Daniela Piroli Cabral
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Há um conhecido provérbio chinês que diz: “Há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada, a oportunidade perdida”.
Tudo bem, a palavra, quando dita de impulso, de maneira reativa, tem potencial para gerar enormes estragos.
No entanto, hoje eu quero falar exatamente sobre o contrário. O potencial danoso que têm as palavras quando elas faltam, quando precisam ser ditas e não são.
Tenho a convicção de que muitos desentendimentos, desencontros e mal-estar poderiam ser evitados.
Num mundo cheio de possibilidades de comunicação, em que todos “falam demais”: por aplicativo, computador e smartphones, às vezes, às pessoas pecam por falar de menos.
Mas digo sobre o falar assertivo, responsável e endereçado ao interlocutor.
Outro dia escutei a conversa de dois amigos reclamando da atitude de um terceiro amigo, que, no encontro da turma, “filava” as cervejas dos colegas.
A comida seria rateada por todos os participantes, mas a bebida, cada um levaria a sua.
Segundo os colegas, este terceiro amigo “filador” chegou de mãos vazias e rodou de mesa em mesa experimentando sem cerimônia até as cervejas artesanais mais raras e caras, o que gerou um grande mal-estar.
Eles questionavam um com o outro o porquê do rapaz agir assim, já que, segundo eles, dinheiro definitivamente não deveria ser o problema.
Escutei calada a história, mas cá pensei com meus botões: “Esse colega devia ter chegado lá dizendo com tranquilidade que não teve tempo de passar no mercado e perguntado gentilmente se poderia beber as cervejas trazidas pelos demais”.
Talvez, essas palavras amenizassem o desentendimento por clarear a situação e evidenciar uma certa “verdade” na ocasião.
Eventualmente, a gente também se cala por não saber o que dizer. Um paciente reclama da sua chefe que não responde ao e-mail sobre as sugestões dele na reunião.
E ele afirma categoricamente: “Tenho certeza que ela não respondeu porque não sabe o que fazer com minhas sugestões. Mas não poderia me enviar ao menos um “ok, recebido?”.
E é isso mesmo. Às vezes uma resposta: “Olha, não sei o que dizer, não tenho resposta ainda, mas vou pensar, avaliar com mais cuidado e te retorno em breve” evitaria ansiedades, conflitos e fantasias.
Quando a palavra falta, ela deixa margem para que as fantasias se desenvolvam no imaginário alheio.
Quando as palavras faltam, nem mesmo o amor acontece. Vale a pena conferir o vídeo de Christian Dunker sobre a palavra e os afetos.