Os tempos são outros! Ano de 2020.
Mês de janeiro. Maria sai de sua casa no interior de Minas Gerais, a água tragou tudo.
Chega para trabalhar como sempre usando calça baixa e justa, de cores vibrantes, camiseta clara e também justa.
Os cabelos pintados de louro, a boca vermelha com um batom aderente. Assim chega e assim saí!
Foi-se oferecido para dormir na casa, não quis. Roupas usadas ou utensílios domésticos? Também não. Ela prefere ir para um abrigo organizado por instituições. Ela é firme. Sem lamento ou pesar, segue na sua arrumação.
Chega fevereiro. Maria já alugou outro apartamento, mas nesse ano as chuvas não ajudaram para grande parte da população mineira de moradias frágeis. Maria ficou sem teto novamente.
Mas, ainda assim, marca sua presença na casa com a mesma presteza e rotina. Nova recusa para ficar onde trabalha de faxineira. A resposta continua a mesma. Quer manter sua subjetividade!
Chega março. Coronavírus! O que fazer com Maria? Como explicar para Maria? Colocamos Maria em quarentena recebendo seus honorários sem trabalhar? Isso não era um dilema, poderia ser feito. Tarefas de cozinhar e higienização da casa – incluindo os lugares onde resíduos humanos escoam pelo ralo – já estavam distribuídas . Mas Maria?
Como fazer com Maria?
Maria é surda, muda e analfabeta.
A conclusão foi deixar Maria seguir seu ritmo. Não era justo aprisioná-la no seu silêncio. Não daria para medir o tamanho do monstro que sua mente construiria e nem explicá-la que isso é temporário. Que iria passar e ela, sobrevivente de vários infortúnios da vida, teria mais esse a enfrentar.
Como explicar Maria?
Chegou Maria, naquele belo dia de março. Como sempre impecável – também com cabelos soltos e escovados. O batom continua vermelho. Nesse dia estava de calça pink. Os primeiros passos de Maria na casa foram seguidos.
Ela passa direto para seu banheiro que é amplo e onde faz seu procedimento de trocas de roupas. Reforçando a necessidade de lavar as mãos quando chega da rua, aqui em sua própria casa. E, surpresa!
Maria coloca sua roupa de chegada e saída no sol. Pronto! Já está informada de algo. Também, são passadas orientações sobre o usa da água sanitária e desinfetante.
O próximo passo era como informá-la sobre a contaminação em lugares públicos. A solução foi um vídeo recebido no mesmo dia.
Nesse dia saiu também com álcool 70% para utilizar no transporte público e onde mais precisar. Será que entendeu a explicação gestual?
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Assim, seguimos, nós e Maria, nesses tempos estranhos. Tempos onde as responsabilidades coletivas mostram que estamos todos juntos no mesmo barco.
Nós e Maria temos de confiar e acreditar que o Estado, o coletivo, o sujeito, que cada um faz e fará sua parte.
Maria conta com você!!!
Ela, no seu mundo silencioso. Esse que tem mais comunicação e percepção do que muitos que a vida contemplou com a dádiva da audição. Falar? Maria fala! Com sua sensibilidade ela conquista sua vida digna.
Não dá para pedir para Maria não vir! Ela aparece – esse é o verbo, mesmo não sendo seu dia de trabalho. Afetos, alento para sua vida ela deve encontrar por aqui.
Maria vem!!! Vamos nos cuidar e vai dar tudo certo!!!
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