Muitas coisas vieram à minha cabeça após ter aceitado o convite para escrever no Blog Mirante. Relembrar meu percurso com a escrita foi algo muito marcante.
A começar pelo meu nome composto: Sandra Belchiolina. Sandra veio de uma personagem das “redações” de minha mãe, conforme ela conta.
Belchiolina é um nome da família paterna. Tem Belchiorina para mais de cinco gerações passadas. Minha avó também portava nosso nome. Talvez não tão nosso porque o meu tem uma modificação devido à sonoridade, conforme afirma minha mãe.
Tive uma privilegiada infância, entre morar ao lado de um sítio, uma área de preservação, e há dois quarteirões da praça principal de Lagoa da Prata.
Assim, vivi entre as historinhas contadas por meu pai e as brincadeiras com irmãos e amigos. Aos quatro anos já tinha vivido também coisas muito traumáticas como a queimadura de uma perna e a perda de um irmão.
Mas a fantasia me salvou. No colo do meu pai, fui muito às “Festa no Céu” e rolei nas folhas de “Dona Onça e Seu Coelho”. Creio que histórias criadas por ele.
Hoje, na condição soberana de vovó do João, revivo a “Festa no Céu” e nos deliciamos com as algazarras dos pássaros.
Ele contribui com as sonoplastias. A do “Bem-ti-vi” é ótima! E a encena, também, com movimentos de pescoço.
Então, assim é o tempo! De lá para cá, houve o tempo da escolaridade e aprendizado das letrinhas. Aí a coisa pegou. Sempre fui boa aluna, mas de poucas palavras e tímida.
A primeira redação proposta por minha professora: Qual seu melhor brinquedo? Fiz uma “redação” de uma linha: gosto de esguichar água e brincar com barro (ponto).
Nada mais nada menos. Queria relatar a experiência e não tinha nada mais para falar. Provavelmente, na semana em questão, havia brincado com um frasco enchido de água e jogando nos irmão e/ou amigos.
Morávamos numa casa com quintal, assim terra e água davam uma boa brincadeira.
A negação para escrever um texto continuou na adolescência. Certo dia, envoltas de outra redação, não a fiz. Solicitei uma colega que fizesse para mim.
O professor fazia sorteio de quem iria ler. O que aconteceu? Fui à premiada. Lia o texto engasgando, não me representava em nada.
Minha colega construiu um texto muito romântico, ela adorava ler “Sabrina”. Claro que o professor perguntou se havia escrito, respondi que não.
Outro episodio foi num final de ano, já no 2º ano do antigo segundo grau. Havia passado em tudo, inclusive em português. O que me aparece para fazer na prova final? Uma redação (não era comum na época).
Adivinha se fiz? NÃO! Consequentemente, fui chamada pela Profa. Marli à sua casa. Ela deu-me novamente a chance da escrita. Fiz? NÃO.
Ela, sabiamente, me falava que eu sabia o que seria no futuro e que era importante dominar a escrita.
Não em convenceu. Resultado, no ano seguinte, separou-se um dia da semana para as redações. Claro que tive que ler as minhas.
Perdi o contato com a Profa. Marli, ela mudou-se para outra cidade e eu vim para Belo Horizonte continuar os estudos. Gostaria muito que soubesse que tenho essa doce memória.
Fato é que, passados muitos anos, a vida me transformou numa mulher com mais palavras e até me arriscando na escrita. Na primeira pós-graduação que fiz, chorei muito em cima do texto.
A experiência, vivência e percepção não é algo tão simples de ser passada para o papel. O acerto nas palavras para se transmitir exatamente o que se quer dizer é uma tarefa complexa.
Com o tempo você descobre que, mesmo o texto estando de acordo com o que pretende ser passado, alguém fará outra interpretação. Aí descobrimos que escrevemos para nós mesmos. Ai que alívio!
A Sandra, personagem das redações de minha mãe, ficou na sua memória. Trago a poesia familiar e sonoridade do Sandra Belchiolina para minha vida.
Brincadarei de barro e água (Ponto).
Voarei para festa no céu com o João (Ponto).
Escreverei …
Não sei o que na próxima semana … (reticências ).
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