Eduardo de Ávila
Dez dias trancado em casa, sozinho, vivo uma experiência inédita. Se tivesse que ficar em prisão domiciliar, seguramente seria terrível, tanto pela imposição moral de uma pena quanto pela ociosidade sem qualquer tipo de solidariedade.
Da maneira que me encontro, apesar da agonia e vontade de ir numa cafeteria, cinema e ver os jogos do time do meu coração, divido com dezenas de centenas de pessoas essa condição imposta a todos.
Nunca utilizei tanto as redes sociais, todas, indistintamente, como estou fazendo nos últimos dias. Me oriento e repasso alguma coisa, não sem antes checar a veracidade.
Incrível que num momento tão crítico e tenso como o atual, ainda apareçam irresponsáveis para disseminar informações falsas (Fake News) e incitar o ódio.
Uma amiga, Paula Alves, jornalista e compromissada com os bons costumes, conta que passa boa parte do dia desmentindo boatos que essas pessoas desqualificadas ficam difundidos nas redes.
O momento é preocupante ao nosso futuro. Os números são assustadores. Sugerem e exigem solidariedade.
Confinado que estou, voluntariamente por entender toda a situação desde o início da semana passada, fui resgatando na memória de ainda estudante na minha Araxá, situações similares estudadas nos livros de história.
A Peste Bubônica, que antes do Brasil ser descoberto, dizimou um quarto da população daquela ocasião.
Nos tempos que nossos pais eram crianças, ou os avós no caso de muitos, foi a Gripe Espanhola. Isso no ano de 1918, espalhando – como agora – pânico, horror e atingindo 500 milhões de pessoas (igualmente contaminando mais de 25% dos habitantes da Terra).
Tudo isso estava apagado na minha lembrança e parecia algo tão distante que talvez tenha sido armazenado na pasta de assuntos desprezíveis.
Quem sabe até desconfiando disso que foi estudado ainda no ginásio. Quem não sabe o que é ginásio que pesquise.
Ao contrário do modo que algumas autoridades constituídas estão tratando o assunto, percebo entre a maioria das pessoas com as quais mantenho relação uma grande preocupação com essa pandemia.
Tem chefe de Executivo que, reiteradamente, como nas chuvas recentes, se vale da situação para usar tragédias de palanque eleitoral. Cuidado, o povo é sábio e sabe distinguir quem está agindo com responsabilidade.
Não me refiro, antes que me ataquem ao eventual presidente da República, que chamou a doença de uma “gripezinha”. Ele, desde os tempos de vereador fanfarrão no Rio de Janeiro, nunca mereceu minha consideração. Tampouco na sequência de mandatos improdutivos no Congresso Nacional.
Agora, acompanhado de 01, 02, 03, … 17, … 38, … 171, … e mais um tanto de ruminantes segue, ora desdenhando a gravidade e noutros momentos se valendo da situação para seus destemperos e de seus seguidores, familiares ou não. Como disse o embaixador chinês, sobre um de seus herdeiros; ”atacado pelo vírus mental”.
Nessa sua literal confusão mental, edita pela manhã uma Medida Provisória suspendendo o pagamento do salário dos trabalhadores por quatro meses. As mortes, por bozovírus seriam superiores às do corona, mas de tarde – talvez refeito do surto matutino – pelo twitter, anunciou retirada.
Ao que nos interessa. Para algumas pessoas sou confiável e cuidadoso, para outros – cada um tem seus motivos – sou perverso.
Tem quem goste e também quem não goste das minhas posições, entretanto, o momento não me permite fazer esse tipo de avaliação. Tenho posição e não interesse pessoal.
Não estamos diante de uma gripezinha, tampouco o Brasil, em passado recente, viveu uma “marolinha”. Naquela ocasião, como agora, o preço foi e continuará sendo muito alto para os brasileiros.
Na atual, serão vidas ceifadas pela irresponsabilidade de quem deveria ter se antecipado ao fato.
Dizer que metade da população já pode ter sido contaminada e que agora não corre risco é desafiar a ciência. Se bem que ciência neste governo não é prioridade.
Permitir que público de seu interesse político eleitoral não faça isolamento social é crime de responsabilidade.
Defender a continuidade de concentração de pessoas, como numa arquibancada de uma partida de futebol é atitude de ensandecido.
Contradizer seu Ministro da área é se julgar um semideus. A propósito, o ministro Mandetta ganhou e merece o respeito dos brasileiros. É uma fruta sadia num saco contaminado de laranjas podres e que se mantém saudável.
Estamos diante de um perigo alarmante e felizmente a maioria da população, sob a liderança de governadores e prefeitos (nem todos), está entendendo diferente.
Vamos vencer esse momento, infelizmente com pessoas combalidas ao final, torcendo para que não seja como nos dois períodos que mencionei no início.
Aquelas ocasiões vitimizaram 25 pessoas em cada grupo de 100. Felizmente, com avanço da ciência (abandonada pelo Governo Federal), essa avalanche não vai atingir números dessa ordem.
Ao final, apesar da calamidade pública e não histeria, que o amor volte a triunfar sobre o ódio.
O ruim do bom senso é que todo mundo acha que tem. Essa frase li num post do Facebook, mostrando que certas pessoas entendem como “bom senso” aquilo querem ouvir.