Tenho um amigo que conversa tranquilamente no celular quando anda pela rua. Ele diz que a ideia de ser assaltado lhe assusta menos do que a sensação de privar-se de usar seu aparelho onde bem quiser.
Quando mais nova, meu pai dizia para nunca pagar adiantado por um serviço. Que eu sempre pagasse ao recebê-lo, ou que, no máximo, desse apenas uma entrada na contratação.
Em um certo janeiro, ao me mudar de casa, recebi um rapaz para refazer as cortinas da sala.
Ele me deu um descontão à vista e aquilo me alegrou de uma maneira. Fiz o cheque. Quinze dias mais tarde, elas estavam aqui encharcando na chuva, pois tínhamos deixado a janela aberta.
O sol da confiança e da fé na honestidade alheia, no entanto, brilhava em minha autoestima.
Naquela época, decidi que olharia a vida com outros olhos, reservando uma pequena poupança de ansiedades para serem dedicadas às crises familiares de saúde.
De resto, preferiria confiar nas pessoas e, especificamente, nos vendedores de bolsas e cortinas.
Algum tempo mais tarde, um comerciante do Instagram me levou uma moto zerinho em calote.
Não foi nada agradável perceber que eu tinha sido enganada por meu ponto fraco em acessórios.
Ao puxar a ficha do sujeito, constatei que era um experiente vigarista. Já tinha roubado umas 30 pessoas, e essas, apenas dentre as que o Google conhecia. Por que não vi isso antes?
Pensei em denunciá-lo à polícia, ao Procon e a todos os possíveis órgãos competentes.
Porém, resolvi que a amolação custaria lembrar desse desgosto por meses. E, infelizmente, eu não tinha provas.
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