Há exatos doze dias, aqui neste espaço, comentei sobre o total e completo desinteresse do torcedor em relação aos jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo que se aproximava. Manifestei, na ocasião, que aprendi a torcer pelo Brasil com o tricampeonato de 1970. Ainda muito jovem e morando no interior – Araxá –, pude ver a Copa pela primeira vez na TV (preta e branca) com a inesquecível narração do saudoso Geraldo José de Almeida.
Depois, já morando em Belo Horizonte, acompanhei todas até os dias de hoje. O clima de euforia, em todas elas, sempre dominava ruas, janelas, carros com adereços, saudando o time brasileiro em busca do tetra e depois penta. Chegamos a essas marcas nas Copas de 1994 e 2002, nos Estados Unidos e Ásia, respectivamente.
Nas demais, a frustração tomou conta e deixou o país num clima de velório. Em 1974, eliminados pela Holanda; em 78, numa maracutaia envolvendo Peru e Argentina; em 1982 e 1986, sob a batuta de Telê Santana, com eliminações lamentáveis e que merecíamos melhor sorte. Já em 1990, foi um horror. Em 1998, deixou algo sem explicação por parte da CBF.
As três seguintes (2006, 2010 e 2014), já sinalizavam certo desinteresse do brasileiro, mesmo na última, que aconteceu em nosso território e fomos eliminados naquele vexame de 7 a 1 pela Alemanha. Faço essa digressão no tempo em que acompanhei, para chegar onde pretendo. O desinteresse seria do brasileiro ou do futebol pelo mundo?
Pois bem, durante a Copa de 2014, parte dela estava em passeio pela Europa. Passei pela Inglaterra, Espanha, Itália, França e Portugal. Entre todos eles, apenas a França seguiu após a fase de grupos, só sendo eliminada nas quartas de finas pela Alemanha, que acabou levando o título. Itália e Inglaterra, de favoritas, foram eliminadas num grupo onde tinham Uruguai e a surpreendente Costa Rica. Diga-se, próximo adversário do Brasil nesta atual competição.
Afirmo com convicção, que enquanto estive por lá, a Copa do Mundo dominava o visual daqueles países e os torcedores iam para as ruas em apoio às suas seleções. Neste ano de 2018, mesmo ficando quieto por aqui, tive feedback da minha filha. Ela esteve recentemente no Peru e está passeando agora pela Argentina e Uruguai.
No primeiro deles, seguramente pelo longo período fora da competição, o ambiente era de absoluta empolgação. Argentina e Uruguai, tradicionalmente, se envolvem muito com a Copa do Mundo. Talvez pelo fato de o Brasil ter cinco e os dois estarem bem atrás disso.
Ocupei-me ontem, sem muito entusiasmo, de acompanhar a partida do Brasil. Vi o primeiro tempo num barzinho. As pessoas, diferente de anos atrás quando não tiravam os olhos da TV, preferem o bate papo paralelo ao jogo. No intervalo, voltando para casa, pude notar que os bares estavam vazios, num clima totalmente alheio à disputa. Já na minha sala e isolado, pude até perceber que o locutor da emissora oficial do Brasil, o tal Bueno, numa inequívoca prova de falta de motivação, trocava nomes dos jogadores.
O empate foi tão decepcionante quanto a constatação de que o brasileiro perdeu completamente o interesse pela Seleção. Nem o erro grotesco do juiz – similar aos que os árbitros brasileiros cometem sistematicamente – foi motivo para resenhas de reclamação. O destaque, a meu juízo, ficou por conta do zagueiro Miranda. Reclamando de uma possível irregularidade no gol da Suíça, disse que “deveria ter se jogado ao chão” para o juiz ter marcado falta nele. “Malandragem” ou “maracutaia”? Própria da CBF.
Pelo que percebo, as instituições nacionais – públicas ou privadas – estão em total descrédito. O brasileiro não acredita nas autoridades públicas, não bota fé na gestão questionável da CBF, ocasionando essa situação. Nenhuma rua pintada, pouquíssimos carros com bandeira do Brasil, e quase nenhum movimento naquelas regiões que eram comuns a aglomeração de pessoas para acompanhar e torcer pelo Brasil. Triste realidade!
Caro Eduardo,
na ausência de uma equipe alvinegra que realmente me inspire torcer e comentar, vou tentar traçar um paralelo da seleção brazuca do seu interessante texto com a tradicionalmente alvinegra Alemanha (e que os astros queiram, nunca mais rubro-negra como em uma certa noite no Mineirão).
Bem, vou falar da seleção teutônica e do interesse do público alemão por ela como um testemunho, já que acompanho “in loco” a evolução desse público desde bem antes do que eles chamam “sonho de verão”, que foi quando sediaram o evento em 2006.
