Com a passagem do dia o8 de Março, dia Internacional da Mulher, lembrei-me de cenas que imagino das conversas que escuto nas minhas caminhadas pelo Parque Eduardo Couri, em BH.
Numa delas – estava eu andando quando me aproximo de uma “corrente” de quatro homens – caminhavam lado a lado. Essa é a maneira que os vejo, sempre por ali.
Faz-me lembrar da brincadeira de criança: “corrente que mata gente, quem tem medo sai da frente.” Pois então, naquela tentativa de ultrapassagem, mas com a corrente impedindo, acabo escutando parte do assunto do dia.
Um dos homens, o que ocupava uma das posições centrais, estava relatando sobre seu encontro com alguma mulher e o assunto era que tinha rolado relação sexual.
A forma do relato e a sua indelicadeza fez um colega – mais sensível e com boa escuta, perguntar: “E ELA?”. A resposta perversa (não encontro outra palavra) veio:
“- você acha que vou comer camarão e perguntar para ela se gostou?”
No momento quase reagi entrando na conserva perguntando para o senhorzinho, de uns 65 anos, se ele sentia gosto das comidas e se distinguia o que comia.
Claro que desisti disso, e também da ultrapassagem, vai que ele imagina que eu estava provocando? Diminui o passo e deixei a “corrente que mata gente” seguir seu rumo.
Pensei, posteriormente, sobre o assunto e sobre o significante usado por ele: CAMARÃO. Se o esse homem estivesse relatando isso num consultório de psicanalista, provavelmente a escuta seria: Ca – AMARÃO.
Sim, é de amor que ele falava. Ele nem deve saber que deseja isso.
A pergunta feita pelo seu colega de caminhada, naquele momento, foi magistral: “E ELA?” Pergunta eterna que todos carregam.
E Ela – a mulher, a mãe – aquela que deu o consolo primeiro para o desamparo humano – o das Ding, segundo Freud.
Aquilo perdido e que sempre será buscado e nunca alcançado. O que Lacan poeticamente define como: “reencontramo–lo no máximo como saudades.”
E do lado das mulheres? Tem as correntes também. E em outro belo dia escuto as colegas de caminhada, quando também tentava manter meu passo.
Seguiam em quatro, uma dela ereta, passo firme e duro. A conversa rolava sobre suas atividades diárias.
Ela liderava a prosa dizendo que fazia aquilo, aquilo outro e mais isso… Uma colega intercepta e explicita: “amiga você faz muitas coisas!”. E o retorno é divertidíssimo:
“ – amiga depois que seu marido fica pijamoso e chineloso, você tem de ter muitos grupos. Eu tenho de bordados, de ioga, de caminhada, do buraco” e foi…
São acontecimentos com duas posturas diferentes entre os homens e as mulheres.
Uma de respeito – para a esposa, o jeito chineloso e pijamoso não parecia ser um problema.
E ela continua se reinventando buscando amigas para compartilhar a vida.
Em contrapartida, do lado dos homens… O colega de caminhada realmente precisa de uma análise.
Por que há tanta violência por parte dos homens? Por que agridem as mulheres física e psicologicamente? Essa é uma pergunta que quero deixar para ELES.
As lutas femininas não ficaram no passado, como era de se esperar para o século XXI.
Bastas ver as estatísticas sobre agressões, feminicídios, equivalência salarial e etc’s.
Assim, é importante o Dia Internacional da Mulher? Sem a menor dúvida. E o que queremos é respeito, e especialmente igualdade de direitos como: salários equiparados; o de ir e vir sem ameaças; o de se posicionar na vida conforme o próprio desejo e porque não de amar?
E a pergunta fica: “E ELA?”
Parece que muitos homens não a respondem bem.
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