Guy Ritchie vai à guerra com O Pacto

Trabalhando num ritmo louco, o diretor, roteirista e produtor Guy Ritchie lança seu segundo longa no ano, também já disponível no Amazon Prime Video. Depois de Esquema de Risco – Operação Fortune (Operation Fortune: Ruse de Guerre, 2023), é a vez do lançamento de O Pacto (Guy Ritchie’s The Covenant, 2023), primeira colaboração entre o cineasta e o astro Jake Gyllenhaal. Ritchie colocou seu nome no título original para diferenciar a obra de outras diversas homônimas.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos encheram o Afeganistão de tropas militares e o conflito se estendeu por 20 anos. Nesse período, diversas vidas foram ceifadas, de ambos os lados, e Ritchie foca sua atenção na relação entre um sargento líder de esquadrão (Gyllenhaal, de Homem-Aranha: Longe de Casa, 2019) e o intérprete do grupo (Dar Salim, de Êxodo, 2014), um cidadão local que domina quatro línguas e é visto por alguns compatriotas como traidor, por ajudar os americanos.

Ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma história real. O que acontece com Kinley e Ahmed é uma invenção calcada na realidade. O roteiro, escrito por Ritchie, Ivan Atkinson e Marn Davies (mesmo trio de Esquema de Risco), imagina um pressuposto perfeitamente possível e segue dali, mostrando o dia a dia dos soldados ianques numa terra estranha, com costumes, língua e cultura completamente diferentes dos deles. O que fazia com que ficassem um pouco à mercê de um morador local, que deveria trabalhar para eles como intérprete.

A tensão nesse O Pacto é muito bem construída e é ela que sustenta o longa. A ótima fotografia de Ed Wild (de Inimigos de Sangue, 2013) nos situa bem entre as montanhas e vales por onde os personagens precisam passar e conseguimos entender bem o cenário. Os vários departamentos de design, juntos (liderados por Martyn John, outro colaborador frequente do diretor), recriam a região à perfeição, e o toque final é a contratação de atores realmente de lá. O iraquiano Salim, para quem não conhecia, será uma grata surpresa: ele evita estereótipos e extremos, compondo um ótimo contraponto a Gyllenhaal, seguro como sempre.

Reforçando o elenco principal, temos três nomes interessantes que são muito conhecidos por séries que estrelaram: Jonny Lee Miller (o Sherlock de Elementary) vive um oficial de alta patente, assim como Alexander Ludwig (de Vikings), enquanto Anthony Starr (o Homelander de The Boys) faz um paramilitar terceirizado. Com esse quadro completo da Guerra do Afeganistão, que lembra O Grande Herói (Lone Survivor, 2013), Ritchie tem seu melhor resultado no ano, e vários outros projetos já estão engatilhados.

Ritchie resolveu colocar seu nome no título para diferenciar de outros filmes

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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