Eu os tinha acompanhado na vitoriosa campanha italiana (eu seguindo aquela horrorosa armada de Brazzarone) e então os tinha visto como torcedores bastante similares aos demais, com suas bandeiras, uniformes e etc.
Ledo engano. Depois vim a saber que se tratava de torcedores de clubes fantasiados de Alemanha. Cheguei ao país naquele momento em que eles eram recém campeões do mundo, com aquela excelente trupe que apresentava Matthäus, Klinsmann e outros, percebendo um público que nada tinha de recém campeões do mundo depois de duas derrotas em finais. Eu ainda sonhava com o tetra, e com o modo como esse título seria festejado no Brasil, e do meu sonho eu não via nada refletido nas tricampeãs ruas alemãs.
Chegaram outras copas … 1994, 1998, 2002 … eles continuavam seguindo sim sua seleção, mas de um modo para os nossos padrões bem contido. Para a final de 2002 sim eles até se prepararam bastante. Montaram telões, organizaram festas, mas a sensação de “torcida” não existia.
Tudo mudou em 2006. Para todos inesperadamente.
À medida em que a abertura do evento ía se aproximando, os alemães foram se identificando com a festa. E vendo o modo como os demais torcedores portavam inocente e orgulhosamente as cores de seus países enquanto eles ainda se viam amarrados às imagens de uma história já nem tão recente, mas que tanto consciente quanto inconscientemente os impedia de terem prazer em vestir qualquer sentimento nacionalista.
Aos poucos os mais jovens foram tomando coragem, e, visto a repercussão positiva também por parte dos visitantes, de repente todo o país se vestiu de preto, vermelho e amarelo. A falta de grandes aspirações esportivas na competição aliada à positiva surpresa dos resultados gerados pela equipe do agora técnico Klinsmann foi um catalizador para a festa. Pela primeira vez depois de mais de 60 anos os alemães tiveram coragem – e o prazer – de “vestir a camisa” do próprio país.
Desde então, nas duas copas seguintes, 2010 e 2014, voltamos a reviver na Alemanha o costume das cores nacionais em todos os lugares – nas janelas, nos carros, nos transeuntes.
Aí chego às conjecturas da falta de interesse dos brasileiros atualmente pela seleção canarinho.
De problemas com o país – corrupção, desemprego, além da ruptura da sociedade por questões políticas até a descrença na CBF e decepções nas participações anteriores da Copa do Mundo – várias razões teríamos para usar como causa do desinteresse.
No entanto o mesmo eu não posso dizer da Alemanha neste exato momento.
Economicamente o país vai muito bem, taxas de desemprego a níveis historicamente baixos, e além disso eles vêm de nada menos que um convencedor título mundial, além de terem uma equipe na qual eles próprios acreditam (mesmo depois da apresentação contra o México).
E mesmo assim esta copa “não pegou”.
A Copa do Mundo já acontece há 4 dias, e ainda não vi absolutamente nenhum carro com bandeira da Alemanha. Ou janela. Ontem vi no metrô alguns alemães com a camisa da seleção alemã provavelmente a caminho da casa de amigos para assistirem juntos à primeira partida da Mannschaft. Mas isso foi tudo.
Não tenho uma explicação para esse desinteresse. Não é por questões políticas, não é por questões econômicas, não é por questões esportivas.
E já ouvi falar que também na Espanha e em Portugal a situação é parecida.
Acho que ultimamente há alguma coisa no ar que tem atingido a todos. O mundo está vivendo um momento estranho. E provavelmente tem sim a ver com política. E logicamente não com PT, PSDB, MDB e brazucadas várias. Mas com um sentimento talvez inconsciente de que o nacionalismo neste momento é alguma coisa que pode nos trazer problemas. A todos.
Essa é a minha interpretação. Ou mais que isso, uma sensação “intestinal”.
Possivelmente haverá outras.
Um abraço e perdão pela prolixidade.
Oi Eduardo e Amigos, boa tarde!
Realmente, o povo brasileiro perdeu o interesse pela copa do mundo e principalmente pela seleção. Eu mesmo me incluo neste contexto.
Agora, o desinteresse está atrelado ao caos que o país vive, motivado por políticos corruptos.
Outro fator desestimulante, principalmente para nós sexagenários, é que nas décadas passadas, a seleção brasileira era formada por jogadores que atuavam aqui no próprio país. Era prazeroso ver um de nossos ídolos vestindo a camisa canarinho. Todos nós tínhamos a seleção na ponta da língua.
Agora, a seleção brasileira é totalmente “internacionalizada”, composta por jogadores pouco conhecidos pela maioria dos brasileiros.
Eu mesmo, sei escalar os 11 ministros do STF e não sei escalar os 11 do time do Tite.
Como você bem disse, triste realidade. Não temos nada a comemorar.
Saudações,