Oscar 2025 – Setembro 5

Setembro 5 (September 5, 2024) – indicado em uma categoria: Roteiro Original.

Em 5 de setembro de 1972, uma equipe de televisão americana especializada em esportes se prepara para cobrir os Jogos Olímpicos de Verão em Munique, Alemanha. De repente, chega a notícia de que um grupo invadiu o alojamento dos atletas e fez a comissão israelense de refém. A pauta muda completamente e a equipe precisa se adaptar.

Muita coisa se junta para fazer crescer a tensão em Setembro 5. Um evento mundial já chama a atenção o suficiente, aumentando a responsabilidade da equipe do canal ABC. Um sequestro ao vivo, bem próximo de onde eles trabalhavam, piora a situação, levantando diversas questões morais e éticas. Seria correto mostrar o que estava acontecendo para o mundo e correr o risco de transmitir um assassinato? Esse era um dos pontos.

À frente da equipe estava um produtor pouco experiente, Geoffrey Mason (John Magaro, de Vidas Passadas, 2023), que não imaginava o quanto sua missão iria se complicar. Dividindo o peso das decisões estavam o executivo do canal, Roone Arledge (Peter Sarsgaard, de Batman, 2022), e o veterano Marvin Bader (Ben Chaplin, de A Escavação, 2021), e os três nem sempre concordavam com a próxima ação a ser tomada. Um interessante grupo de coadjuvantes completa o quadro e quem mais brilha é Leonie Benesch (de A Sala dos Professores, 2023), uma alemã em meio aos americanos que servia de intérprete.

Os fatos narrados em Setembro 5 são amplamente conhecidos e já foram inclusive mostrados em outros filmes – Munique (Munich, 2005), por exemplo, traz o que teria acontecido após, a resposta dos israelenses. Se você não sabe, é uma oportunidade a mais de manter o suspense do premiado roteiro de Tim Fehlbaum, Moritz Binder e Alex David. E a montagem enxuta e ágil ajuda muito, mantendo o ritmo acelerado que os personagens deviam estar vivenciando. O trabalho de Fehlbaum na direção só parece fácil: ele consegue cobrir os fatos e situar o espectador sem se colocar no foco.

As decisões eram tomadas por esses três

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Oscar 2025 – Nosferatu

Nosferatu (2024) – indicado em quatro categorias: Fotografia, Design de Produção, Figurino e Maquiagem e Cabelo.

Em 1838, um corretor precisa ir à Transilvânia colher a assinatura de um conde recluso para fechar a venda de uma mansão antiga. Lá chegando, ele começa a suspeitar que seu cliente seja um vampiro. O conde, por sua vez, se interessa pela noiva do corretor e planeja ir atrás dela, levando a morte a uma fictícia cidade da Alemanha.

Em 1922, sem conseguir adquirir os direitos de adaptação do romance Drácula, o famoso diretor alemão F.W. Murnau seguiu assim mesmo, mudando nomes e alguns detalhes, e realizou sua própria versão da história de Bram Stoker. Nosferatu é uma das mais lembradas obras do expressionismo alemão e até hoje é referência para o Cinema de terror. Em 1979, foi a vez de Werner Herzog filmar a história e, agora, Robert Eggers nos oferece a versão dele.

Revelado no ótimo A Bruxa (The Witch, 2015), que foi seguido pelos igualmente competentes O Farol (The Lighthouse, 2019) e O Homem do Norte (The Northman, 2022), o diretor reúne um bom elenco e reconta a história do Conde Orlok (Bill Skarsgård), que vai aterrorizar o casal Ellen (Lily-Rose Depp) e Thomas (Nicholas Hoult) e toda uma cidade para ter a mulher a seu lado. O elenco ainda conta com Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin, Simon McBurney e os favoritos de Eggers, Ralph Ineson e Willem Dafoe.

Mais do que cenários interessantes ou caracterizações aterrorizantes, Eggers cria uma atmosfera. É algo que segue na cabeça do público após a sessão, que se sente assombrado pela lembrança do que viu. Skarsgård disse em entrevistas que não pretende novamente viver algo tão maligno. Orlok não tem o histórico romântico e trágico de Drácula, ele é apenas algo mau, secular e asqueroso, dá nojo só de olhar. E, em torno dele, o senso de perigo é constante, ninguém está a salvo quando Orlok está por perto. Até relevamos as inconsistências do roteiro.

