Depois de um ano sumido, encontrei o saudoso lançador branco de Beyblades. Aquele mais poderoso e que funciona em duas posições. Estava caído no fundo do balde de espadas. Meus filhos ficaram maravilhados!
Aprendi finalmente todo o potencial do robô aspirador, que conheceu cada canto da minha casa e os revisitou diversas vezes. Já planejo adotar sua prima e futura companheira, a utilíssima robô que passa pano de chão.
Terminei de ler meu livro.
Percebi que o tapete da sala de tv precisa urgentemente ir para a lavanderia, dada a quantidade de texturas bizarras e não-peludas que pude sentir ao pisá-lo com os pés menos apressados.
Achei também minha caneta de 4 cores rosa, favorita, que estava sumida dentro de um diário esquecido.
Com o marido, pinguei alguns pingos nos is que ficaram faltando desde a última reforma ortográfica. Com a sogra também.
Falei mais um daqueles “nãos” difíceis e que estavam travados transversalmente no esôfago há muitas e muitas situações. Quanto alívio.
Fora um bocado de lixo que foi jogado fora. Um perfume de flor de laranjeira que adquiri para a sala. Assisti a “Boyhood”, que queria ver há tanto tempo.
Tivemos tempo de contar histórias, jogar forca, sair para almoçar, nadar no clube. Meninos dormiram tarde, tiveram um jantar à base de pipoca e um almoço de pastel e picolé. Muitas coisas boas.
Reaprendi a única música que sabia tocar no violão na adolescência. Prazer aproximado a um Oscar, considerando-se o grau de ferrugem nas falanges.
Tirei de circulação as blusas das crianças que estavam pequenas (e as que sempre achei feias), acabei o trabalho da pós-graduação, fiz as unhas e a sobrancelha.
E talvez, o mais importante. Em cada ato e gesto, menos automatismo, menos pressa e um pouco mais de consciência. Como se finalmente tivesse conseguido colar alguns pensamentos na cabeça. Criar memórias para a rotina.
Quando me perguntarem o que fiz no Carnaval, direi a verdade: nada. Mas um nada cheio banalidades tão fundamentais e tão, mas tão necessárias.
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