A moça jovem, bonita, vestida com elegância esportiva e usando um celular de modelo recém-lançado, regateia o preço, vinte reais, por um saco, do tipo redinha, com vinte mexericas ponkan. Estavam realmente lindas as frutas, dispostas ao colo do cadeirante que se esgueira lépido entre os carros parados diante do sinal fechado. Sua habilidade não causava preocupação àquela motorista do BMW branco cujas partes niqueladas brilhavam sob o escaldante sol de Brasília.
As mãos calejadas pelas rodas, a pele maltratada pela atmosfera seca e quente, não davam nota da juventude daquele PcD, vendedor de frutas. Nem a sua expressão sorridente fazia intuir seu cansaço e as adversidades que enfrentava no seu labor diário.
A negociação prosseguia, mas não poderia demorar, pois o tempo do semáforo não permitia divagações demoradas. A cada ciclo, apenas uma pessoa entre dez abordadas, em média, abria o vidro do carro ou respondia à oferta das belas e deliciosas cítricas. A maioria nem sequer olhava para o vendedor. E quando se estabelecia o contato, menos da metade concluía a compra. Por isso, a necessidade de ele dar atenção para tentar fechar o negócio. Mas, naquele caso, um desconto solicitado, de vinte e cinco por cento: de vinte para quinze reais, não valeria a pena.
O curioso dessa situação é que alguém para quem cinco reais eram quase nada estava tentando valorizá-lo frente a uma pessoa para quem valia muito. Me pareceu um contrassenso, pois como diz a máxima: “Nunca atribua à malícia o que pode ser explicado pela ignorância. Algumas pessoas são muito mais estúpidas do que más.”
No mundo PcD, muitas atitudes são tomadas por leigos com bom coração, porém sem o devido conhecimento quanto às especificidades inerentes à condição do “assistido”. Por exemplo, no intuito de me prestar um favor, um cuidado, houve quem procurasse me proteger de uma queda, segurando-me pelos braços. Tal decisão sempre provoca um dano maior, pois meus braços são a minha proteção desde sempre. Desta forma, segurá-los me expõe ao risco de queda mais grave. Mas, como se poderia saber disso sem prévio registro ou experiência? Em que momento o erro foi tratado como referência para o aprendizado?
Mesmo para pessoas do convívio frequente, é difícil agir corretamente em razão da reação automática frente a situações gerais que, no entanto, não se aplicam a mim.
O paralelo que aqui se constrói entre uma “negociação” irrazoável e uma decisão sem o devido conhecimento é que ambas, apesar do resultado negativo em comum, partem de posições distintas no que tange ao propósito: a primeira, pela ignorância travestida de malícia; e a segunda, pela bondade assessorada pela ignorância. As pessoas que se valem do conhecimento para a tomada assertiva de suas decisões demonstram mais empatia e habilidades no trato com as diferenças; evitam equívocos e demonstram sensibilidade e coesão em suas atitudes. O tratamento dispensado ao vendedor ambulante ou ao da loja de grife deveria ser o mesmo. Proteger uma PcD não pode ser com as mesmas atitudes relativas às outras pessoas.
O homem está em baixa. Nunca vi tantas notícias sobre homens fazendo atrocidades. Não bastassem…
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Um jovem adolescente, ao assumir o papel de responsável naquele barraco de sua família, já que o pai, ao falecer, tinha deixado esta Missão ao filho mais velho e como incumbência teria a profissão de vender na feira livre aos sábados, os frutos de um árduo trabalho de cultivar hortaliças em um terreno próximo as torres de energia elétrica na qual aquele espaço a empresa havia cedido. Ele gritava em um canto meio escondido daquela feira livre o produto que estava vendendo e claro sempre atento para não passar nenhum fiscal e tomar o seu produto já que ele não pagava nenhum tributo para trabalhar ali entre tantas bancas. Bem, assim como o Senhor que vendia suas laranjas no farol, o adolescente também vendia suas hortaliças, e ambos tinham como Missão amenizar um pouco os recursos financeiros para a sobrevivência deles e de seus familiares o que não era nada fácil ganhar e ajuntar dinheiro nesse trabalho tão simples e que carecia de olhares benignos para ajuda-los.