Carlos Drummond, o poeta de Itabira — não apenas um nome na literatura, mas um sopro que atravessa gerações. Lá, na sua cidade natal, histórias sussurram pelas pedras das ruas, pelas casas antigas que resistem. Foi assim, ao percorrer os Caminhos Drummondianos, que cheguei ao ponto 14: O Casarão. Ali viveu Drummond. Ali tudo começa. Eis então…
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou…
Esses versos ecoavam como um vento morno no peito, logo após a festa de 15 anos da minha filha. Um rito de passagem. Um marco para ela — e para mim, mãe que vê os filhos partirem aos poucos, rumo a destinos próprios. Drummond me olhava por dentro. Seu “José” me interpelava. E agora, você? O que se faz quando algo finda? Quando já não cabe o mesmo passo, e o próximo ainda hesita?
Mas afinal… quem é José?
Terá sido um outro? Ou terá sido ele mesmo — Drummond em desdobramento?
Descubro que sim, havia um irmão, chamado José. Esse se apaixonara por Lili, prima encantada. Pediu-a em casamento, alianças seladas. Mas José era sombra de si: queria esconder a noiva do mundo, grades à frente da casa, para que ninguém a visse. Lili, temendo o ciúme, fugiu. E o que restou? Um homem quebrado. Sem mulher. Sem discurso. Sem carinho.
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho…
E o dia não veio.
José naufraga no real. E deseja sair, fugir, dissolver-se…
Mas o mar secou. Minas não há mais. Nem porta, nem morte, nem fuga.
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta…
José, e agora?
E Drummond não abandona José — aponta-lhe um rumo, mesmo que escuro:
Você marcha, José!
José, para onde?
Marcha-se. Mesmo no escuro. Mesmo sem cavalo preto, sem parede nua, sem Deus ou mapa. Marcha-se como bicho-do-mato, porque viver é isso: enfrentar o vazio, encarar a travessia.
Na genialidade do poeta, o irmão tornou-se espelho. José é Drummond. É você. Sou eu. Somos nós, nos momentos em que tudo parece cessar, e uma pergunta se impõe, cravada no peito:
Para onde?
—
Nota:
A história de José — o real e o poético — pode ser lida em detalhes no livro Caminhos Drummondianos, de Dadá Lage Lacerda, Ricardo Shitsuka e Dorlivete Moreira Shitsuka.
O homem está em baixa. Nunca vi tantas notícias sobre homens fazendo atrocidades. Não bastassem…
Sandra Belchiolina Quarta-feira, manhã, quase tarde, minha crônica já deveria estar pronta para ser publicada…
Daniela Piroli Cabral contato@danielapiroli.com.br Na última segunda-feira, dia 13, eu fiz aniversário. Comemorei assoprando uma…
Se tem algo que a mim encanta é viver e conviver com pessoas que me…
De volta aos meus... A imagem de quem fui, acesa e tão cheia de pigmentos…
Você, caro leitor, também se sente um tanto desconfortável, aos moldes do que nos traz…
View Comments
E agora, poeta?
Agora, poeta.
Para onde?
O mar não se esconde.
E você, poeta,
sabe o mar que te cabe.
É lindo esse ir-se junto com o mundo Drumondiano, um mundo de poesia como uma cachoeira que queda sem fim.