Bardo, de Iñarritu, navega entre real e fantasia em uma autobiografia

Em Hollywood, são cada vez mais presentes obras que tentam ser a biografia de seu autor, mesmo que de maneira não direta. Roma (2018), de Cuarón, Dor e Glória (2019), de Almodóvar, e o recente The Fabelmans (2022), de Spielberg, são alguns exemplos. Alejandro González Iñárritu parece seguir o mesmo caminho ao lançar a sua própria cinebiografia: Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (Bardo, Falsa Crónica de Unas Cuantas Verdades, 2022), disponível na Netflix.

O longa acompanha Silverio Gacho (Daniel Giménez Cacho, de Club de Cuervos), jornalista e documentarista mexicano que volta a sua terra natal após ser um sucesso, e querido, no vizinho do norte, Estados Unidos. A narrativa não é propriamente linear, contando a história em ao menos três âmbitos relacionais bem claros: a de Silverio com seu país, com sua família e consigo. O roteiro vai do fantástico ao real em questões de minutos, mostrando a reflexão de Silverio sobre sua obra e, por que não, sobre a própria realidade social do México.

Essas escolhas acabam gerando uma sequência caótica, minimamente pensada para que o espectador possa entender (ou não) as questões que perturbam o personagem principal. Uma delas é a perda de um filho logo no nascimento, que permanece presente ao longo de toda a vida de Silverio e sua esposa. Essa ausência parece também ser uma constante na relação com um dos filhos vivos, que conversa com o pai ora em inglês, ora em espanhol, confundindo ainda mais a própria identidade do documentarista.

As relações pessoais são fortemente representadas na obra, mas as sociais permanecem o tempo inteiro em tela. Seja com a população local, que tenta colocar Silverio num patamar de ídolo, que ele recusa, ou mesmo nas feridas abertas históricas mexicanas. Bardo não é algo que possa ser classificado como uma história simples, mas é facilmente reconhecido como uma autobiografia de um diretor que foi até recentemente um dos mais celebrados da indústria do cinema nos EUA, agraciado com cinco Oscars na última década.

Iñárritu volta ao Cinema após sete anos e mostra um lado um pouco mais obscuro e reflexivo de si próprio que, ao menos em impressões iniciais, não parece entender ainda seu lugar como um mexicano bem aceito em um país que põe muros na fronteira com a sua terra natal.

Iñárritu e seu Bardo foram bem recebidos no Festival de Veneza

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