Mesmo pobre, o casal de protagonistas parece feliz, e Thomas está no caminho para ter sucesso no trabalho. É Natal, tudo parece correr bem. A mera menção a Orlok já abala a felicidade deles, e Ellen sabe que ele está ligado ao passado dela. Lily-Rose Depp, quase sempre muito atormentada, faz um ótimo trabalho, enquanto Hoult é o tipo ambicioso que não dá ouvidos ao que seriam desvarios da esposa e encara a viagem ao castelo sombrio que os locais evitam a todo custo.

Perigosamente esbarrando num tom teatral às vezes, Nosferatu consegue se equilibrar. Enquanto alguns personagens não têm muita profundidade, estando ali apenas para preencher certas funções do roteiro, outros conseguem ocupar esses buracos. Tudo pontuado por uma trilha sonora perturbadora de Robin Carolan, repetindo a parceria de Homem do Norte com mais faixas perturbadoras, na bela fotografia propositalmente escurecida de Jarin Blaschke, pela quarta vez trabalhando com Eggers. Se o Nosferatu original influenciou tudo que veio depois, esse novo é influenciado e ao mesmo tempo vai influenciar o que vier pela frente. “Não participem das obras infrutíferas das trevas”, diz a Bíblia. Eggers trouxe a luz e revelou o oculto.

O Nosferatu de 1922, vivido por Max Schreck

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Oscar 2025 – Wicked

Wicked (2024) – indicado em 10 categorias, incluindo Filme, Atriz Principal (Cynthia Erivo) e Atriz Coadjuvante (Ariana Grande).

A bruxa má do oeste, uma das vilãs mais famosas da literatura e do cinema, de O Mágico de Oz, morreu, e a outra bruxa ilustre da história, Glinda (Ariana Grande), relembra sua relação com a ex-amiga. Elphaba (Cynthia Erivo), uma jovem que curiosamente nasceu com a pele verde, sempre deixada de lado pela família, acompanha a irmã mais nova à escola de magia onde ela vai estudar e acaba matriculada também, e tem uma jornada meteórica até conhecer o grande e poderoso Mágico de Oz, mas descobre também uma verdade chocante.

Depois de assustadoras 7500 apresentações na Broadway, ao longo de mais de 20 anos, e originando montagens em outras cidades e países, a peça Wicked finalmente chegou ao Cinema, depois de uma longa gestação. Cynthia Erivo e Ariana Grande vivem as protagonistas (apesar de Grande ser lembrada nas premiações como coadjuvante), as duas ótimas em seus papéis. Grande, especialmente, está muito engraçada, e muito à vontade, com Erivo bem perto, dando simpatia e humanidade a uma personagem que nos habituamos a odiar.

Um musical da forma que imaginamos um musical ser, clássico, Wicked conta com músicas bem feitas, que entram em momentos chave da trama e a fazem avançar, ou até esclarecem como os personagens se sentem. A lógica do que já conhecemos daquele universo é respeitada, funcionando como uma pré-continuação de O Mágico de Oz – e até vemos Dorothy e sua turma de relance. Ter a sempre interessante presença de Jeff Goldblum é um toque impagável! E há uma pancada de participações especiais, incluindo as intérpretes das protagonistas na peça: Idina Menzel e Kristin Chenoweth.

Com cores chamativas, figurino luxuoso e cenários grandiosos, Wicked é um filme bonito de ver, com uma fotografia que explora bem a terra dos Munchkins. E há ainda a trilha original de John Powell, que ressalta momentos importantes sem se sobrepor ou incomodar. Depois do sucesso de Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018), Jon M. Chu passou batido com Em um Bairro de Nova York (In the Heights, 2021), e aqui volta a chamar atenção e a mostrar seu talento na direção, entregando uma obra divertida, coesa e fluida. E a segunda parte, Wicked: For Good, filmada junto, chega aos cinemas em novembro próximo.

