Uma história de não ficção

Silvia Ribeiro

Nestes tempos estranhos que estamos vivendo, não perceber logo de cara, quando o amor nos atinge em cheio, pode representar uma dificuldade em admitir um amadorismo no meio romântico.

As vezes, por uma covardia do nosso cérebro querendo se desvencilhar desse sentimento, ou até mesmo, por uma incoerência do nosso coração que sempre esperou por isso.

Vai saber quem é o merecedor da medalha de ouro na modalidade, “incredulidade”, não é mesmo?

Com certeza, em algum momento da vida já paramos para pensar no amor de forma fatalista, com finais absolutos e uma sensação de dor cotidiana.

E dependendo da experiência que vivemos em torno de algum fato que mudou a trajetória da nossa história, idolatramos um desconforto emocional que nos leva à “evitação”. Seja boa, ou ruim.

Aceitar arriscar a nossa comodidade afetiva, é um laço que aperta o pescoço e provoca um tom excessivo de medo. É como se uma voz interna, fosse capaz de criar um embate entre a mente e o coração, ora nítida, ora confusa.

Uma companhia, supostamente burra, dando um empurrão nos nossos desejos de forma mórbida, com uma luz negra, quase gótica.

Até que, transitando pelas passarelas do destino encontramos uma reedição/rendição de nós mesmos.

E entre frestas entreabertas, vemos esse mal-estar desaparecendo sem um olhar crítico, e com uma dissociação de amor e dor reverberando mundo afora.

Um novo trecho da nossa vida é estampado com o intuito de flertar com os nossos lençóis e deixar memórias em nosso corpo.

Uma história de não ficção acontece dentro das nossas células.