Em meio à dispersão do mosquito Politicus polarizadus, comemorar certa notória e controversa soltura pode ser o estopim da Guerra dos Cem Anos nos grupos de WhatsApp ou mesmo a ruína dos almoços em família.
Ainda assim, não haverá escrúpulos que me impedirão de festejar a maior das grandes liberdades: “Um Dia de Chuva em Nova York” está solto. E o novo filme do Woody Allen passou nos cinemas.
Assisti ao lançamento num desses finais de semana — de chuva. Não escolhi a poltrona, nem comprei pipoca. Fui direto ao prato principal, que era servido na telona do Belas Artes.
E empanturrei-me os sentidos de belíssima cinematografia, acompanhada de generosas fatias de jazz e uma redução formidável de humor cítrico — tudo isso finalizado em calda limão.
Prato cheio para fãs de Woody Allen, que saíram do cinema lambendo os beiços e com as bocas repuxando de gosto amargo.
Já era hora, afinal. “Um Dia de Chuva…” foi cozinhado em banho-maria por ano e meio nas cozinhas cheias de ratos e baratas e sujeira da Amazon.
A produtora decidiu engavetá-lo após Woody reaparecer às voltas com mesmo velho fantasma de sempre — a acusação de ter assediado a filha adotiva, Dylan Farrow, então com seis anos.
Fato imputado, embora jamais comprovado. Mas que custou ao prolífico artista de 84 anos — foram 48 filmes lançados nos últimos 49 anos — um insólito hiato até que a exibição nos cinemas fosse acertada no último mês. E “Um Dia de Chuva…” conseguiu liberdade provisória.
Mas aguarda a sentença de uma sociedade de promotores da falsa moral e de juízes dos bons costumes misóginos, racistas e homofóbicos.
Sorte a nossa que comemoramos a libertação de uma obra que já nasceu condenada. Os Estados Unidos, inflamados pelo MeeToo — movimento de incontestável envergadura, mas, por vezes, radical — anunciaram um boicote ao diretor.
“Um Dia de Chuva” se apagou nos cinemas de lá. Tornou-se mais uma noite fria, escura, sem estrelas, nem chuva, numa Nova York sem jazz.
Sequela devastadora do implacável mosquito Politicus poralizadus, que espalha discórdia e confusão por onde sobrevoa, à esquerda e à direita do globo.
Alucinações ideológicas, manchas na alma, dores pelo corpo e até o isolamento de amigos e familiares são alguns dos sintomas da doença. Em último estágio, renega-se a arte.
Foi sob esse quadro crítico que um dos mais célebres enfermos recusou-se a assinar o prêmio Camões ao Chico Buarque.
Da mesma forma, foi o que levou a uma hoste de militantes febris a atacar a Flip 2020 pela homenagem à indispensável Elizabeth Bishop e um maestro moribundo a declarar que Os Beatles são música do capiroto.
Se, ao menos a picada do Politicus polarizadus nos levasse para mais perto do John Lennon, eu ofereceria o meu braço.
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