De uma forma bem leve, o filme não deixa de tratar de um assunto bem pesado: o autoritarismo. A relação daquela sociedade com os animais, até então falantes e inteligentes – que o diga o Dr. Dillamond de Peter Dinklage – vai se deteriorando até o ponto em que os encontramos, numa metáfora fácil com qualquer minoria do mundo real. A amizade entre Galinda e Elphaba também é um ponto sensível, ela passa de uma antipatia a uma relação de interesse até chegar a ser de fato algo real e honesto, apenas para chegar a um impasse. E vemos, mais uma vez, que as aparências enganam, e o que acontece nos bastidores muitas vezes não chega ao grande público. Que segue celebrando a morte da bruxa má do oeste sem saber quem são os verdadeiros vilões.

A irritante Galinda é um grande momento na carreira de Ariana

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Oscar 2025 – Ainda Estou Aqui

Ainda Estou Aqui (2024) – indicado em três categorias: Filme, Filme Internacional e Atriz Principal (Fernanda Torres).

No Brasil dos anos 70, em plena ditadura militar, uma família de classe média alta vive uma vida aparentemente tranquila até que agentes não identificados entram na casa e levam o pai (Selton Mello) para interrogatório, deixando a mãe (Fernanda Torres) sem notícias do marido e tendo que criar sozinha os filhos.

A história foi escrita e Ainda Estou Aqui tem três indicações ao Oscar. Fernanda Torres, indicada como Melhor Atriz Principal, já levou o Globo de Ouro, outro feito inédito para o país. Independentemente do que se queira dizer sobre a validade ou idoneidade dos prêmios, o reconhecimento já é um marco inédito. E quem acompanha as intrigas nas campanhas pelo Oscar sabe que as chances de vitória, ao menos em duas categorias, são reais. Ufanismo à parte, o filme realmente é extremamente bem feito, passa uma mensagem forte e necessária e todos os prêmios são merecidos.

Por mais que se conheça a história de Rubens Paiva (já famosa há décadas e tornada ainda mais conhecida pelo livro de seu filho, Marcelo Rubens Paiva, que serviu de base para o filme), é chocante vê-la representada na tela. E com todos os detalhes que a família lembra. Pensar que ela é apenas uma das milhares que o país registrou é ainda mais revoltante. Pessoas entram na sua casa, se julgam acima do bem e do mal e sequer oferecem alguma identificação, lhe resta apenas acreditar que são agentes do governo. O que não diz muita coisa, levando-se em conta que o governo era regido por um ditador escolhido por sua patota, guiado por interesses próprios, tão corrupto e canalha quanto qualquer outro cidadão. Ódio e nojo definem bem!

À frente de um ótimo elenco, Fernanda Torres assume a liderança e dá grande força e dignidade a Eunice Paiva, tentando transmitir todo o desespero que a verdadeira deve ter sentido. Isso, ao mesmo tempo em que tenta passar tranquilidade aos filhos, em idades variadas, nem todos aptos ainda a entenderem o que estava acontecendo. E no cenário extremamente machista dos anos 70, no qual a esposa precisava de permissão do marido para movimentar uma conta bancária.

Até quando faz filme chatíssimo (Na Estrada, 2012) ou sem propósito (Água Negra, 2005), Walter Salles se mostra um diretor de mão cheia. Em Ainda Estou Aqui, ele está em ótima forma, o que justificaria também uma indicação, que infelizmente não aconteceu. O filme cobre o roteiro muito bem e nos situa não só no tempo, com uma reconstituição de época impecável, mas na situação da família, passando mesmo que en passant por todos os envolvidos. É duro ver um amigo de Rubens sofrendo, provavelmente se castigando: poderia ter sido comigo.

Toda a parte técnica de Ainda Estou Aqui cumpre magistralmente a tarefa dada. Tudo se costura, da nostálgica fotografia de Adrian Teijido (de Sergio, 2020) à montagem ágil de Affonso Gonçalves (de Segredos de um Escândalo, 2023), passando por figurino, design de produção, decoração e demais quesitos. E não podemos nos esquecer da trilha sonora, cirurgicamente escolhida para trazer todo o espírito da época. Não é para qualquer um contar com Tim Maia, Tom Zé, Caetano, Mutantes, Erasmo, Roberto… É mais um dos muitos acertos de um dos melhores filmes lançados nos últimos anos.

