Conheça as 15 melhores adaptações de Stephen King (1/3)

Invariavelmente na lista de autores mais vendidos desde os anos 80, Stephen King teve seu primeiro romance, Carrie, lançado em 1974. Daí em diante, tem mantido uma média assustadora de lançamentos, com livros novos quase todos os anos, e até mais de um em alguns anos. E é também recordista de adaptações de sua obra para o Cinema e TV, com mais de 400 créditos listados no site IMDb. E há outros 20 projetos indicados como “em produção”, como a nova adaptação de O Concorrente, que já deu origem a O Sobrevivente (The Running Man, 1987), e a série It: Bem-vindos a Derry, que contará uma história anterior à de It – A Coisa (já adaptado duas vezes).

Muito lembrado como “O Mestre do Terror”, King escreveu ótimos dramas, que muitas vezes as pessoas têm dificuldade de associar a seu nome. E reverenciado como autor de romances, ele também tem centenas de contos, muitos também levados às telas (como o recente O Macaco, 2025). O escritor produzia tanto material nas décadas de 70 e 80 que criou um pseudônimo, para que o público não se cansasse de seus lançamentos – e também para provar para si mesmo que era capaz de vender livros sem seu grande nome por trás. Em 1977, ele lançou Fúria (Rage), seu primeiro romance como Richard Bachman.

Na próxima semana, chega aos cinemas A Longa Marcha – Caminhe ou Morra (The Long Walk, 2025), longa adaptado do segundo livro lançado com o nome de Bachman, em 1979. Segundo o autor, o livro começou a ser escrito em 1966, oito anos antes de Carrie ser lançado, o que o torna o primeiro dessa longa carreira. Por ocasião dessa estreia, o IMDb listou as 15 melhores adaptações da obra de Stephen King (e Richard Bachman) de acordo com as notas atribuídas pelos usuários, e abaixo você confere um rápido comentário sobre cada um (lista dividida em 3 posts).

15 – Christine, O Carro Assassino (1983, dirigido por John Carpenter)

Um estudante pouco popular compra um carro que parece se afeiçoar demais ao dono, perseguindo possíveis inimigos. Carpenter é uma referência quando se fala de Cinema de terror e seu longa é divertido e bem feito, contando uma história absurda e envolvente.

14 – 1408 (2007, dirigido por Mikael Håfström)

Um especialista em desvendar boatos sobre atividades paranormais se hospeda no quarto 1408 do Hotel Dolphin para provar que não há nada ali. Cínico e cético, o personagem de John Cusack vai entrando nos mistérios do quarto e sua noite não é nada tranquila. Facilmente o mais fraco dessa lista, poderia ter sido substituído por vários outros, como O Aprendiz, Trocas Macabras ou O Cemitério Maldito.

13 – Lembranças de Um Verão (Hearts in Atlantis, 2001, dirigido por Scott Hicks)

Um adolescente conhece um senhor que parece ter uma habilidade especial e muda a sua vida. Drama sensível, com um toque sobrenatural, como King parece gostar, e uma ótima atuação de Anthony Hopkins.

12 – O Nevoeiro (The Mist, 2007, dirigido por Frank Darabont)

Um grupo de moradores fica preso em um supermercado quando o misterioso nevoeiro no entorno parece abrigar criaturas mortais. Por mais que pareça o contrário, o filme não é sobre os monstros lá fora, mas sobre os humanos lá dentro, um grupo heterogêneo formado por gente boa e outros nem tanto. Nada como uma boa metáfora!

11 – A Hora da Zona Morta (The Dead Zone, 1983, dirigido por David Cronenberg)

Depois de um acidente e anos em coma, Johnny acorda conseguindo ver o futuro de todos cuja mão ele aperta. Longa tenso, do mestre Cronenberg, sobre algo que todo mundo já pensou em algum momento: seria possível impedir uma tragédia antes que ela acontecesse?

Stephen King volta no próximo post!

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O Último Ritual encerra os trabalhos dos Warren no Cinema

Ao contrário do que muitos pensaram há uns anos, o terceiro Invocação do Mal (The Conjuring) não concluiu as aventuras da família Warren no Cinema. O quarto filme, O Último Ritual (The Conjuring: Last Rites, 2025), chega essa semana aos cinemas prometendo, esse sim, levar a extrema unção à história de Ed e Lorraine. O problema, que já derruba as expectativas acerca do projeto, é o nome do diretor: Michael Chaves comandou o longa anterior, A Ordem do Demônio (The Devil Made Me Do It, 2021), bem inferior aos dois primeiros, além das bombas A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, 2019) e A Freira 2 (The Nun 2, 2023).

Com esse currículo vergonhoso, Chaves dirige um roteiro escrito por um veterano dos dois longas anteriores (David Leslie Johnson-McGoldrick) e pelos responsáveis por A Freira 2 (Richard Naing e Ian Goldberg). Nada disso conta ponto a favor. O ponto positivo responde pela dupla Patrick Wilson e Vera Farmiga, novamente vivendo os protagonistas, sempre com seriedade e, quando possível, leveza. É pelos dois que a franquia continua atraindo público, e eles seguem ajudando famílias desconhecidas importunadas por forças demoníacas.

