E foi assim que um belo dia o empresário teve que aprender a lavar as próprias meias. Da contingência, não se escapa. Ela veio (e sempre vem) como um desvio na estrada.
O mundo se internou. Nesse interim, a coisa mudou de figura. Planta, não sabia nem aguar. Como se pede uma pizza? Também não sabia.
O pano que se passa no chão usou também para secar a mesa. O banheiro não é auto-limpante e tampouco o lixo caminha sozinho para fora, reparou.
Esse dia chegou para ele. Delegar não era mais possível. Teve que olhar para a sua própria sujeira. Encará-la. Resolvê-la.
Percebeu que apesar do excesso de goma, o colarinho já não estava tão branco. Ele, antes tão vaidoso, passou a evitar se olhar no espelho. Estava sórdido e precisava cortar o cabelo.
Não tinha jogo inédito para assistir na TV. Bebeu whisky quente pois ninguém encheu a fôrma de gelo.
Lençol amassado de dormir, ar viciado.
Mas e aquela pose toda, o gel e o perfume americanos que portava no escritório? Não serviam de nada.
O atributo da vez era fritar ovo e saber ficar em silêncio.
No silêncio, descobriu que precisava falar com alguém.
Ligou para sua mãe. Ela levou um susto. Carinho dele, há quanto tempo não recebia. Nem no Natal ele aparecia mais.
Ligou também para Dora. Arrumou uma desculpa esfarrapada. A ex-mulher o tratou com frieza e ressentimento. Não deu tempo de perceber que ele estava com medo.
À noite, ficou aflito. E como não fazia em muitos anos, rezou. Resolveu pedir a Deus que acabasse com aquilo. Estava sofrendo. Pediu arrego. Não suportava mais tanta solidão e incerteza. Queria sua vida de novo, seu trabalho, sua rotina.
Queria encontrar seus amigos, cumprir seus compromissos, voltar ao movimento. Suplicou para que aqueles dias sombrios chegassem ao fim. Até chorou um pouco, emocionado que estava.
Mas Deus não respondeu.
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