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Oscar 2025 – A Substância

A Substância (The Substance, 2024) – indicado em cinco categorias: Filme, Direção e Roteiro Original (ambas para Coralie Fargeat), Atriz Principal (Demi Moore) e Maquiagem e Cabelo.

Uma atriz veterana (Demi Moore), sentindo-se deixada de lado pela Indústria, recebe a oferta de usar uma substância que duplica suas células e cria uma versão mais jovem de si mesma (Margaret Qualley), só exigindo que as duas alternem as semanas de existência.

Velha conhecida do mundo do Cinema, Demi Moore foi escalada como uma atriz que, longe de seus melhores dias, é relegada a um programa de ginástica na televisão. E, mesmo assim, sua atração está por um fio. Ela já não é considerada vendável, alguém que traz lucro para os financiadores. Esta é uma realidade muito comum do lado de cá da tela, e o tema encontrou muita aceitação.

Ao ter a oportunidade de ser uma versão rejuvenescida de si mesma, Elizabeth a abraça e segue as indicações, dando vida a Sue (Qualley). Isso, no entanto, terá outras complicações, já que as duas, mesmo sendo a mesma pessoa, desenvolvem uma rivalidade. Nunca é fácil para uma veterana ver uma jovem desconhecida levando a melhor – mesmo que seja ela mesmo. Ao mesmo tempo, a versão mais nova não quer ser semanalmente colocada para escanteio, já que essa é a regra da substância: a cada semana, uma vive e a outra “descansa”.

Buscando fazer uma crítica a essa valorização exagerada e descabida da juventude, que castiga especialmente as mulheres, e o consequente descarte das mais velhas, o que é facilmente observável na indústria do show business, a diretora e roteirista Coralie Fargeat (de Vingança, 2017) bebe na fonte de muitos outros longas, das inspirações mais óbvias às mais discretas. Em alguns momentos, A Substância parece uma colagem, ou uma grande homenagem, para colocar de uma forma mais amena.

Quando se aproxima do final, o filme parece se tornar outra coisa, podendo assustar os incautos. Para alguns, ele chega ao ápice da crítica social e o choque é necessário. Outros ficarão incrédulos, sem acreditar no exagero que presenciaram. A atuação afetada de Dennis Quaid deixa claro desde o início que A Substância é uma farsa, e é preciso comprar a ideia para que a premissa funcione. No entanto, Fargeat a levou longe demais e acabou perdendo força em sua mensagem.

Moore levou o Globo de Ouro e é uma das cinco atrizes indicadas ao Oscar

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Oscar 2025 – Emilia Pérez

Emilia Pérez – indicado em treze categorias, incluindo Filme, Diretor (Jacques Audiard), Atriz Principal (Karla Sofía Gascón) e Atriz Coadjuvante (Zoe Saldana).

Um poderoso traficante de drogas (Gascón) contrata uma advogada (Saldana) para ajudá-lo a fazer secretamente uma cirurgia de redesignação sexual e passa a viver uma nova vida, deixando para trás as práticas violentas e a família.

Toda temporada de premiações tem o seu delírio coletivo. Filmes como Green Book (2018) e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once, 2022) – para ficar em exemplos gritantes e recentes – não são necessariamente ruins, apenas não merecem toda a atenção que acabam recebendo. Em 2025, essa situação foi longe demais: Emilia Pérez (2024) é recordista em indicações ao Oscar, Globo de Ouro, Bafta e muitos outros, além de ter levado três prêmios em Cannes. O que é algo inexplicável, já que é um drama exagerado, beirando a farsa, raso e estereotipado, realizado em forma de um musical ruim.