Dessa vez, no entanto, as coisas se tornam mais pessoais. Com uma nova atriz no papel (Mia Tomlinson, de O Reino Perdido dos Piratas), a filha Warren, Judy, começa a ter dificuldades em suprimir as habilidades que herdou da mãe. Vendo e sentindo a presença dos mortos, a jovem alterna momentos de felicidade ao lado do namorado, Tony (Ben Hardy, de Bohemian Rhapsody, 2018), e o pânico de ser perseguida por espíritos decrépitos com intenções maldosas. Tony chega na família com cautela, evitando perguntar, apesar de curioso, sobre as atividades dos futuros sogros.

Como nos filmes anteriores (e em todos os 007), a sessão começa com um caso separado e logo chega ao presente da história, 1986. A família vítima da vez é apresentada e, nesse ponto, o filme é bem sucedido. Se aprofundando nas famílias Warren e Smurl, Chaves se mostra competente ao desenvolver as relações entre eles e alterna passagens engraçadas e tenras, preparando o terreno para o esperado terror. Ele deveria ficar no drama.

E é aí que as coisas se perdem: como é frequentemente observado no gênero, é fácil derrapar na busca desmedida por sustos, com cenas inconsistentes, efeitos sonoros pavorosos e decisões burras. Para não dizer apelativas, como enfiar a boneca do demônio Annabelle no meio desse caldo. Há uma rápida referência a “o Homem Torto”, personagem lançado no segundo filme e estranhamente abandonado. Em uma casa onde moram oito pessoas, acontece muito de não ter ninguém em momentos-chave, e a luz falha quando necessário. Tudo muito propício para o roteiro, mas por outro lado enfraquecendo-o e afastando o público. E o final é longe de ser satisfatório. As coisas só pioram.

Não tão terrível quanto a renegada Chorona (que deixou de ser considerada parte do Universo Invocação do Mal) ou A Freira 2, esse Último Ritual acaba entrando no mesmo nível de mediocridade de A Ordem do Demônio. A franquia começou muito bem nas mãos de James Wan, que seguiu apenas como produtor (e uma participação especial insistente) e a entregou a alguém que não estava à altura da tarefa. Ou não acompanhou como deveria. Se continuasse com Wan à frente, seria uma série a se acompanhar indefinidamente. Se é para ser tocada por qualquer mercenário em busca de bilheteria, é melhor encerrar mesmo.

P.S.: Talvez inspirado pelos filmes de heróis, já que conta com a presença do produtor Peter Safran (da DC), o longa inexplicavelmente deixa uma informação para o final dos créditos. Nada que faça falta. Não espere um encontro dos Warren e John Constantine.

Chaves mais uma vez afunda um filme da franquia

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Novo Ritual traz Pacino como exorcista

Chega essa semana aos cinemas O Ritual (The Ritual, 2025), mais um longa de terror que pretende ser o definitivo ao retratar um exorcismo, posição mantida – e nunca nem de longe ameaçada – pelo já clássico O Exorcista (The Exorcist, 1973). O diferencial da vez é a presença do gigante Al Pacino, que foi pai pela quarta vez aos 83 anos e deve ter muitas contas para pagar. Só assim para explicar a escolha do ator por um roteiro morno, já visto (melhor ou igualmente ruim) várias vezes e que não demora a ser esquecido. Era melhor quando ele vivia o diabo.

Um suposto exorcismo real realizado em 1928 permanece sendo o mais documentado, já que as anotações de um dos padres presentes se tornaram amplamente conhecidas. O nome do rapaz foi mantido em segredo, mas todos os passos do ritual foram relatados, e nem assim o diretor e roteirista David Midell usou essas informações, mudando o que quis provavelmente para atingir mais efeito dramático. Spoiler: não conseguiu.

Assim como na dinâmica de O Exorcista, em O Ritual temos a chegada de um padre veterano para se unir a um mais novo na realização do sacramento. Ao lado de um Pacino corcunda e cansado temos o insosso Dan Stevens, que errou feio ao pedir pra sair de Downton Abbey e nunca mais fez nada relevante – a exceção talvez seja a série Legião. O roteiro tenta fazer com que nos importemos com os dois apenas citando irmãos falecidos para ambos, como se isso fosse background suficiente. Afinal, o demônio precisa de informação para mexer com a cabeça do pessoal. E é compreensível que se preocupe com a saúde da vítima, mas a insistência do personagem de Stevens em chamar um médico passa da conta.

Demais participações especiais, essas bem menores, ficam com Patrick Fabian (curiosamente o pastor do melhor e mais barato O Último Exorcismo, 2010), como o Bispo local, e Patricia Heaton (mais lembrada pela série Everybody Loves Raymond), que vive a Madre Superiora. Ela tem um diálogo interessante, que ressalta o machismo na estrutura da Igreja Católica, mas nada que salve o filme. As velhas questões relacionadas a fé também aparecem, já que todos têm seus momentos de dúvida, mas não chegam a ser relevantes. Uma relação mais profunda entre o padre de Stevens e a Irmã Rose (Ashley Greene, da “saga” Crepúsculo) é sugerida, mas nunca esclarecida.

