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Um travesseiro por noite

Foto: Arquivo Pessoal – Marco Zero, Refice Antigo – Um travesseiro por noite
Victoria Farias

Eu estava mal acostumada com as montanhas em minha janela e a falsa sensação de acolhimento que me passavam, mas isso não é de tudo ruim.

Certamente, o que eu encontrei além delas me trouxe um sentimento muito melhor.

Não, hoje não é quinta-feira. Ainda é segunda mas eu não sei precisar muito bem o dia.

Peço licença a cara cronista de viagem, pois gostaria de contar a você, meu amigo leitor, um pouco do que eu tenho descoberto no turismo além pão de queijo.

Nessa despedida de década, me despedi do meu travesseiro e fui em uma incursão ao nordeste. Eu, literalmente, subi Bahia¹ e desci Floresta.

Passei, exatamente, um dia e uma noite em cada cidade, tentando perceber ao máximo tudo aquilo que me era apresentado, e me prendendo em cada olhar, feição e gesto de cada pessoa que conhecia, com o intuito de levar essa nova sensação para casa.

Comecei de um jeito meio torto, com saída de Belo Horizonte, escala no Rio de Janeiro, e ponte para Salvador.

Toda vez que o avião levantava vôo eu tinha certeza que ia morrer, por inúmeros motivos que farão essa publicação parecer mórbida se forem numerados. Mas eles valeram a pena.

Salvador vista de cima à noite foi a coisa mais bonita que eu já pude presenciar na minha curta e inexperiente vida.

Essa pintura ficará para sempre marcada na minha memória, e fez valer os votos póstumos que fiz na minha cabeça.

Na cidade redentora, fui a igrejas banhadas a ouro e a praias onde a maré subia um pouco a cada hora e no horizonte não se via nada além de uma imensidão azul.

Daí, tirei duas certezas: a terra não é plana e o Big Bang não fez isso tudo sozinho.

Parti, enfim, para Pernambuco, para o abraço de uma amiga. Um fato interessante da cidade é a estranha síndrome coletiva e megalomaníaca que os Recifenses possuem.

Foto: Arquivo Pessoal – Museu Brennand – Um travesseiro por noite

Para eles, Recife é maior tudo. Inclusive em ser a maior menor capital do Brasil. Não os culpo. Se eu fosse colonizada pelos holandeses, também faria disso um grande ato.

Lá, encontrei pessoas extraordinárias que olhavam para o céu enquanto se perguntavam o motivo de não ter uma nuvem para amenizar o calor escaldante.

Mas o nem tempo seco, nem os passos largos me incomodavam. Estava extasiada com a companhia, e isso bastava.

Ainda não terminei meu desbravamento por terras distantes, e dia 8 está muito longe.

Mas, se fosse para findar por aqui, já seria o suficiente, e deixaria como lembrança um poema de Jorge Amado, sussurrado em uma exposição no Recife Antigo:

Tu serás para mim, a minha única esperança“.

Para saber mais:

 ¹ “A minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta.”
Rômulo Paes

Victória Farias

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