O drama não funciona, o roteiro tem uma série de furos e exageros que já deixam claro não se tratar de uma história real (como alguns têm pensado). Passa longe da comédia, já que não é engraçado, muito pelo contrário. E, como musical, é terrível, com números ridículos e apelativos que não acrescentam nada à trama e nem a fazem avançar. Ter duas músicas indicadas a Oscar mostra como o ano foi fraco na categoria. Para as outras onze indicações, não se tem explicação. Assim como considerar Zoe Saldana atriz coadjuvante, já que ela é obviamente a atriz principal.

Uma coisa deve ser dita: Jacques Audiard queria um tom teatral, como numa ópera, e conseguiu. No entanto, pendendo para uma farsa, com a maior parte sendo filmada em um ambiente fechado. Um diretor francês que se propôs a falar da cultura mexicana sem conhecê-la ou ter ideia da língua falada lá. O resultado é ter grupos locais criticando abertamente a produção, que praticamente não usou mexicanos em sua equipe. E o mesmo acontece na comunidade LGBTQIAP+, que não se animou pela produção ter uma atriz trans no papel título. Afirmam se tratar de uma obra sensacionalista e superficial, um desserviço à causa. Sou obrigado a concordar.

Gascón pediu ajuda por suposto ódio na internet, mas todas as críticas são direcionadas ao filme, e não a ela

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Oscar 2025 – Conclave

Conclave – indicado em oito categorias, incluindo Filme, Ator Principal (Ralph Fiennes) e Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini).

Após a morte do Papa, um cardeal inglês (Fiennes) fica responsável por reunir todo o corpo de cardeais para um conclave, evento fechado no qual eles votam para decidir quem será o novo Papa. Lawrence só não contava que haveria tantos segredos envolvidos, e teria tantos desafios.

Os livros de Robert Harris costumam ser tensos, a exemplo dos que originaram os filmes O Escritor Fantasma (The Ghost Writer, 2010) e O Oficial e o Espião (J’Accuse, 2019). Com Conclave não foi diferente, mas o filme (2024) carece de um pouco de emoção. Atuações fantásticas nos levam por maquinações para descobrirmos quem será o novo Papa, só que as intrigas vão se sucedendo até que repentinamente se acabam. E o filme também.

Com mudanças no cenário eleitoral a cada poucos minutos, logo concluímos algo que deveria ser óbvio: todos os cardeais ali são apenas humanos, passíveis de erros e pecados. Começando pelo reitor Lawrence, que passa por uma crise de fé e não sabe se ainda acredita na Igreja Católica. Nesse momento difícil de provação, ele ainda precisa lidar com a vaidade e as vontades de seus colegas. Fiennes, falando fluentemente inglês, italiano e latim, está ótimo, e merecem destaque também Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Isabella Rossellini, que em uma grande cena justifica sua indicação ao Oscar.

Desde que comandou o sucesso Nada de Novo no Front (Im Westen nichts Neues, 2022), Edward Berger se tornou um nome a se acompanhar, e Conclave reafirma este talento. Mesmo com um ritmo mais lento, o filme não perde seu rumo, faltando apenas um clímax mais explosivo, ou ao menos chocante. As coisas seguem acontecendo e logo está tudo resolvido, e quem espera algo mais emocionantes ficará desapontado. Ainda assim, Conclave é dos melhores filmes do ano e seguimos acompanhando Berger em projetos futuros.

A atuação de Fiennes recebeu várias indicações a prêmios

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Oscar 2025 – A Verdadeira Dor

A Verdadeira Dor (A Real Pain, 2024) – indicado em duas categorias: Ator Coadjuvante (Kieran Culkin) e Roteiro Original.

Dois primos americanos que cresceram juntos e acabaram se distanciando fazem uma viagem à Polônia para conhecerem melhor o passado da falecida avó, que se confunde com o contexto da Segunda Guerra. Dois perfis diferentes e a amizade acaba não se sustentando, sobrando apenas as histórias da juventude e ressentimento.

Com Jesse Eisenberg na direção, produção, roteiro e papel principal, A Verdadeira Dor é um filme aparentemente simples, com uma história contada cronologicamente enquanto os personagens passeiam pela Polônia, visitando inclusive campos de concentração. Eisenberg acerta nos diálogos, desenvolvendo bem a relação entre os primos. Um parece ser o bacana, amado por todos, aquele que anima qualquer festa, enquanto o outro é o quadrado, que admira o jeito destemido do primo. É interessante perceber os caminhos que eles tomam ao longo da vida.