O grande problema comum à maioria dos filmes que envolvem exorcismos é serem abordados como de terror, quando na verdade são um grande drama. Acreditando-se ou não em possessão, é inegável que temos ali uma pessoa passando por maus bocados, e muitos à sua volta tentando ajudá-la. Ao invés de focar na gravidade e na tristeza da situação, diretores pouco inspirados preferem inserir um susto com um passarinho enxerido e efeitos sonoros descabidos. Ao invés de termos um bom drama com toques sobrenaturais, temos apenas mais um filme ruim.

O elenco assiste a uma exibição-teste do filme

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James Gunn entrega seu grande Superman

Quando ouvimos aquelas primeiras notas inconfundíveis de 1978, assinadas por ninguém menos que John Williams, um arrepio já percorre a espinha. Um tema tão acertado, tão ligado ao personagem, realmente não poderia ser deixado de lado. E não tem aquele recurso de “filmes de origem”, que demoram de 40 a 50 minutos para revelarem o herói. Esse novo Superman (2025) já o mostra de cara, com um letreiro inicial situando o público no tempo. A cidade de Metrópolis já conhece seu anjo da guarda. Mesmo que muitos cidadãos ainda tenham um certo pé atrás com ele. Incitados, claro, pelo gênio do mal Lex Luthor.

Com toda cara daquelas histórias em quadrinhos clássicas e divertidas, essa nova aventura do nosso popular Super-Homem prova uma coisa: o novo chefe dos estúdios DC, James Gunn, entende a essência do personagem bem mais que outros de seus colegas diretores. Começando, obviamente, por Zack Snyder, que passou longe do alvo. Gunn conseguiu um resultado próximo do sucesso de 1978: uma aventura gostosa de assistir, com personagens simpáticos, inteligentes, com quem passamos imediatamente a nos importar. Por mais que esse universo de figuras tão conhecidas tenha tido outras encarnações, tudo indica que essa versão tem tudo para se sobrepor às demais.

Como sempre acontece em situações muito visadas, a escolha de David Corenswet (de Pearl, 2022) foi envolvida em polêmica. Henry Cavill ainda estava muito fresco na cabeça de todos e foram rápidos em apontar defeitos. A verdade é que Corenswet, ao contrário do galã Cavill, funciona muito bem tanto como Clark Kent quanto como Superman. Ele se mistura e passa batido como o jornalista tímido, mas se impõe sem esforço como o último filho de Krypton. Algo próximo, ouso dizer, do que fez o saudoso Christopher Reeve. Sem necessidade de comparações, é justo dizer que Corenswet está excelente em sua caracterização.

A nova Lois Lane, mais lembrada como a Maravilhosa Sra. Maisel, põe a mão na massa em vários sentidos. Ela escreve, entrevista e ainda participa da ação, passando a léguas do bibelô a que Snyder relegou Amy Adams. Certamente a mais linda das Lois, Rachel Brosnahan é também a mais intrépida, corajosa e bem aproveitada. Em uma tomada específica, ela lembra muito sua veterana Margot Kidder, mas em momento algum fica à sombra da colega.

E, falando em figuras memoráveis, coube a Nicholas Hoult vestir os sapatos que foram do grande Gene Hackman. Hoult, em evidência desde que estrelou Um Grande Garoto (About a Boy, 2002), é um Lex Luthor bem mais ousado e sério que os anteriores. Para não dizer psicótico. É bom apontar que o roteiro ajuda, já que Luthor é bem mais ameaçador que aquele senhor que ficava fazendo especulação imobiliária. Como roteirista, Gunn soube dar luz aos vários personagens, algo que ele fez bem também na trilogia dos Guardiões da Galáxia (alguns dos atores aparecem aqui). Até o jovem Jimmy Olsen (Skyler Gisondo, de O Dilema das Redes, 2020) ganha mais relevância, deixando de ser apenas o alívio cômico de sempre.

Outro equilíbrio que Gunn soube manter foi no tom: há bastante ação, mas sem aquela destruição maçante (de Snyder). Temos momentos emocionantes, riscos reais em que tememos pelos personagens e humor. O roteiro respeita as regras que vai construindo, se safando de mostrar gente burra fazendo burrices. Superman nunca foi tão humano, tão caloroso. É cuidadoso até demais, salvando inclusive pequenos roedores. Enquanto os pais kryptonianos (vividos por Bradley Cooper e Angela Sarafyan) têm uma participação importante, porém curta, os pais terrestres (Pruitt Taylor Vince e Neva Howell) são mais emocionantes. E, por falar em lágrimas, temos bebê e cachorro, dois campeões em iniciar choros. Até relevamos algumas influências meio óbvias, como à série original iniciada em 1978 ou a The Boys.

