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Que súdito sou eu?

Eduardo de Ávila

As lembranças de um bebê são apagadas, mas creio conservar alguma coisa, ainda que no inconsciente.

Antes de falar e andar, já tinha, através da introjeção, sinais que a vida que me esperava não seria nada fácil. Não nasci como Rei e sim como súdito.

Meu carrinho de controle remoto era um pedaço de madeira, meu gado numa fazenda/fantasia eram laranjas ou limões, e a bola de capotão era sempre de plástico frágil que furava a um chute fraco.

Serviu, no caso da bola, para mostrar minha primeira frustração. A bola não me reservava futuro. Entretanto, me ensinou a gostar de futebol, inicialmente seguindo meu pai até que descobri o time do meu coração.

De alguma forma, essa carência material nos primeiros tempos, e que foi agravada por um terrível e covarde “bullying” na adolescência, provocaram profundas transformações numa programação de vida que poderia ter sido muito diferente.

Se melhor ou pior, não tem como avaliar, mas acredito na segunda, uma vez que me sinto feliz e completamente realizado.

Meu fraco desempenho escolar no ginásio e cientifico (fundamental e médio, exceto o primário), evidente que em consequência daquela situação, não me impediram de concluir e bem dois cursos superiores. Direito e Jornalismo.

O segundo é minha atividade profissional, que conta com indiscutível presença da primeira formação. Tenho um bom trabalho e gozo de boa reputação profissional.

Me sinto realizado e isso me bastaria, mas sei o exatamente como foi – passo a passo – pra chegar até os dias de hoje.

Para esconder uma quase indisfarçável timidez, tive de reagir e me transformar num irreverente e até – ainda que eventualmente – excêntrico “rapaz” em busca de expulsar esse desconforto pessoal.

Muitas deles ainda conservo e não vou me abdicar de conviver pacificamente com essas reações. Afugentam aos que tentam me intimidar.

Sou feliz, sou solidário, me permito conviver com quem quero e gosto, não fazendo rodeios aos que me desagradam.

Contando não enchem os dedos de uma mão o número de desafetos que colecionei ao longo de mais de 60 anos.

Não estão somados, claro, aqueles que me odeiam por razões desconhecidas e sem nunca ter tido um dedo de prosa comigo.

Tem os que não gostam de minha pessoa por condenar minhas opções eleitorais (já tive mandato e não pretendo arriscar mais nessa área), pelo meu time de futebol e até mesmo – acreditem – por detestar a minha barba.

Alguns chegam a arriscar a motivação dela (barba que comprova minha extravagância), com afirmações delirantes e até levianas.

Se não gostasse e assim entendesse, bastava ir na “Barbearia Freitas” e pedir ao Rangel para passar a máquina no rosto.

Entretanto passo por lá, uma vez por mês, para aparar e ajustar sem impedir seu crescimento.

A barba, que me acompanha o ano todo, faz a minha alegria e de milhares de crianças, idosos e pessoas especiais no mês de dezembro.

Talvez os críticos disso, não saibam o quanto é gratificante passar por creches, asilos e escolas anualmente. Mas, sobre isso, conto na próxima semana.

Ótimo Natal!

*fotos: arquivo pessoal

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