Se David, o personagem de Eisenberg, é mais contido e convencional, Benji dá a Kieran Culkin a oportunidade de brilhar, chamando toda a atenção para si. Pode-se dizer que ambos dividem o protagonismo no filme, mas Culkin foi colocado como coadjuvante para efeito de premiações, o que funcionou: ele deve levar um Oscar pelo papel. Benji dá ao título original um duplo significado: a verdadeira dor pode se referir ao sofrimento dos judeus perseguidos pelo nazismo, ou mesmo à dor que acomete os adultos na rotina da vida adulta, cheia de esforço e sacrifícios. Ou pode se referir a Benji, um “verdadeiro pé no saco”. Tipos como ele podem receber adjetivos elogiosos, como intenso ou autêntico, mas não passam de chatos.

Com uma fotografia altamente funcional, que nos apresenta respeitosamente lugares que exalam tristeza, A Verdadeira Dor faz um ótimo retrato do indivíduo de classe média que se aproxima da meia idade. Enquanto uns já têm tudo nos trilhos, com família e carreira, outros ainda não sabem o que farão do resto de suas vidas. David e Benji são pessoas que você conhece, se não você mesmo. Para quem se considerava queimado pelo Lex Luthor equivocado que interpretou, Eisenberg acertou em cheio com esse drama de pequenas proporções e grande profundidade.

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O Oscar 2025 e Anora

Hoje, 23 de janeiro, foi o dia do anúncio dos indicados ao Oscar 2025! A ser realizada no domingo de Carnaval, 2 de março, a cerimônia pode ser aquela em que Fernanda Torres sai com uma estatueta nas mãos! Ainda Estou Aqui (2024), longa estrelado por ela e Selton Mello e dirigido por Walter Salles, tem o recorde de três indicações ao prêmio norte-americano: Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. Se tem chances de levar, é uma questão discutível, já que cada categoria tem seus favoritos. Já é uma vitória o reconhecimento do longa e do Cinema Brasileiro, ainda mais se tratando de um prêmio americano, feito para americanos, com poucas exceções.

À medida em que os filmes indicados chegam ao Brasil, O Pipoqueiro traz aqui uma visão geral, para te situar nesse cenário.

Anora (2024) – indicado em seis categorias: Filme, Direção (Sean Baker), Atriz Principal (Mikey Madison), Ator Coadjuvante (Yura Borisov), Roteiro Original e Montagem.

Uma dançarina erótica de uma boate (Madison) conhece um jovem russo (Mark Eydelshteyn) de família milionária e começa a fazer programas sucessivos com ele, até que, num impulso, eles decidem se casar. O que parecia ser um tíquete para uma vida melhor se torna um pesadelo para Ani.

Com direção, roteiro, produção e montagem de Sean Baker (do badalado Projeto Flórida, 2017), Anora já chegou ao circuito comercial com a Palma de Ouro de Cannes, uma bela chancela para um cineasta já querido e esperado pelo público mais antenado. A história é bem realista, jogando personagens do submundo novaiorquino e milionários russos numa mistura que dá uma liga interessante. Da protagonista, sabemos o suficiente para nos importarmos com ela e não muito além disso, e os demais personagens vão aparecendo de forma marcante.

A fotografia urbana é bem eficiente e a montagem é enxuta, deixando o que importa e imprimindo um ritmo adequado, nem arrastado, nem acelerado. O senso de urgência que a história assume impacta no espectador e nos vemos torcendo por Ani, por mais que ela não se encaixe em nenhum estereótipo de mocinha em perigo. Ela é forte, mas vivendo situações de perigo real que podem oferecer risco. Todo esse quadro bem montado faz de Anora o melhor trabalho de Baker, que segue sendo um nome a ser acompanhado.