A exemplo do que fez o recente longa do Adão Negro (Black Adam, 2022), além do protagonista, temos outros heróis, todos muito bem caracterizados. Mais uma prova da nerdice de Gunn, que soube observar os detalhes. O corte de cabelo ridículo do Lanterna Verde Guy Gardner, por exemplo, levantou fãs contra os primeiros trailers, mas Nathan Fillion ficou perfeito. Edi Gathegi, Isabela Merced e Anthony Carrigan completam um time bem azeitado. E há diversas participações especiais que só descobrimos ao ler as letrinhas do final, como Michael Rosebaum, o Luthor de Smallville, como um soldado de armadura. E, como um repórter, temos Will Reeve, o filho de Christopher.

Numa primeira análise, mais superficial, temos um filme bem amarrado, divertido, com personagens carismáticos que marcam magistralmente a primeira superprodução do novo universo cinematográfico da DC – que já conta oficialmente com as séries do Pacificador e do Comando das Criaturas, além de aproveitar alguma coisa do pacote anterior (como o Esquadrão Suicida de Gunn). Olhando mais a fundo, encontramos um bilionário megalomaníaco que se acha acima do bem e do mal e é obcecado por um imigrante ilegal, tentando acabar com ele de todas as formas ilegais que possa pensar. Quem não vê nisso uma alegoria a Trump ou mesmo a questão da Palestina está em outro planeta. Gardner chega a afirmar que não se deve mexer com política, para logo ver o quanto está errado.

Um personagem querido como o Homem de Aço sempre atrai boatos, rumores e mentiras descabidas. Não foi nem uma e nem duas vezes que apareceram no Instagram postagens de supostos infiltrados de Hollywood que diziam que o filme seria uma bomba e enterraria o universo recém criado por Gunn. Pois esse Superman satisfaz quem aguardava uma boa produção e só levanta a expectativa pelas próximas aventuras de outros medalhões da DC, como Batman, Mulher-Maravilha, Flash e, claro, Aquaman, tão marcante na pele de Jason Momoa. Vida longa ao DCU de James Gunn!

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Seria Família Soprano a melhor série da TV?

Possivelmente, tudo o que é preciso ser dito sobre Família Soprano (The Sopranos) já foi falado. A série, que foi ao ar entre 1999 e 2007, colocou um poderoso chefe da máfia de Nova Jersey no divã e moldou o que seria a TV dos Estados Unidos a partir dali: personagens dúbios, com fragilidades, mas extremamente ruins.

Depois de Tony Soprano (James Gandolfini), a cultura pop se inundou de outros protagonistas que despertam paixões, apesar da vilania de seus personagens. Um exemplo óbvio é Walter White, de Breaking Bad, que surgiu exatamente um ano depois do fim de The Sopranos, em 2008.

Além desses personagens, que não são apenas caricaturas de bons samaritanos vivendo um “sonho americano”, Sopranos apresentou histórias mais densas, carregadas de subtramas que exigem outros personagens tão complexos quanto seus protagonistas. Esses personagens, como Carmela Soprano (Edie Falco), os filhos Meadow (Jamie-Lynn Sigler) e Anthony Jr. (Robert Iler) e Christopher Montisanti (Michael Imperioli), por exemplo, preenchem outras camadas da série que dão continuidade para histórias mais complexas, que não fossem apenas esquetes, como nos “enlatados” que deram vida ao entretenimento no norte global até então.

Se Sopranos foi essa série que tanto se elogia e a colocam justamente como uma das maiores de todos os tempos, ela também é vítima de marcas temporais. Ainda que possam ser justificados como “contexto da realidade daqueles personagens”, machismo e racismo são naturalizados e pouco debatidos na série. Os Muitos Santos de Newark (The Many Saints of Newark, 2021 – acima), filme que é um spinoff da série, tenta justificar os atos racistas dos personagens originais. Ainda assim, isso é uma marca profunda da obra que ilustra os anos 90 não só nos EUA, como no resto do ocidente, principalmente.

Há também marcas desse tempo no roteiro. Sopranos entrega pequenas tramas por episódio e por temporada que se encerram ali. Algumas dessas tramas são soltas e pouco exploradas. Um ótimo exemplo disso é a entrada e a saída de personagens que, no momento que surgem, passam a ter um peso para a narrativa que, até então, não tinham.

Não te contam, por exemplo, que Tony Soprano tem um primo que é quase seu melhor amigo, até que Tony Blundetto (Steve Buscemi) surge na série, lá pela quinta temporada. Outro exemplo, que chega a ser irritante: em determinado momento, Tony se vê com problemas com vício em jogo. O caso é tão sério que seu comportamento fica ainda mais violento com a família e seus capos. Mas o caso dura um total de um único episódio. Em nenhum outro momento da série isso vem à tona ou influencia, mesmo que indiretamente, o fluxo dos acontecimentos.

É claro que, por ser uma precursora, é natural que a série possa ser superada por outras e que, quase anacronicamente, essas falhas possam ser apontadas anos depois. Porém, não há aqui a intenção de desmerecer a importância tão discutida e celebrada em torno de Família Soprano.

