Categories: Silvia Ribeiro

Amar, dói?

Eu adoraria dizer à mim mesma que amar não dói.

Mas, dói.

Dói fisicamente, emocionalmente e espiritualmente.

Dói, por quê?

Dói, pela bestialidade da saudade, pela impiedade de não ser protagonista, pelo desespero da indiferença e pela materialidade de um coração que se mantém em vigília.

E sobretudo, pela solidão fantasmagórica que não guarda distância durante a noite e recomeça no dia seguinte.

É como se uma sonoridade em tom de tristeza circulasse por corredores estreitos, e mantivesse as portas trancadas. Uma agonia que deixa qualquer claustrofóbico em alerta.

Amar, é só isso?

Definitivamente, não.

É também.

Guardar segredos de alcova, conhecer tudo sobre o céu (da boca), ter um olhar contemplativo para os fetiches e projetar todos os sentidos que quiserem mostrar as suas facetas.

Parar o carro na estrada para saciar os desejos, se vê pela luz de espevitadas carícias e transformar um simples olhar de cobiça numa aventura.

Receber o corpo do “outro” com tapete vermelho, re(criar) deliciosas preliminares, tornar todos os cômodos da casa propício para uma tocante transa e ampliar a voz dos orgasmos.

Instintivamente esquecer a lingerie na gaveta, elaborar de véspera pensamentos pecaminosos, se espiritualizar com gotas de suor que avança cegamente por ombros, coxas e colo.

Amar.

Estar dentro de si, e do outro.

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