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Kraven e a dança dos personagens Marvel no Cinema

A editora Marvel tem milhares de personagens e é comum ver questionamentos sobre a presença ou ausência de alguns deles no Cinema, como por que Reed Richards (o Sr. Fantástico) não aparece ao lado dos colegas geniais Tony Stark (Homem de Ferro) e Bruce Banner (Hulk)? Outra dúvida pertinente é: por que diabos a Sony achou que seria uma boa ideia lançar filmes de personagens isolados do universo do Homem-Aranha? Com a estreia – e retumbante fracasso nas bilheterias – de Kraven, o Caçador (Kraven: the Hunter, 2024), alguns voltam a atenção para essa questão e vamos aqui buscar esclarecê-la.

Fundada em 1939 como Timely Comics, renomeada em 1951 para Atlas Comics e finalmente chegando ao nome Marvel Comics em 1961, a editora se tornou a casa de artistas famosos, como Stan Lee, Jack Kirby, Joe Simon e Steve Ditko, que criaram diversos personagens ao longo dos anos. O androide Tocha Humana e Namor, o Príncipe Submarino, foram os primeiros dessa leva de heróis e vilões que conhecemos hoje, criados respectivamente por Carl Burgos e Bill Everett. Ao longo das décadas, a editora teve grande sucesso financeiro, o que não se repetiu nos anos 90, quando declarou falência.

Em meio a várias jogadas para não quebrar, a Marvel decidiu vender os direitos de adaptação para o cinema de seus personagens principais. Os Homens de Preto (que vieram na compra da finada Malibu Comics) se tornaram uma franquia de sucesso, seguidos por Blade, o Caçador de Vampiros (que Wesley Snipes trouxe de volta em Deadpool e Wolverine, 2024), os X-Men e o mais bem sucedido de todos, o Homem-Aranha, na pele de Tobey Maguire. O problema é que não existia a visão amplamente conhecida de hoje, de se criar um universo coeso com todos eles, e cada estúdio comprou o que achou mais interessante, separando o pessoal.

Em 1996, a New Line Cinema levou os direitos para fazer Blade, e lançou uma trilogia de sucesso. A Sony Pictures levou o Homem-Aranha e, pouco depois, a Fox comprou os X-Men e o Quarteto Fantástico. A Universal Pictures ficou com o Hulk. E assim em diante. Cada negociação envolveu certas condições, e a duração da proteção desses direitos nos Estados Unidos depende de algumas variáveis.

Em 2005, já boa das pernas, a Marvel começou a readquirir alguns desses direitos, e Blade voltou para casa em 2006. Com a aquisição da Marvel pela Disney em 2009, outros personagens se reuniram lá, e logo retornaram também o Motoqueiro Fantasma, o Demolidor e os demais heróis das séries da Netflix. Em 2021, a Disney comprou a Fox, trazendo mais gente de volta: os supergrupos X-Men e Quarteto Fantástico.

Além dessas aquisições e prazos expirados, tivemos outra negociação importante em 2012: os estúdios Marvel, visando inserir o popular Homem-Aranha em seu universo (o MCU), fizeram uma sociedade com a Sony, primeiro incluindo o Cabeça de Teia em uma história de grupo (Capitão América: Guerra Civil, 2016), apresentando-o, para na sequência lançar aventuras solo do herói. Só aí que foi possível ver Peter Parker interagir com Tony Stark, Steve Rogers e companhia.

Como o olho de executivos de estúdios de cinema pode ser grande, tiveram uma “grande” ideia na Sony: já que a nossa estrela está no MCU, trazendo dinheiro para nós sem precisarmos produzir os filmes, vamos abrir outras frentes de batalha e ganhar mais dinheiro. A Sony é detentora dos direitos de mais de 900 personagens, todos ligados ao “amigão da vizinhança”. Foi aí que surgiu o chamado Universo do Aranha da Sony (ou apenas SSU, na sigla original). Em 2018, tivemos o lançamento de Venom, longa capenga, mas divertido, que fez US$856 milhões nas bilheterias e iludiu os produtores, que pensaram que seria assim em todos esses derivados. O mais novo fracasso, Kraven, dentre vários outros, acaba de encerrar a farra.

Venom iludiu o pessoal da Sony, e logo tiveram Morbius

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