É uma série fundamental para quem gosta de TV e cultura pop, no geral. Ela moldou o modus operanti do mainstream dos EUA nas décadas seguintes. Se antes os mafiosos matavam e viviam exclusivamente suas vidas criminosas, como nos filmes de Scorsese – inclusive com discussões sobre eles na série – na obra de David Chase o chefão vai para o divã. Literalmente. Lida com as notas escolares dos filhos. Tem problemas com a mãe e a esposa. Enfrenta a subserviência hierárquica de seus “amigos” e precisa resolver questões que surgem por conta de patos em sua piscina. Sem falar que Sopranos tem, talvez, um dos finais mais icônicos da cultura pop.

Por tudo o que se escreve, fala e se repete sobre Família Soprano, é difícil não reproduzir o óbvio: inegavelmente, depois dessa série, a TV dos Estados Unidos nunca mais foi a mesma. E que bom!

Quando se vive no crime, não faltam velórios

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Steven Soderbergh encara a Presença de um fantasma

 

Sempre apontado como referência quando se fala sobre cinema americano independente, o diretor Steven Soderbergh não para quieto, inventando formas de inovar. Seu último trabalho, no entanto, é novidade apenas em sua carreira: um filme de fantasma, o que o título já entrega. Presença (Presence, 2024) inclusive não é um título muito original, já que há vários que usam essa mesma palavra, e passa longe do terror, como poderia se supor, ficando mais no drama sobrenatural.

O longa começa com uma corretora imobiliária mostrando uma casa vazia para um casal e eles logo se animam. No momento seguinte, já acompanhamos a mudança e logo temos uma casa devidamente mobiliada e uma família se acostumando ao novo lar. Lucy Liu (uma das Panteras dos anos 2000) é a mãe e Chris Sullivan (o Toby de This Is Us) é o pai, com um casal de filhos. Callina Liang (de Foundation) faz a filha sensível e triste, enquanto o novato Eddy Maday interpreta um tipo atleta canalha, e os irmãos dificilmente se entendem.

Montado o cenário inicial, começamos a perceber algo de diferente ocorrendo. Ou estaria apenas na cabeça da jovem Chloe? Soderbergh brinca com a “presença da presença”, insinuando sem mostrar, apenas passeando com a câmera por onde o suposto fantasma estaria. Nada muito gráfico, nem perto de assustador, explorando as partes da casa e criando um clima de apreensão. Sem fantasmas, o diretor já conseguiu criar mais suspense em filmes como Traffic (2000) e Kimi (2022), este também com roteiro de David Koepp.

Falando no roteirista, Koepp escreveu Ecos do Além (Stir of Echoes, 1999), adaptação de uma história de Richard Matheson que rapidamente vem à cabeça ao final da sessão de Presença. A influência de um no outro é clara e terem o mesmo roteirista não é mera coincidência. Soderbergh, no entanto, prefere focar nos personagens, e não nas descobertas do passado, como no outro filme, e nos conduz calmamente a um final interessante e bem construído.

Os pais, bem diferentes um do outro, são bem interpretados por Liu e Sullivan, cada um com um filho preferido e tentando não dar na cara. Cabe a Liang a maior parte do trabalho e ela segura a peteca, fazendo uma adolescente bastante crível. Maday, em seu primeiro papel, é convincente e completa um quadro interessante, que conta ainda com a boa adição de West Mulholland (de Pequenos Incêndios Por Toda Parte).

Sullivan e Liu são os rostos reconhecíveis do elenco

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Adolescência é o novo sucesso da Netflix

Em 2017, a Netflix focou o público jovem e causou polêmica com 13 Reasons Why, série que se tornou um fenômeno obrigatório a todo e qualquer ser humano que não vivesse em uma caverna sem luz – e, sobretudo, a quem escreve sobre Cinema e TV. Em 2025, o serviço de streaming conseguiu de novo, agora voltado para os adultos, especialmente aqueles com filhos: Adolescência (Adolescence) é o barulho do momento, do Reino Unido para o mundo.

O principal elemento da conversa que vem com Adolescência é o tema: bullying e o que o cerca. “O que os garotos fazem trancados no quarto o dia todo?” é a pergunta que Stephen Graham e Jack Thorne, criadores da atração, parecem fazer. Muitas entrevistas foram dadas por ambos nos últimos dias, nas quais eles deixam claro que não trazem respostas, até porque eles não as têm. No entanto, propõem questões a serem discutidas pela sociedade para que se possa chegar a algum lugar.

No início do primeiro episódio, a polícia faz um estardalhaço ao invadir uma casa comum num subúrbio inglês e levar preso um garoto de 13 anos. Pais impotentes assistem ao filho ser colocado no camburão imaginando o que poderia ter acontecido, até que tomam conhecimento da terrível verdade: Jamie é acusado de matar a facadas uma garota da escola. Os detetives aparecem para a investigação, vão à escola e conhecemos professores, alunos e demais funcionários. Todos os personagens sociais são envolvidos na trama, cada um com sua fatia de responsabilidade.

Dentro da escola, o que vemos é descrito por alguns como a visão mais realista possível do dia a dia dos adolescentes, com professores suando para conseguirem um pouco de ordem enquanto os alunos agem com total desrespeito e falta de educação. Pode ser um pouco exagerado, mas rapidamente tomamos conhecimento do tipo de conversa que se desenrola entre esses jovens, com códigos próprios a eles que quem está de fora não entende – e passa vergonha, na ótica deles.

