George e Tammy contam sua tumultuada história

George Jones foi um dos maiores nomes da música country norte-americana. Um belo dia, foi apresentado à novata Tammy Wynette, que passou a cantar com ele e atingiu enorme sucesso também. Essa é a história vista nos palcos, quando os dois se apresentavam juntos e a atração mútua era inegável. O que de fato aconteceu tomamos conhecimento na minissérie George & Tammy, cujos seis capítulos foram exibidos na TV americana entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 e hoje estão disponíveis no serviço de streaming da Paramount.

Para quem gosta de conhecer melhor a vida de celebridades, essa série é um prato cheio. Baseado no livro da única filha do casal, Georgette Jones, que serviu como consultora para a produção, o roteiro pode até ter inconsistências quanto à ordem de certos eventos, mas os fatos narrados são bem coerentes. Nada que dê para perceber sem uma longa pesquisa. Ao contrário de filmes como Johnny e June (Walk the Line, 2005) e Ray (2004), há mais tempo para o desenvolvimento das situações e das relações entre os personagens, fazendo com que nos importemos mais com eles. E o tom fique menos episódico.

O ponto positivo que salta aos olhos nesse tipo de produção é invariavelmente o trabalho dos atores, e aqui não é diferente. Michael Shannon, o General Zod da DC (em Homem de Aço e Flash), e Jessica Chastain, oscarizada por Os Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye, 2021), travam um duelo bonito de se ver, mostrando a força e as fraquezas de seus personagens. Shannon, escalado após um problema de agenda forçar Josh Brolin a sair, dá dignidade a Jones até correndo bêbado de cueca pela rua, indo facilmente de um extremo a outro. E Chastain confere a Wynette a majestade que a cantora tinha, com todas as nuances necessárias. Não coincidentemente, o criador da série, Abe Sylvia, é um dos roteiristas de Tammy Faye, colocando Chastain para cantar mais uma vez.

Em determinado momento, uma fã pergunta a Wynette algo relacionado ao fato dela sempre cantar sobre homens, se colocando em uma situação de submissão. Infelizmente, essa não é uma discussão desenvolvida pela produção, mas percebemos uma mudança de posicionamento pela cantora, que passa a não tolerar certos abusos. Chastain de fato consegue criar uma figura tridimensional, de vários lados, que ama e sofre, mas não é boba. E as músicas dos dois artistas não roubam a cena, tocando pontualmente, sem forçar ninguém a gostar delas. É importante mencionar que são Shannon e Chastain que cantam, e não fazem feio.

Mesmo que contada de forma tradicional e cronológica, a história de George & Tammy não é muito presa a datas, e às vezes não sabemos nem a década do que está acontecendo. As mudanças de penteados, maquiagem e figurinos são discretas e só chamam atenção quando o salto temporal é maior. O que importa, mesmo, é a interação entre George e Tammy, e os coadjuvantes que vamos conhecendo. Figuras como Walton Goggins (de Entre Armas e Brinquedos, 2020) e Steve Zahn (de The White Lotus) trazem ainda mais valor à produção.

Os verdadeiros George Jones e Tammy Wynette, em 1968

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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