Ouça o seu coração. Não importa se ele vai te mandar entrar em uma fila enorme para comprar uma roupa que você não tem dinheiro para pagar, ou se ele vai te dizer para sair de casa com sombrinha, mesmo com o seu cérebro dizendo – sombrinha, para quê? Tá fazendo 40° graus em Belo Horizonte. Carrega sombrinha só quem é bobo.
A parte boba de mim está rindo, enquanto a que se acha esperta está torcendo as meias em uma marquise.
Ah, Belo Horizonte. A saudade que eu senti de você foi apagada da minha memória no momento que tive que subir dois morros por ter descido do ônibus no ponto errado.
Você me desaponta toda vez que me promete sol e calor, com direito a uma gelada na Sapucaí na sexta-feira à noite, e me entrega uma avenida Amazonas alagada, onde o caos impera.
Eu confiei em você, quando disse que a sua comida era a melhor do mundo, mas você me entregou um pão de queijo queimado, enrolando em um saquinho de papel, só por que eu não prestei atenção no produto que a atendente embrulhava.
Eu jurei para o mundo que as pessoas daqui eram legais, até eu ter que voltar para casa às pressas, depois de que alguém com pressa passar correndo por mim e pela minha correria, e me banhar com o líquido gelado das poças d’água.
Eu me pergunto que mal te fiz. Te magoei por não saber latim, e não poder entregar sua mensagem de ordem em preto e vermelho pelo mundo?
Te desapontei por não me expressar tanto pelo uai, e usar o diminutivo apenas quando necessário?
Virei as costa para você, depois de olhar para o mar e pensa que, talvez, te trocaria pelas águas cristalinas que não parecem ter fim?
Pois bem, sugiro que façamos as pazes. Nem água cristalina, nem pão de queijo queimado vão me fazer desistir de você.
Eu ficarei aqui, rodeando seus morros e tentando não me afogar nos seus alagamentos. Juro que serei mais paciente quanto a minha sexta-feira à noite.
Agora, se você me dá licença, terei que me ausentar por um momento. Começou a chover dentro do escritório. Talvez se eu for lá fora me molhe menos.
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