Se, antigamente, fazer bullying (antes de ter esse nome) era chamar de gordo, girafa e afins, hoje eles cospem, humilham e até extorquem uns aos outros. Digitalmente, inclusive, já que todos parecem ter usuários em redes sociais, nem que seja apenas para saber o que está acontecendo. Saber o que o filho faz na internet se tornou tão importante quanto saber onde e com quem ele está quando sai.

E temos ainda a questão crescente do sexismo, estimulada por figuras públicas como o nojento Andrew Tate, muito famoso nos EUA e seguido por adolescentes, inclusive. Há ideias sendo difundidas, cada uma mais cretina que a outra, que só compram quem ganha algo com elas e quem ainda não tem experiência suficiente para rechaçá-las. Um exemplo é a tal regra dos 80-20: inventaram que apenas 20% dos homens seriam interessantes a ponto de atrair a atenção feminina, e os outros 80% ficariam a ver navios.

Daí surgem os incels, os celibatários involuntários, os coitadinhos que não ganham atenção de mulheres. Desculpas inventadas por adultos detestáveis e frustrados que vivem sozinhos no porão da casa da mãe e passam os dias (ou noites) criando ficções como “Michelle Obama é homem” ou “astros de Hollywood consomem sangue de crianças para não envelhecerem”. Garotos caem nesses contos e o número de casos de violência contra meninas entre 12 e 16 tem crescido (Studies in Conflict & Terrorism, 2020).

Fora o tema, outros dois tópicos têm sido discutidos: as tomadas em plano sequência, que mostram a ação em tempo real, sem cortes, o que demanda uma logística complicada dos realizadores; e a forma isolada como cada um dos quatro episódios exploram aspectos do crime sem precisarem necessariamente serem vistos em ordem. Além de professores e estudantes, a série apresenta os pais, uma psicóloga (Erin Doherty – acima) e o resto da sociedade que rodeia aquela família, com cada episódio se aprofundando em uns deles.

Quanto aos pais de Jamie (acima), é interessante ver que Graham, um dos criadores e roteiristas da atração, pega para si o papel de pai. Uma pergunta que parece surgir rapidamente quando um crime dessa natureza acontece é: “quem são os pais desse menino?”. Se, por um lado, foram omissos na rotina do filho, por outro eles podem ser vistos como pessoas absolutamente normais, trabalhadoras, que poderiam ser seus vizinhos. Ou você. Não orientaram ou acompanharam de perto o garoto e alegam que estavam muito ocupados, cuidando do sustento deles. Mais corriqueiro, impossível!

As mudanças de humor de Jaime que observamos ao longo dessas quatro horas mostram o quanto o novato Owen Cooper foi uma escolha acertada, e deve ter um futuro brilhante. As atuações são o grande diferencial de Adolescência. O tom de mistério alimentado ao longo da série, no entanto, incomoda. Se, por um lado, é natural que aconteça na cabeça dos envolvidos, para o público parece uma tentativa pueril de criar suspense e engajar. Fora esse incômodo, a obra atinge os pontos a que se propõe e deve ganhar várias estatuetas na próxima temporada de premiações.

Foto de bastidores divulgada pela Netflix

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Robbie Williams conta sua história peluda e crua

Em meio a tantas cinebiografias saindo todos os meses, os responsáveis precisam pensar em algo que a faça se destacar. No caso de Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown, 2024), a saída foi focar num período curto da vida de Bob Dylan para poder se aprofundar mais que o usual. Já em Rocketman (2019), a viagem foi sem amarras, criando passagens criativas e fora da realidade para ilustrar o estado de espírito de Elton John. Para Better Man: A História de Robbie Williams (2024), o próprio cantor retratado teve uma ideia aparentemente muito descolada: ser mostrado como um macaco!

A metáfora pode ter vários significados, e Williams contou alguns deles em entrevistas no lançamento da obra: ele se vê como alguém sempre em formação, pronto a evoluir; era tratado pela mídia como um bicho curioso; se via em um circo, como uma atração; e por aí vai. O filme não escolhe uma definição, deixando essa responsabilidade para o público. A verdade é que o macaco chama muita atenção para si, passando a funcionar como distração. O que não era necessário, já que o longa conta uma história de fato interessante. A história de Robbie Williams.

Ele já foi visto como bad boy, rebelde, e muitos sabem que ele saiu da boy band que o lançou, Take That. O que está por trás dessa imagem e dessa saída é o que o filme se propõe a contar, começando na infância do cantor e escancarando todas as inseguranças dele. Se a avó era uma boa alma que o encorajava, o mesmo não pode ser dito do pai. E do empresário da banda. E até do colega de banda, que ganha destaque, já que Gary Barlow tinha mais voz ativa e se sobressai aos outros. E a imagem passada desses três é surpreendentemente crua e negativa, fica a impressão de que processos vêm aí.

