Caríssimas e caros leitores, a partir de hoje e toda quarta-feira, vamos passar a contar com a participação da Daniela Piroli. Aceitou o convite e desafio deste blog para trazer temas interessantes ao nosso debate. Estive no seu divã por longo período, tendo ela suportado minhas incoerências, dúvidas, medos e tudo que a vida brinda a cada um de nós ao longo dos tempos.
Quem sou?
Daniela Piroli, psicóloga clínica, graduada também em terapia ocupacional, curiosa sobre a vida e o mundo humano. Aceitei este desafio de “falar” sobre a psicologia da vida cotidiana pois acredito ser uma forma de aproximar as pessoas de temas que às vezes são tão distantes na teoria, mas tão próximos de nós no dia a dia. Relacionamentos, comportamento, trabalho, comunicação, tecnologia e saúde serão abordados por aqui de maneira informativa e reflexiva. Espero que possamos ter bons bate-papos por aqui.
Vamos começar pelo fim
Falar sobre a morte na sociedade atual tornou-se difícil. Conseguir viver o processo de luto decorrente dela, mais ainda. A clínica nos mostra cotidianamente que a pressão do tempo e a cultura do hedonismo a que estamos expostos nos impõem uma forma quase desumana de lidar com a morte.
Recentemente, atendi em meu consultório uma senhora fortemente deprimida por causa do falecimento do seu marido, companheiro de uma vida inteira. Ela se recusava se alimentar, passava dias e dias sem sair de casa, sem querer fazer nada, nem mesmo cozinhar, atividade que desempenhava com maestria e prazer até então. O que me chamou atenção, no entanto, não foram os sintomas positivos para um diagnóstico de depressão grave, mas sim uma fala que vinha revestida de profunda angustia: “Estou fora do tempo, não estou acompanhando o tempo, o celular, a internet…” Ou seja, o luto pela perda do marido trazia em seu bojo um forte agravante, um alheamento do tempo e do espaço em que ela se inseria.
Os avanços da medicina em prolongar a vida e a pressão para “estar bem” diante do outro e estampar a felicidade nas ruas e nas vitrines virtuais fazem com que a nossa sociedade contemporânea se recuse a reconhecer a mortalidade como condição humana e também não proporcione espaço e tempo adequados para viver a dor do luto e aceitar a finitude como condição própria do viver. Acabamos sentindo-nos culpados por não estar bem, por estarmos tristes ou angustiados, enfim, por estarmos experimentando sentimentos essencialmente humanos.
Alguns estudiosos contemporâneos nos dizem que os conflitos, as perdas e os sofrimentos sempre existiram na história humana. Ressaltam, porém, que as mudanças sociais trouxeram uma certa fragilização dos laços sociais e das solidariedades, produzindo um contexto de silenciamento sobre os processos de dor e de isolamento e solidão daqueles que sofrem.
Escolhi começar pelo “fim” neste primeiro texto de inauguração aqui no “Mirante – Observatório do Cotidiano” para dizer que, se considerássemos a morte daqueles que amamos ou a nossa própria morte numa perspectiva mais próxima de nós, muito possivelmente teríamos mais clara a noção de valor e de prioridade. Muito possivelmente, nossas atitudes seriam diferentes daquelas que estamos habituados a ter e aceitaríamos melhor a nossa “humanidade” e daqueles com os quais convivemos.
E você? O que pensa a respeito? Compartilhe sua experiência conosco.
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