemente – ano 2020, pela Netflix, tem despertado interesses diversos. Críticas negativas e positivas. É uma produção em que um personagem real e enigmático para muitos faz parte de uma ficção com conteúdo da imaginação do roteirista.
Curiosidades do que é verdade ou mentira aparecem, como podem ler no artigo de Cristian Dunker ¹
Num diálogo entre Freud e Josef Breuner – outro cientista pesquisador da mente humana do século XIX, Breuner instiga Freud, falando sobre comportamento histérico – até então desconhecido.
– Sabe os mapas antigos? Os hidrográficos? Onde tudo terminava e territórios desconhecidos começavam, eles desenhavam terríveis quimeras e escreviam: Hic sant dracones.
– Aqui há dragões (Freud traduz)
Breuner continua falando sobre o campo do inconsciente humano, ainda desconhecido:
– Um perigo ronda o que não compreendemos.
– Fique longe!
Os mapas antigos representavam como as terras desconhecidas eram monstruosas, como mostra a cartografia antiga.
Fazendo uma analogia com o desconhecido que nos ameaça – o Coronavírus, quimera não domada até o momento. Uma mutação de vírus que invade o corpo humano e o ameaça de morte.
Na antiguidade, o que ameaçava era algo no além território – “lá fora”. Para conhecê-lo, o corpo se deslocou e foi ao seu encontro. Tempo das Grandes Navegações.
A ameaça do Coronavírus inverte essa lógica. Ele provoca uma vivência esquizofrênica – algo pode invadir o corpo da pessoa, é de fora para dentro que o inominável aparece.
Como Freud, muitos cientistas mundiais estão debruçados, nesse momento, em suas pesquisas buscando evoluir a ciência e amenizar as angústias humanas.
Com relação à série e após a conversa citada, Freud manteve suas pesquisas. Ele e sua ciência iniciada há dois séculos ainda despertam curiosidades
Segundo Contardo Calligaris, psicanalista e defensor da série, ela apresenta para que serve a psicanálise. Freud teve uma vida de realizações e enfrentamento de suas angústias. Ousou em experimentos hoje questionáveis.
Vera Iaconelli², também sobre a série: completa: “de quebra, a brincadeira com o ídolo ajuda a lembrar que crença em mitos nunca combinou com a psicanálise.”
Com relação aos pós Freudianos, em tempos de coronavírus estão em intenso trabalho, pois algumas questões aparecem.
Como esse real agressivo será simbolizado?
Jader Andrés Flórez Lópes³ questiona no seu artigo O insuportável no Tempo do Coronavírus, sobre o desconforto de ficar em casa. O lar doce lar que angustia e mostra conflitos familiares?
As falas e piadinhas veiculadas na mídia estão aí apontando isso.
Além das pessoas que não suportam a experiência de estarem com elas mesmas?
Os psicanalistas aumentaram as discussões que envolvem o funcionamento das sessões analíticas on-line. Vivemos novamente nesse mundo em que o “lá fora” ameaça. Foi necessário intensificar essa oferta de trabalho.
Assim é Freud. Enigmático como um grande cientista, ético e desbravador de novos mundos. Até em tempos de Coronavírus, em que muitos anos se passaram após sua existência, ele se faz presente como homem e com sua ciência.
[3] https://zadigespana.com/2020/03/19/coronavirus-el-otro-que-no-existe-y-sus-comites-cientificos/
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