Pela forma sincera como retrata Williams e principalmente os três mencionados acima, que podem até ser chamados de vilões do filme, pode-se dizer que o roteiro é corajoso. O diretor e roteirista Michael Gracey tem experiência com personagens falhos, inclusive fazendo musicais com eles – exatamente como ele fez em O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017), mas de forma menos exuberante. Better Man é recheado de músicas, de autoria de Williams ou que ele tenha gravado, sem dar importância a Barlow e aos demais colegas de Take That. As músicas foram regravadas para o filme, reforçando o sentimento da cena em questão.

A insistência na relação com o pai, ainda que honesta, pode cansar, mas de forma geral a sessão de Better Man é bem satisfatória. Jonno Davies (de Hunters) interpreta Williams, além do próprio Williams, que narra a história, mas o ator é substituído pelo tal macaco, com movimentos bem realistas. Não à toa o filme foi indicado ao Oscar de Efeitos Visuais. Ficou de fora de Melhor Canção porque a única original, Forbidden Road, não era tão original assim. Mesmo não sendo fã do cantor e sem conhecer as músicas, dá para aproveitar a jornada com ele.

O cantor promoveu o lançamento do longa com menos pelos

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Michael Keaton faz dose dupla de pais ausentes

No dia 27 de março, chega aos cinemas O Pai do Ano (Goodrich, 2024), comédia dramática com Michael Keaton no papel de um sujeito forçado a exercer uma função que é quase novidade para ele: ser pai. A filha adulta, grávida pela primeira vez, guarda ressentimento de não ter tido o pai por perto ao crescer, e os filhos mais jovens pela primeira vez não têm a mãe para contar, já que ela se internou. Cabe a Keaton, ou Andy Goodrich, cuidar dos gêmeos e resolver as coisas com Grace.

O engraçado é que, pouco antes do lançamento desse Goodrich (extremamente atrasado), Keaton esteve nos cinemas em Pacto de Redenção (Knox Goes Away, 2023), como John Knox, assassino experiente que começa a ter sintomas de demência e precisa correr para sua última missão: fazer as pazes com o filho distante. Além dos dois filmes terem o nome do personagem no título, eles têm em comum essa questão com a figura paterna.

Pacto de Redenção é apenas o segundo filme com Keaton na direção, após o longínquo e pouco assistido Má Companhia (The Merry Gentleman, 2008). Para garantir que as coisas dessem certo, ele chamou ninguém menos que Al Pacino para um papel menor, mas importante, e colocou o facilmente reconhecível James Marsden (o Ciclope dos X-Men) como seu filho. Knox começa a dar sinais de demência, e isso o faz estragar um serviço, ao mesmo tempo em que o filho o procura, depois de anos, pedindo ajuda. Essa é a oportunidade perfeita de tentar ajustar as coisas entre eles. Só que terá que ser rápido, já que a doença avança a passos largos.

O Pai do Ano, título infeliz da comédia que chega no fim do mês, é a forma mais errada possível de descrever Andy Goodrich. Ausente na criação da filha mais velha (Mila Kunis), que o tolera e tenta não deixar a mágoa dominar, é a ela que ele apela quando a atual esposa se inscreve num programa de desintoxicação e some. Ele precisa de ajuda para cuidar dos gêmeos, que estão indo para o mesmo caminho que Grace, já que o pai só se preocupa com sua galeria de arte. Quem rouba um pouco os holofotes é o pai do coleguinha das crianças, vivido por Michael Urie – mais conhecido como o hilário Brian de Shrinking, fazendo aqui praticamente o mesmo papel.

Apesar de muito diferentes em suas tramas e propósitos, os dois filmes têm resultados muito próximos. Nada muito excitante, inventivo ou inovador. Clichês não faltam, alguns exageros também. No entanto, Keaton e seus colegas em cena emprestam simpatia suficiente aos personagens para cativar o público, que torce por eles até quando fazem algo errado.

Caso você esteja se perguntando se Keaton teria escolhido dois projetos sobre pais distantes por ser uma situação vivida por ele, a resposta é um sonoro não! O músico e compositor Sean Douglas tem um ótimo relacionamento com o pai, de quem pegou o sobrenome verdadeiro como nome artístico. E deu a ele um casal de netos. Em 2015, ao ganhar um Globo de Ouro como Melhor Ator por Birdman (2014), Keaton agradeceu o filho, o encheu de elogios e o chamou de seu melhor amigo.

Michael e Sean Douglas, pai e filho

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Conheça a carreira do talentoso Ripley no Cinema

Mantendo o suspense do lado de cá das câmeras, executivos da Netflix não dão uma posição definitiva sobre uma possível continuação de Ripley, ótima série lançada em 2024. Por mais que os envolvidos já tenham sinalizado o desejo de voltar a este universo, a gigante do streaming diz estar analisando o retorno financeiro para avaliar um sinal verde para a produção de uma segunda temporada.

Tendo estreado em abril do ano passado, a série é dividida em oito episódios e foi anunciada como uma obra fechada, finalizada ali mesmo. Desde então, no entanto, o criador, diretor e roteirista Steve Zaillian disse em entrevistas que estaria aberto a continuar a história, e o mesmo fez Andrew Scott, intérprete do protagonista. Scott só gostaria de ter um bom intervalo, já que considerou pesada a experiência de viver Tom Ripley, um personagem muito intenso, segundo o ator.

