John Carpenter continua buscando seu grande retorno

por Marcelo Seabra

É triste constatar que um mestre de um determinado ofício perdeu a mão. Há pouco tempo, assisti a A Sétima Alma (My Soul to Take, 2010), um longa extremamente fraco que empalidece ainda mais se considerarmos o histórico de seu diretor, Wes Craven. A criação de Freddy Krueger, sozinha, já lhe garante lugar na história do cinema, sem falar de seus vários outros longas bem sucedidos. Craven provou dominar bem sua arte, construindo uma carreira sólida. Pena que A Sétima Alma não seja um bom exemplo, como não foram Pânico 4 (Scream 4, 2011), Vôo Noturno (Red Eye, 2005) ou Amaldiçoados (Cursed, 2005).

A mesma falta de um resultado positivo, em anos, de Craven traz outra triste possibilidade: teria John Carpenter perdido a vontade de fazer bons filmes? Após um intervalo de nove anos, ele voltou à direção. O que, claro, causa certa expectativa, marcando seu aguardado retorno. Pena que Aterrorizada (The Ward, 2010) não faça jus a tudo isso. Após bobagens como Fantasmas de Marte (Ghosts of Mars, 2001), Vampiros (Vampires, 1998) e Fuga de Los Angeles (Escape From L.A., 1996), essa nova decepção vem trazer mais tristeza aos fãs de um bom filme de terror.

Cansativo e previsível, Aterrorizada é ambientado em um hospício, caso do ótimo Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest, 1975), mas o roteiro dos quase estreantes Michael e Shawn Rasmussen (de Long Distance, de 2005) dispensa qualquer chance de novidade, seguindo a trilha dos clichês que o próprio Carpenter ajudou a estabelecer. Em Halloween (1978), temos uma protagonista forte, ambientes fechados, jovens virando cadáveres rapidamente e bons sustos. Essas características se repetem, sempre perdendo conteúdo e soando “mais do mesmo”.

A trama começa quando uma bela jovem queima uma fazenda e a polícia logo a encontra. Chegando no hospício, ela conhece outras meninas como ela: bonitas, estereotipadas e aparentemente normais. E o espectador, mais rápido que ela, percebe que há algo sobrenatural assombrando o lugar e que não vai demorar a começar a acontecer tragédias. A equipe da instituição parece não perceber o que está acontecendo, ou faz vista grossa, e as pobres meninas não têm com quem contar na luta contra a tal aparição.

Amber Heard, a atriz principal, será uma grande estrela – ao menos no que depender do seu volume de trabalho. Vista recentemente em Fúria Sobre Rodas (Drive Angry, 2011) e na série The Playboy Club, ela busca uma boa atuação, mas os diálogos e as situações não ajudam. Quem consegue sair ileso é o veterano Jared Harris, da série Mad Men. Como o psiquiatra responsável pela garota, ele tem pouco tempo de tela e não se queima. O elenco é completado por várias outras atrizes no mesmo padrão de Amber, além de coadjuvantes igualmente desconhecidos.

Claramente inspirado em Ilha do Medo (Shutter Island, de 2010), como o próprio Carpenter declarou em entrevistas, Aterrorizada tem um resultado bem aquém do obtido por Martin Scorsese. Esse sim, ainda tem muitas balas na agulha, segue produzindo em ritmo ágil e é sempre bem aguardado. Quanto a Carpenter, continuo esperando seu retorno – não simplesmente ao trabalho, mas à boa forma.

John Carpenter ainda terá seu retorno triunfal

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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