Na televisão, Scott é o primeiro a enfrentar a tarefa de dar carne e osso à criação de Patricia Highsmith (abaixo). Ripley já havia aparecido no Cinema, Teatro e rádio, mas surgiu em um livro. The Talented Mr. Ripley, publicado em 1955, chegou ao Brasil como O Talentoso Ripley e apresentou Tom Ripley, um vigarista que detesta assassinatos e só os comete se for realmente necessário. Sociopata de muita erudição e modos, Ripley aceita um pedido de um rico construtor de navios, o Sr. Greenleaf, que o toma por amigo de seu filho. A missão de Ripley é ir para a Itália atrás do jovem Dick Greenleaf, que está aproveitando a vida na costa e gastando o dinheiro do pai.

Assim começa a carreira de crimes de Tom Ripley, protagonista de um total de cinco livros, sendo o último de 1991. São eles: O Talentoso Ripley (1995), Ripley Subterrâneo (1970), O Jogo de Ripley (1974), O Garoto que Seguiu Ripley (1980) e Ripley Debaixo D’Água (1991). Highsmith escreveu um total de 22 livros, e volta e meia voltava a sua série mais famosa. Em 1960, ele foi descoberto pelo Cinema, ganhando sua primeira adaptação. Plein Soleil (Purple Noon em inglês) aqui virou O Sol por Testemunha, estrelado por um dos maiores atores franceses de todos os tempos: Alain Delon.

Confira abaixo as encarnações de Ripley no Cinema:

– O Sol por Testemunha (Plein Soleil, 1960):

René Clément, diretor bem estabelecido, comandou uma adaptação luxuosa, com alguns dos atores franceses mais requisitados da época, contando a história do primeiro livro. Highsmith comentou ter adorado Delon no papel, mas não gostou das alterações feitas principalmente no final, que ela considerou politicamente corretas e covardes. Ainda assim, é um policial de primeira qualidade.

– O Amigo Americano (Der amerikanische Freund, 1977):

Mais do que contar uma boa história e ter atuações marcantes, o longa do diretor alemão Wim Wenders cria uma atmosfera lenta, mas típica do cinema noir, envolvendo o espectador, e usa diálogos em inglês e alemão entre os diferentes personagens. Vivido por Dennis Hopper, Ripley tem uma vida tranquila em Hamburgo, participando de um rico esquema de quadros falsificados – o filme usa alguns elementos do livro anterior, Ripley Subterrâneo. Em um leilão, é apresentado a um emoldurador que o despreza por já ter ouvido coisas negativas a seu respeito. Por pura vingança, Ripley envolve o sujeito numa trama de assassinato e revira a vida dele. Highsmith disse não ter gostado do filme, mas meses depois ela o assistiu novamente e mudou radicalmente de opinião, mandando uma carta com elogios ao trabalho de Wenders.

– O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley, 1999)

Talvez a adaptação mais famosa, por ter nomes hollywoodianos que se tornaram marcantes, O Talentoso Ripley do saudoso Anthony Minghella não deixa nada a dever a seu antecessor. Contando a mesma história de O Sol Por Testemunha, o filme é mais fiel à fonte e é igualmente vistoso, passando por cenários fantásticos e investindo na tensão gerada pelas ações de Ripley. Matt Damon faz um ótimo trabalho como protagonista, aos 29 anos, mas com cara de mais novo, exatamente como o papel pede, e olhando para o Dickie de Jude Law com o brilho de um tigre que olha para sua presa. Há qualidades e pontos diferentes o suficiente para justificar que se assista às duas obras, mesmo que as tramas sejam similares.

– O Retorno do Talentoso Ripley (Ripley’s Game, 2002)

Ter John Malkovich na pele de Ripley já é razão suficiente para conferir o longa. Ele é de longe o maior chamariz desse Retorno do Talentoso Ripley, cujo título nacional claramente tenta se aproveitar do sucesso do longa de 1999. O livro de Highsmith já havia dado origem a O Amigo Americano, e aqui temos um filme bem diferente. Malkovich vai eficientemente do charmoso negociador de arte ao assassino frio e calculista, sendo provavelmente a melhor encarnação de Ripley no Cinema. A direção de Liliana Cavani é correta e discreta e dá ao longa um clima de anos 60, mesmo sendo atual.

– Ripley No Limite (Ripley Underground, 2005)

Baseado no segundo livro da série, o filme traz Barry Pepper como Ripley, uma encarnação menos inspirada, talvez porque o roteiro não ajude. Um jovem pintor em ascensão morre num acidente de carro e Ripley combina com as pessoas mais próximas de esconderem o corpo e continuarem vendendo novos quadros, falsificados por outro pintor. A trama tem muitas reviravoltas e consegue se manter minimamente interessante, mas o ritmo mais acelerado dá um ar de aventura bobinha, uma mesmice bem aquém do poderoso personagem de Highsmith. Ainda que genérico, não chega a ser ruim, é só esquecível.

Todos os intérpretes de Ripley

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